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Crítica/DVD/"Exótica"
"Exótica" descortina o desejo reprimido
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Como fez mais tarde em
"O Doce Amanhã"
(1997) e "O Fio da Inocência" (1999), entre outros filmes de construção sinuosa e
sedutora, o egípcio-canadense
de origem armênia Atom Egoyan trata o passado como um
labirinto do qual não se consegue sair jamais em "Exótica"
(1994), que lhe valeu o prêmio
da crítica no Festival de Cannes, na França.
Em sua engenhosa estratégia
narrativa, interessa menos a
história do que a maneira de
descortiná-la, ou mesmo de
chegar até ela. A teia reúne diversos personagens, mas as conexões entre eles vão se revelando aos poucos, em diálogos
ambíguos e flashbacks que
omitem informações na mesma medida em que as fornecem.
Ninguém sabe das coisas
Aqui, o desconforto se concentra, com atmosfera de erotismo chique, na casa noturna
do título, em Toronto. Sua proprietária (Arsinée Khanjian,
mulher de Egoyan), grávida,
tem um passado com o DJ
(Elias Koteas) e um presente
com uma das moças que dançam ali (Mia Kirshner), especializada em encarnar a colegial em striptease ao som de "Everybody Knows", de Leonard Cohen.
Diferentemente do que diz a
canção, ninguém parece saber
das coisas. O que faz ali, todas
as noites, um auditor da receita
(Bruce Greenwood) vidrado na
colegial?
E por que o dono de uma loja
de animais exóticos (Don
McKellar) investigado por ele
parece sempre tão temeroso,
não só diante da lei, mas também de sua própria sexualidade?
Alguma esperança
O que dizer, então, de uma
baby-sitter (Sarah Polley) sem
criança para tomar conta? As
peças parecem conduzir a um
universo pautado apenas pelo
desejo sexual, sobretudo o reprimido, mas perdas e lágrimas
entram em cena para redimensionar a natureza psicológica
dos personagens e o que fazem,
de fato, uns aos outros - e, mais
relevante, uns pelos outros.
Nessa cadeia de sentimentos
afinal estabelecida, resta alguma esperança em meio a tanta
dor. Apesar da riqueza de matéria-prima, boa oportunidade
para trazer entrevistas, análises e material de apoio, o DVD
sai com extras apenas simbólicos, digamos: biografia sumária
(com diversos erros de revisão)
e filmografia de Egoyan.
EXÓTICA
Direção: Atom Egoyan
Com: Arsinée Khanjian, Elias Koteas,
Mia Kirshner, Bruce Greenwood, Don
McKellar e Sarah Polley
Distribuidora: Lume Produções Cinematográficas
Quanto: R$ 37,50
Avaliação: ótimo
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