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"O SENHOR DOS ANÉIS - A SOCIEDADE DO ANEL"
"Eu acredito em duendes" é chave para razão do filme
Divulgação
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Elijah Wood, que interpreta Frodo em "O Senhor dos Anéis" |
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se existe um trailer honesto
neste mundo, é o de "O Senhor dos Anéis". Tudo ali corresponde ao que acontece no filme:
uma aventura em época imemorial (ou mítica, de todo modo fora
do tempo), luta encarniçada e
sem nuanças entre bem e mal, a
predominância da magia, efeitos
especiais a dar com o pau (artificiais, como de costume).
O filme inaugura uma trilogia
que adapta o best-seller de J.R.R.
Tolkien e gira em torno do jovem
hobbit Frodo Bolseiro, cuja missão é destruir um anel que move
as forças da escuridão.
Mais vale renunciar logo de cara
a saber o que é um hobbit, ou o
que venha a ser a Terra-média em
que se desenvolvem os acontecimentos. Assim como a trama se
dá em tempo nenhum, também o
lugar é lugar nenhum.
No mais, os hobbits estarão às
voltas com entidades obscuras,
como elfos (da mitologia escandinava) ou duendes, cuja característica essencial é fazer a glória dos
maquiadores e habitar lugares
que fazem a glória dos cenógrafos. Não faltam, é claro, os mágicos do bem e os do mal, envolvidos em duelos que talvez justifiquem a tentativa dos publicitários
de atribuir ao filme o epíteto de
"épico" (palavra que é um excelente quebra-galho da indústria
do entretenimento).
Por que a magia está em alta
nesse ramo é uma pergunta cabível, com resposta quase impossível. Talvez seja o "pendant" industrial de uma frase estampada,
com frequência, há algum tempo,
no vidro traseiro dos carros: "Eu
acredito em duendes" (substituída, nos últimos tempos, por outra, não menos misteriosa: "Eu já
fui assaltado").
"A Sociedade do Anel" é, evidentemente, um filme para esse
mercado. A acumulação de dados
e elementos implausíveis dá o
tom. Desde o início, pede-se ao
espectador que se abra incondicionalmente à credulidade, quando se explica o inexplicável: a criação e outorga dos anéis que movem a história e, em particular,
deste que é o centro do filme: o
anel do mal, capaz de enfeitiçar
até os bons, mas cujo destino é
reencontrar e servir ao mal e dar-lhe o poder de dominar tudo.
Para um filme como esse, existem duas possibilidades: ou o uso
adequado e tenso da imaginação
ou sua inflação. Como o filme dirigido por Peter Jackson dedica-se a inflacionar a imaginação de
forma desmesurada, é óbvio que
o espectador tende ao sono profundo, enquanto na tela processa-se a overdose de magia. Nada parece ter relevo, nada emociona em
particular.
O mérito maior desta "Sociedade" acaba sendo o de relevar as
virtudes de um "Harry Potter",
que também se vale da magia (e
dos efeitos), mas tem o mérito de
descrever não situações excepcionais, mas a vida cotidiana em uma
escola para jovens magos. Que
não é muito diferente, no mais, de
uma escola britânica (ou não),
com seus mestres, disciplina, amizades e rivalidades etc. "A Sociedade do Anel", ao contrário, opta
pela banalização do extraordinário. Este reage e, de imediato, passa a ser ordinário, ou seja, apenas
uma convenção que reduz o filme
a uma carona no best-seller literário. Que dizer? Bons lucros!
O Senhor dos Anéis - A
Sociedade do Anel
Lord of the Rings - The Fellowship of the
Ring
Direção: Peter Jackson
Produção: Nova Zelândia/EUA, 2001
Com: Elijah Wood, Liv Tyler, Cate
Blanchett
Onde: em cartaz nos cines Butantã 2,
Gemini 2 e circuito
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