São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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Crítica/"O Último Rei da Escócia"

Exageros de Whitaker em longa agradam e afastam

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Apesar do aviso inicial, "inspirado em fatos reais", a maior parte dos eventos retratados em "O Último Rei da Escócia" é ficção, e o personagem principal, um médico escocês, nunca existiu.
O espectador que conseguir ultrapassar esses dois não pequenos obstáculos verá 121 minutos de grande cinema.
É o segundo filme do diretor, o escocês Kevin Macdonald, que já tinha misturado fato e ficção em seu docudrama de estréia, o excelente "Desafio Vertical" (Touching the Void), de 2003, em que entremeia depoimentos dos personagens reais e participação de atores para recontar um acidente envolvendo dois alpinistas em Siula Grande, nos Andes peruanos, em 1985. Está disponível em DVD e vale o aluguel.
Baseado em romance de mesmo nome, de Giles Foden, "O Último Rei da Escócia" usa a história de um personagem fictício como fio condutor para retratar a Uganda durante a tomada de poder e o começo da ditadura de Idi Amin, que durou do golpe militar de 1971 ao exílio, em 1979.
O título vem do hábito real do africano de usar kilts (montou um regimento que tinha a vestimenta escocesa) e de, a certa altura, ter se autonomeado com o título nobiliárquico.
O déspota é interpretado com certo exagero por Forest Whitaker, um pouco porque o equivalente real era mesmo mercurial e demente, um pouco porque o competente ator texano caiu na armadilha que vez por outro acomete mesmo os melhores: a de jogar para a platéia, que, neste caso, são os votantes do Oscar.
Para tanto, lança mão de três ingredientes infalíveis para a indicação certeira: personagem real, interpretação "forte", sotaque estrangeiro. Deu certo: já levou o Globo de Ouro e, em 25 de fevereiro, é o favorito à estatueta de melhor ator, prêmio que disputa com Leonardo DiCaprio, Ryan Gosling, Peter O'Toole e Will Smith -com exceção do último, todos em atuações melhores que a dele.
De qualquer maneira, o filme é roubado por James McAvoy, que interpreta o tal médico escocês recém-formado, que resolve fazer trabalhos humanitários em Uganda. O jovem logo cai nas graças do ditador, que o nomeia sucessivamente médico particular do presidente, responsável pelo sistema de saúde do país e, por fim, assessor especial.
É na sua constante hesitação entre se entregar de vez ao luxo e aos prazeres carnais oferecidos pela corte de Idi Amin e denunciar ao mundo as atrocidades que presencia que reside parte do prazer de se assistir a "O Último Rei da Escócia". O resto está no jogo dos sete erros de perceber o que é fato ou não. Duas dicas: o médico não existiu, mas foi baseado num aventureiro inglês; o episódio do seqüestro do avião é real, mas o plot dramático, não.


O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA    
Direção: Kevin Macdonald
Produção: Reino Unido, 2006
Com: Forest Whitaker
Quando: estréia hoje no Unibanco Arteplex, Villa-Lobos e circuito


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