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Crítica/"O Último Rei da Escócia"
Exageros de Whitaker em longa agradam e afastam
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar do aviso inicial,
"inspirado em fatos
reais", a maior parte
dos eventos retratados em "O
Último Rei da Escócia" é ficção,
e o personagem principal, um
médico escocês, nunca existiu.
O espectador que conseguir ultrapassar esses dois não pequenos obstáculos verá 121 minutos de grande cinema.
É o segundo filme do diretor,
o escocês Kevin Macdonald,
que já tinha misturado fato e
ficção em seu docudrama de estréia, o excelente "Desafio Vertical" (Touching the Void), de
2003, em que entremeia depoimentos dos personagens reais e
participação de atores para recontar um acidente envolvendo dois alpinistas em Siula
Grande, nos Andes peruanos,
em 1985. Está disponível em
DVD e vale o aluguel.
Baseado em romance de
mesmo nome, de Giles Foden,
"O Último Rei da Escócia" usa a
história de um personagem fictício como fio condutor para retratar a Uganda durante a tomada de poder e o começo da
ditadura de Idi Amin, que durou do golpe militar de 1971 ao
exílio, em 1979.
O título vem do hábito real do
africano de usar kilts (montou
um regimento que tinha a vestimenta escocesa) e de, a certa
altura, ter se autonomeado
com o título nobiliárquico.
O déspota é interpretado
com certo exagero por Forest
Whitaker, um pouco porque o
equivalente real era mesmo
mercurial e demente, um pouco porque o competente ator
texano caiu na armadilha que
vez por outro acomete mesmo
os melhores: a de jogar para a
platéia, que, neste caso, são os
votantes do Oscar.
Para tanto, lança mão de três
ingredientes infalíveis para a
indicação certeira: personagem
real, interpretação "forte", sotaque estrangeiro. Deu certo: já
levou o Globo de Ouro e, em 25
de fevereiro, é o favorito à estatueta de melhor ator, prêmio
que disputa com Leonardo DiCaprio, Ryan Gosling, Peter
O'Toole e Will Smith -com exceção do último, todos em atuações melhores que a dele.
De qualquer maneira, o filme
é roubado por James McAvoy,
que interpreta o tal médico escocês recém-formado, que resolve fazer trabalhos humanitários em Uganda. O jovem logo
cai nas graças do ditador, que o
nomeia sucessivamente médico particular do presidente,
responsável pelo sistema de
saúde do país e, por fim, assessor especial.
É na sua constante hesitação
entre se entregar de vez ao luxo
e aos prazeres carnais oferecidos pela corte de Idi Amin e denunciar ao mundo as atrocidades que presencia que reside
parte do prazer de se assistir a
"O Último Rei da Escócia". O
resto está no jogo dos sete erros
de perceber o que é fato ou não.
Duas dicas: o médico não existiu, mas foi baseado num aventureiro inglês; o episódio do seqüestro do avião é real, mas o
plot dramático, não.
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA
Direção: Kevin Macdonald
Produção: Reino Unido, 2006
Com: Forest Whitaker
Quando: estréia hoje no Unibanco Arteplex, Villa-Lobos e circuito
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