São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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Crítica/DVD/"Exótica"

"Exótica" descortina o desejo reprimido

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Como fez mais tarde em "O Doce Amanhã" (1997) e "O Fio da Inocência" (1999), entre outros filmes de construção sinuosa e sedutora, o egípcio-canadense de origem armênia Atom Egoyan trata o passado como um labirinto do qual não se consegue sair jamais em "Exótica" (1994), que lhe valeu o prêmio da crítica no Festival de Cannes, na França.
Em sua engenhosa estratégia narrativa, interessa menos a história do que a maneira de descortiná-la, ou mesmo de chegar até ela. A teia reúne diversos personagens, mas as conexões entre eles vão se revelando aos poucos, em diálogos ambíguos e flashbacks que omitem informações na mesma medida em que as fornecem.

Ninguém sabe das coisas
Aqui, o desconforto se concentra, com atmosfera de erotismo chique, na casa noturna do título, em Toronto. Sua proprietária (Arsinée Khanjian, mulher de Egoyan), grávida, tem um passado com o DJ (Elias Koteas) e um presente com uma das moças que dançam ali (Mia Kirshner), especializada em encarnar a colegial em striptease ao som de "Everybody Knows", de Leonard Cohen. Diferentemente do que diz a canção, ninguém parece saber das coisas. O que faz ali, todas as noites, um auditor da receita (Bruce Greenwood) vidrado na colegial?
E por que o dono de uma loja de animais exóticos (Don McKellar) investigado por ele parece sempre tão temeroso, não só diante da lei, mas também de sua própria sexualidade?

Alguma esperança
O que dizer, então, de uma baby-sitter (Sarah Polley) sem criança para tomar conta? As peças parecem conduzir a um universo pautado apenas pelo desejo sexual, sobretudo o reprimido, mas perdas e lágrimas entram em cena para redimensionar a natureza psicológica dos personagens e o que fazem, de fato, uns aos outros - e, mais relevante, uns pelos outros.
Nessa cadeia de sentimentos afinal estabelecida, resta alguma esperança em meio a tanta dor. Apesar da riqueza de matéria-prima, boa oportunidade para trazer entrevistas, análises e material de apoio, o DVD sai com extras apenas simbólicos, digamos: biografia sumária (com diversos erros de revisão) e filmografia de Egoyan.


EXÓTICA
Direção:
Atom Egoyan
Com: Arsinée Khanjian, Elias Koteas, Mia Kirshner, Bruce Greenwood, Don McKellar e Sarah Polley
Distribuidora: Lume Produções Cinematográficas
Quanto: R$ 37,50
Avaliação: ótimo


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