|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O Acre de R$ 20 milhões
Glória Perez contará a história de seu Estado na superprodução "Amazônia", que estréia hoje, e deve transformar Lula em personagem
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nasce gente lá?" A novelista
Glória Perez, 58, finalmente vai
responder em horário nobre da
Globo à piada que se cansou de
ouvir quando dizia ser acreana.
A partir de hoje, às 21h55, ela
conta a história de seu Estado
natal em "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", uma das
minisséries mais caras já produzidas na televisão brasileira.
Natural da capital Rio Branco, Perez mudou-se com a família do Acre para o Rio, onde
se formou em história e passou
a ser autora de TV.
"Cheguei e me dei conta de
que ninguém sabia nada de nós,
acreanos, de nossa vida, nossa
luta para nos integrar ao Brasil.
O Acre era sempre motivo de
piada. "Nasce gente lá?". Todo
acreano escutava isso. Desde
então, eu quis contar essa história", diz a escritora à Folha.
Após o sucesso de audiência
de outras séries históricas, como "Um Só Coração" e "JK", a
Globo deu "ok" ao projeto de
Perez. Serão retratados cem
anos da epopéia do Acre, desde
as guerras entre bolivianos e
brasileiros pela posse da região,
no início do século passado, até
o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em 1988.
Superprodução
Em meio à expansão da Record na teledramaturgia, a Globo decidiu dar ares de superprodução à "Amazônia".
Cada um dos 48 capítulos
tem um orçamento de no mínimo R$ 400 mil (o dobro de um
episódio de novela), o que eleva
o custo da produção a algo em
torno de R$ 20 milhões.
E não faltam números "amazônicos" para impressionar:
1) Metade do elenco da Globo foi mobilizada para a gravação, o que significa cerca de
200 atores e atrizes;
2) Mais de 150 profissionais
do canal passaram 72 dias em
gravações no Acre e Amazonas;
3) Perto de 20 toneladas de
equipamentos foram utilizadas, e em torno de 16 mil peças
de figurino, confeccionadas;
4) Em um mês, duas cidades
cenográficas foram levantadas
no Acre por 270 profissionais
contratados em uma área de
dois mil metros quadrados;
5) Aproximadamente 600
acreanos fizeram figuração nos
seringais e nos Exércitos do
Brasil e da Bolívia.
A construção do "Projacre"
contou com o apoio do então
governador do Estado, Jorge
Viana (PT), e o incentivo da ministra acreana e também petista Marina Silva (Meio Ambiente). À Folha, Perez não deixou
claro de que forma eles colaboraram. "O governador nos deu
o suporte que os governos costumam dar a esse tipo de produção. Tanto ele como a ministra participam do entusiasmo
de todos os acreanos pela minissérie. Estão todos mobilizados. Recebo documentos antigos, fotografias, relatos", diz.
Apesar de "Amazônia" começar em 1899 e chegar à década de 1980, Viana e Silva não
serão retratados. Mas Perez
tem planos de colocar na história o companheiro-mor dos petistas, Luiz Inácio Lula da Silva.
"O presidente Lula é personagem de um momento muito
marcante na vida de Chico
Mendes: foi em conseqüência
de um discurso que fez quando
mataram o [sindicalista] Wilson Pinheiro [1980] que Chico
acabou preso. Ainda não comecei a escrever essa parte da história, portanto, é cedo para dizer se o episódio será mostrado", despista a escritora.
Ficção e realidade
A exemplo das outras minisséries históricas da Globo,
"Amazônia" mistura fatos reais
com ficção. A segunda das três
fases que compõem a obra é
ambientada na década de 1940
e será quase inteiramente composta por personagens fictícios.
Essa parte é baseada em dois
romances de autores acreanos,
"Terra Caída", de José Potyguara, e "O Seringal", de Miguel
Ferrante, pai de Perez. "Mas
também aparecerão personagens reais que ficaram na memória popular", diz a novelista.
Entre eles, estão o padre José
(Antônio Calloni), que auxiliava os moradores com conselhos
e remédios, o poeta Juvenal
Antunes (Diogo Vilela) e Chico
Mendes quando criança.
Quem já viu novela da autora
("O Clone", "América") sabe
que ela certamente vai abusar
da ficção. Seu estilo mirabolante deverá vir à tona sobretudo
quando a série explorar as lendas amazônicas. Ou tem algo
mais "Glória Perez" do que um
boto que se transforma em um
lindo rapaz e beija a mocinha à
beira do rio? Giovanna Antonelli foi brindada com a personagem Delzuite, que nadará com
o boto e, depois de engravidar,
dirá que o filho é dele.
Ela é filha de Bastião (Jackson Antunes), que fugiu com a
família da seca nordestina para
trabalhar em seringais do Acre.
Ele acaba nas mãos do Coronel
Firmino (José de Abreu), dono
de um seringal que desenvolve
com empregados um sistema
quase escravocrata. São personagens inventados, mas em situações enfrentadas na realidade acreana. Já aqueles que existiram de verdade ganharão, na
caneta de Glória Perez, vidas
para lá de folhetinescas.
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Frases Índice
|