São Paulo, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2006

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ReMutantes

Arquivo Folha
Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, núcleo dos Mutantes



Remasterizados, nove CDs relançam em cena a banda que revolucionou o pop brasileiro

Pacote traz disco tropicalista (e raro) de Rogério Duprat, pela primeira vez em formato digital



THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Melhor banda roqueira brasileira em todos os tempos, os Mutantes voltam a ligar o noticiário pop. Sete (na verdade, oito) dos nove (dez...) discos do grupo paulistano ganham reedição em CD, e chegam às lojas do país amanhã.
"Os Mutantes" (1968), "Mutantes" (69), "A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (70), "Jardim Elétrico" (71) e "Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets" (72) tinham ganhado versão digital já em 1992. No mesmo ano, "A e o Z", feito em 1974, chegava ao formato. Todos eles reaparecem agora com nova masterização e com as capas digitalizadas -em qualidade bem superior à que apareceram na década passada.
No pacote da Universal, ainda estão "Tecnicolor", gravado pelo grupo em 1970, em Paris, e que ficou perdido até 2000; "Hoje É o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida" (72), creditado como de Rita Lee, mas, na realidade, álbum dos Mutantes; e "A Banda Tropicalista do Duprat" (68), do maestro Rogério Duprat, com participação dos Mutantes, que havia sido editado apenas em vinil.
Os CDs vão às lojas com o preço sugerido de R$ 25 e serão vendidos separadamente. Valorizados no exterior, os Mutantes também terão os discos lançados na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos, no mês que vem.
"Isso é um fato. Não é que é somos mais valorizados lá fora. É que lá se é valorizado por inteiro, pelo crítico, pelo radialista, pelo público. Aqui nunca tocamos nas rádios, nunca tivemos disco de ouro. E a imprensa nos crucificava de tudo quanto é jeito. Quando o Beck, o Kurt Cobain dizem que é bom, quando todos dizem que é bom, aí vira bom no Brasil", diz à Folha o guitarrista Sérgio Dias, hoje com 55 anos, que formou, em 1966, com o irmão Arnaldo Baptista e Rita Lee, o núcleo central dos Mutantes. Rita saiu em 1972, e Arnaldo, logo depois.
Esse pacote era para ter saído em 2001, mas ficou na geladeira por divergências entre a gravadora e os ex-membros do grupo. Dias diz estar contente com a iniciativa, mas condena algumas atitudes da Universal. "Eles deviam ter falado com a gente em relação à remasterização. É uma questão artística. Seria legal se tivéssemos tomado parte disso. A Universal às vezes trabalha muito individualmente." Além disso, o músico preferia que os discos fossem lançados em formato de caixa.
Sobre a remasterização, o diretor de marketing estratégico da gravadora, Ricardo Moreira, afirma que houve, na verdade, uma masterização. "Em 1992, fez-se apenas a transposição de formato: pegaram do analógico e colocaram no digital. Não tinha uma perda [na qualidade sonora] mas também não tinha um ganho. É a primeira vez que esses discos foram masterizados", diz. "Esses discos, hoje, são mais claros e mais altos do que os de 1992."
A masterização foi feita no Rio, por Luigi Hoffer. "Não chamamos a banda porque não mexemos na parte artística, os discos não foram remixados, por exemplo", diz Moreira, que sustenta o lançamento em separado dos CDs para dar "acesso ao consumidor".

Erro histórico
Sérgio Dias possui os CDs que ganharam luz nos anos 90. "Ouvi algumas coisas, não me pareceu muito diferente do que estava em vinil. A audição é um sentido elástico, né? Mas numa era em que as pessoas louvam MP3, não tem sentido ficar discutindo entre analógico e digital. MP3 é a pior coisa do mundo." Mas, para ele, "seria legal se lançassem em vinil também. Principalmente por causa das capas, que são valiosas".
Sobre a polêmica em torno de "Hoje é o Primeiro Dia...", o guitarrista lembra: "A razão de sair com o nome da Rita é que já tínhamos lançado um disco naquele ano. Nunca é, nem nunca foi, um disco apenas da Rita. São composições do grupo, tocadas pelo grupo. Acredito que foi um erro histórico nosso. A gravadora sempre quis separar a Rita da gente, como a tentativa do "Build Up" [primeiro disco-solo de Rita, de 1970]. Eu me recusei a tocar ali. Por que a Rita precisava fazer um disco-solo se ela tinha uma banda? Éramos Mutantes. Sou até hoje". E sobre uma possível reunião do grupo: "Tem muita gente querendo. Mas não tem nada de concreto. Quando tiver, aviso".


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