São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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Última Moda

Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br

O futuro é hoje

Grifes da SPFW trocam futurismo por uma visão social do presente

O futuro -do mundo e da moda- é uma obsessão atual do circuito fashion brasileiro e internacional. O tema rondou as coleções da temporada outono-inverno 2007 da São Paulo Fashion Week, mas foi o presente que acabou se impondo.
Seja porque as perspectivas do design no Brasil são nebulosas, seja porque as demandas do presente são mais urgentes e vão determinar o que virá, o futurismo acabou cedendo lugar a uma visão pragmática e até social da atualidade, pelos olhos da moda.
Da discussão social sobre o presente, saíram algumas das melhores coleções, como as de Ronaldo Fraga, Huis Clos e Alexandre Herchcovitch.
Fraga abordou a China, território de alguns dos confrontos mais excitantes da atualidade -entre a utopia comunista e o avanço capitalista, entre a tradição e a tecnologia, entre o Estado burocrático e o individualismo hipermoderno. Herchcovitch olhou para as bóias-frias, figuras que remetem a um Brasil pré-moderno, como se, para o estilista, antes de falar de futuro fosse preciso resolver as dívidas do passado.
Já Clô Orozco, da Huis Clos, arregaçou mangas e barras de calças, convocando as mulheres a assumir um papel mais ativo e menos fetichizado no mundo. A imagem é forte e limpa, e ecoa as idéias de Chanel sobre a libertação do corpo.
O futuro, ops, o presente ecológico do planeta surgiu na visão "aventureira" da Osklen. Os "guardiões da natureza" da grife convenceram, ao menos em termos fashion, com ótimos vestidos, coletes e jaquetas de design inspirado em equipamentos de acampamento e de ecoesportes. Além disso, fez as "ankle boots" - botinhas na altura do tornozelo, ou pouco acima dele- mais glamourosas da SPFW.
Também em contraponto à pregação tecnofuturista, surgiu o momento mais emocionante desta temporada. Marcelo Sommer, com a nova grife Do Estilista, foi buscar em sua caixa de memórias um discurso mais otimista sobre o homem e o mundo.
Na contramão das leis de pasteurização de estilos e idéias, Sommer resgata o elemento afetivo e, com ele, um dos objetivos mais nobres da moda: a comunicação de experiências entre as pessoas.


com VIVIAN WHITEMAN

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Conheça as principais tendências da SPFW

1. Ankle boots
2. Calças volumosas, com punhos e pantalonas
3. Vestidinhos trapézio
4. Tricôs
5. Coletes, ponchos, pelerines e bolerinhos
6. Maxigolas e mangas-morcego
7. Malhas e moletons
8. Jaquetas esportivas
9. Brilhos e paetês
10. Preto e cinza
11. Nylon, matelassê, vinil e pele sintética

Para compradores estrangeiros, roupas são caras

EVA JOORY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A valorização do real tornou os preços da moda brasileira altos demais para os compradores estrangeiros. "As roupas estão muito caras", disse Hillary Rush, compradora da loja Rush, de Los Angeles, durante a São Paulo Fashion Week.
Ela vende grifes famosas, como Prada e Miu Miu, e algumas marcas brasileiras, como Cris Barros e Maria Bonita Extra. "Porque estas têm preços mais acessíveis", afirmou. "Compro também moda praia e vestidos com design original." As compras de Rush não ultrapassaram as 10 peças.
Também para o jornalista americano Mike Kepp, correspondente do prestigioso "WWD", publicação sobre o mercado de moda, o preço das roupas é principal problema para a exportação da moda brasileira. "O alto valor do real dificulta a compra dos estrangeiros", disse o jornalista.
Para os que pagam em euros -e não em dólares-, o problema principal é outro: a originalidade. A francesa Biba Folleat, da mutimarca Le Gran Bazar, em Cannes (França), disse que não havia encontrado nada muito diferente no Brasil em termos de moda. "Até agora só comprei acessórios, como sapatos de Francesca Giobbi e bolsas de Serpui Marie. Levo umas 20 peças de cada marca", afirmou.
O empresário Nabil Houssami, dono da loja Al Houssami, uma multimarca nos moldes da Daslu, em Beirute, contou que veio ao Brasil em busca de "roupas coloridas, feitas a mão e mais sexies". Ele iria comprar entre 50 e 100 peças. "Não é muito, mas é o suficiente para manter um bom mix na loja." Entre as peças que compraria, estavam algumas da estilista Tereza Santos.
Vinte compradores estrangeiros vieram à SPFW, a convite da Abest (Associação Brasileira de Estilistas) e da Apex (Agência de Promoção de Exportação e Investimentos).
A semana de moda também trouxe cerca de 70 jornalistas estrangeiros, incluindo fotógrafos e cinegrafistas.
"A moda brasileira já não é mais a bola da vez no mercado mundial. A febre do Brasil já passou", disse o jornalista canadense Robb Young, correspondente do "International Herald Tribune".


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