Canal Futura lança "Um Pé de Quê?" e "Passagem para...", que foge de estereótipos e investe em personagens reais

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Regina Casé tira graça até de pedra. Avessa ao estúdio, a apresentadora/comediante/atriz gosta mesmo é de bater perna. E é nesse mundão afora que ela se dá bem. Nem que seja para falar de mangaba, baobá ou pitanga, como se vê neste DVD que chega agora às lojas.
Seu "Um Pé de Quê?" gera bons frutos ao conciliar conhecimento -sem ar professoral-, com bom humor e curiosidades em fartura. A coletânea traz três episódios do programa, exibido pelo canal Futura.
As árvores de Casé estão apinhadas de histórias. Mas elas não estão sozinhas. "Globo Ciência", "Globo Ecologia" e "Passagem para..." também ganharam versões em disco. Vai aqui um registro: nesta safra, ela é dona da melhor colheita.
Toda trabalhada num vestidão corrido até a canela, misto de santa mexicana com índia amazonense, ela percorre das savanas africanas de Moçambique às restingas do Nordeste. Mistura imagens in loco e de arquivo com depoimentos e dados científicos para narrar as andanças, nas quais as árvores são as protagonistas.
De origem africana, o baobá, por exemplo, é uma espécie pela qual giram rituais e cerimônias. Existem exemplares que vivem 2.000 anos. Ela chega a alcançar 25 m de diâmetro e 30 m de altura. Na África, serve de cisterna para armazenar água nas regiões áridas, além de ser usada como remédio caseiro.
Num trecho deste "Um Pé de Quê?", descobre-se uma serventia, digamos, inusitada: o banho de galhos da árvore serve para aumentar o tamanho do pênis. No Brasil, um dos raros exemplares pode ser encontrado em Natal (RN).

Viagem a Darjeeling
No programa "Passagem para...", o jornalista e apresentador Luís Nachbin percorre destinos como Cartagena (Colômbia), Darjeeling (Índia), Ushuaia (Argentina) e o deserto do Atacama (Chile).
Em tom intimista, sua câmera capta, além de belas imagens, depoimentos de personagens nativos para contar a história dos lugares visitados. Parte do realismo fantástico, gênero literário consagrado pelo filho mais ilustre, Gabriel García Márquez, para narrar hábitos cotidianos e costumes do povo de Cartagena.
Há quem defenda que Macondo, a cidade fictícia de "Cem Anos de Solidão", sua obra de maior sucesso, foi inspirada em Aracataca, onde Márquez passou parte de sua infância. Macondo era o nome de um bananal nos arredores da cidade. O programa foge daquela fórmula manjada de apresentar um destino turístico por meio de seus "top ten". A graça está em dar voz a "la gente", sempre com relatos curiosos. É, acima de tudo, uma série costurada por personagens.
"Passagem para..." perde um pouco o ritmo quando intercala imagens externas com entrevistas de estúdio, como ocorrem em Ushuaia, na Terra do Fogo, e em Darjeeling, na Índia. Fica uma dica: os finais guardam histórias engraçadas de pessoas interessantes que cruzaram a estrada de Nachbin.