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MÚSICA
Poeta, cantor e compositor, Paulo César Pinheiro lança disco e livro e diz que o samba passa por empobrecimento
Sozinho, letrista canta saudade da beleza
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Um disco de composições sem
parceiros. Um livro sem prefácio,
com orelha do próprio autor. Não
há dúvidas de que, neste momento da carreira, o poeta, cantor e
compositor Paulo César Pinheiro,
que faz 55 anos em abril, optou,
ou teve que optar, pela solidão.
"Quem eu queria que dissesse
alguma coisa no disco já morreu",
diz Pinheiro, referindo-se aos antigos parceiros Tom Jobim, Rafael
Rabello e João Nogueira, entre
outros a quem "O Lamento do
Samba" é dedicado. Célebre como letrista, Pinheiro soma oito
discos gravados, mas este é o primeiro sem parcerias. "Eu sempre
compus sozinho, mas na hora de
gravar eu esquecia das minhas
músicas. Comecei a ver que, entre
as músicas guardadas, havia um
disco", afirma.
O tom da solidão de "O Lamento do Samba", nostálgico e triste,
percorre cada uma das 12 faixas.
Amores ausentes, perdas, saudade amarga de tempos bons. Para
Pinheiro, era fundamental que o
disco fechasse um conceito. "Há
duas coisas que eu queria mostrar: primeiro, o samba na sua essência original, como canto de lamento e de resistência desde a escravidão; e que o samba está perdendo esse lamento. Ao se misturar com outros gêneros não tão ricos, ele se empobreceu melódica e
harmonicamente."
"Sinto falta de beleza. Hoje tudo
é feito muito nas coxas", afirma
Pinheiro, para quem qualquer refrãozinho de mesa de bar está se
tornando samba. "Desses eu faço
uns 15 por dia e jogo no lixo. Esse
pagode de bar que se ouve por aí é
ótimo, mas como brincadeira.
Sinto falta do tratamento bonito
que antes se dava à música."
Segundo o compositor, a modernidade no samba está ligada à
intimidade com a tradição canônica do samba. Uma intimidade
de que se ressentiriam alguns artistas que propõem revisitas ao
gênero, na opinião de Pinheiro,
como a banda Los Hermanos,
elogiada pela abordagem roqueira do ritmo. "Tenho o disco deles,
mas não gosto. Falta a eles conhecimento maior dessa tradição."
Se a amargura tinge a nostalgia
do disco, no quarto livro de sua
faceta poética, "Clave de Sal", a
saudade é mais alegre. Vem da infância e adolescência no litoral sul
fluminense, entre o Rio e Angra
dos Reis. Seus poemas marítimos
trazem lembranças da convivência com o avô, o pescador Jango,
recordações do impacto da obra
de Jorge Amado no compositor e
ensinamentos do mestre Dorival
Caymmi, que Pinheiro considera
"o próprio mar".
O LAMENTO DO SAMBA. Lançamento:
Quelé. Quanto: R$ 28.
CLAVE DE SAL. Editora: Gryphus.
Quanto: R$ 32 (192 págs.).
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