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SÃO PAULO FASHION WEEK
Alexandre Herchcovitch desfila seres de
floresta surreal e faz história com inverno 2002
Enfim, o novo
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
Alexandre Herchcovitch
fez mais um desfile brilhante, memorável, um dos mais fortes de sua trajetória. Inverte a regra de seu jogo outra vez -o estilista gosta de se desafiar, estação
após estação- e consegue incríveis imagens de passarela. E o melhor: na loja, vão virar peças usáveis e quase sempre fáceis. O desfile, superconceitual, foi o mais
importante da quinta-feira na São
Paulo Fashion Week, o evento
que terminou ontem depois de
mostrar 25 coleções para o outono-inverno 2002.
Ao som de pianos de brinquedo, de barulhos de vento soprando, num cenário de compensado
cor-de-rosa, entram em cena seres lúdicos, numa atmosfera suave, ainda que levemente perversa.
As modelos têm o rosto marcado
por lápis (leia nesta página). A coleção é mais uma vez sobre volumes, desdobrados de modo criativo com sobreposições e tule sob
as roupas, e o primeiro segmento
apresenta o streetwear que é tão
caro ao estilista, com um ótimo
tênis-scarpin. O verde cítrico do
masculino aparece aqui também,
pontuando os looks, mas é na segunda parte que a cor se sobressai, no jeans jacquard que empresta o perfume decorativo à coleção. O plush marrom também
vira coletinho na modelo Emanuelle Furlan e, ainda no terreno
das ruas, o avental/saia de bolsos
canguru com t-shirt bicolor de
Isabelli Fontana é dessas peças
que desafiam o olhar. A inversão
de idéias da coleção aparece também na alfaiataria trabalhada com
moleton.
Com paixão por formas históricas, a coleção flerta com o estilo
vitoriano, nos fraques e casacos,
mas vai confundindo as imagens
do jeito que Herchcovitch mais
gosta. O couro preto aparece no
spencer de delicados botões e ainda tem solene versão em roxo, a
cor que aparece também no tie-dye, estamparia até então inédita
na trajetória do estilista.
Não é por menos que o look de
capa verde com estampa de floresta tropical e imagens escondidas de esqueleto é o favorito de
Herchcovitch. Ele é um momento
histórico para a moda brasileira.
Também com um olhar sobre o
passado, a marca Sommer, de
Marcelo Sommer, agrada com
uma continuação de seu verão.
Formas históricas (na coleção batizada "De Épocas") prosseguem
na mistura de um streetwear inteligente com um viés decorativo. O
melhor exemplo disso é o jeans
customizado com arabescos, com
aplicações e tinturas envelhecidas. A coleção inaugura a parceria
do estilista com a marca de brinquedos Estrela, lançando a primeira linha infantil da empresa,
resultado de uma negociação que
durou mais de dois anos.
Valeu a pena, e os modelos mirins emprestaram frescor ao delírio colorido do estilista, que tem
de fato no universo infantil uma
grande fonte de inspiração. No
meio da extravaganza visual de
Sommer estão peças usáveis no
dia-a-dia, que mantêm a leitura
fashion sempre com ironia e inteligência: os suéteres de lã com bolinhas vermelhas são hit do estilo
folk/camp que o estilista adora. É
"luxo rústico", como ele batiza.
Com um pouco do verde do verão, o inverno é rosa e vinho.
Também é tipo fofa a Triton. A
garota da marca deixa de lado a
sexualidade espevitada de outras
estações e vem mais meiga, acreditando no cor-de-rosa e suas variações. A inspiração também é
infantil/lolita, correndo atrás da
tendência -quase não dava mais
tempo. Falta um pouco de sutileza, tudo parece meio reprimido,
contido, mas é gostoso o flerte da
marca com o espírito brechó, nas
malhas, lãzinhas, pompons, laços
e blusinhas. E os casacos esportivos vão ser hit.
As brincadeiras de proporções
nas pantalonas com tops são contraponto aos comprimentos curtinhos.
Fause Haten faz progressos, numa coleção mais simples e, portanto, mais elegante, em preto-e-branco (os looks em laise são o
melhor). As megaflores do styling
lembram demais Viktor & Rolf,
mas o estilo é o de Haten. A concessão à cor vai no amarelo, no
bom conjunto com túnica, e nas
listras fluidas. É praticamente um
recomeço, e isso é bom.
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