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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
O futuro é hoje
Grifes da SPFW trocam futurismo por uma visão social do presente
O futuro -do mundo e da moda- é
uma obsessão atual do circuito fashion brasileiro e internacional. O tema rondou as coleções da temporada
outono-inverno 2007 da São Paulo
Fashion Week, mas foi o presente que
acabou se impondo.
Seja porque as perspectivas do design no Brasil são nebulosas, seja porque as demandas do presente são mais
urgentes e vão determinar o que virá, o
futurismo acabou cedendo lugar a
uma visão pragmática e até social da
atualidade, pelos olhos da moda.
Da discussão social sobre o presente, saíram algumas das melhores coleções, como as de Ronaldo Fraga, Huis
Clos e Alexandre Herchcovitch.
Fraga abordou a China, território de
alguns dos confrontos mais excitantes
da atualidade -entre a utopia comunista e o avanço capitalista, entre a tradição e a tecnologia, entre o Estado
burocrático e o individualismo hipermoderno. Herchcovitch olhou para as
bóias-frias, figuras que remetem a um
Brasil pré-moderno, como se, para o
estilista, antes de falar de futuro fosse
preciso resolver as dívidas do passado.
Já Clô Orozco, da Huis Clos, arregaçou mangas e barras de calças, convocando as mulheres a assumir um papel
mais ativo e menos fetichizado no
mundo. A imagem é forte e limpa, e
ecoa as idéias de Chanel sobre a libertação do corpo.
O futuro, ops, o presente ecológico
do planeta surgiu na visão "aventureira" da Osklen. Os "guardiões da natureza" da grife convenceram, ao menos
em termos fashion, com ótimos vestidos, coletes e jaquetas de design inspirado em equipamentos de acampamento e de ecoesportes. Além disso,
fez as "ankle boots" - botinhas na altura do tornozelo, ou pouco acima dele- mais glamourosas da SPFW.
Também em contraponto à pregação tecnofuturista, surgiu o momento
mais emocionante desta temporada.
Marcelo Sommer, com a nova grife Do
Estilista, foi buscar em sua caixa de
memórias um discurso mais otimista
sobre o homem e o mundo.
Na contramão das leis de pasteurização de estilos e idéias, Sommer resgata o
elemento afetivo e, com ele, um dos objetivos mais nobres da moda: a comunicação de experiências entre as pessoas.
com VIVIAN WHITEMAN
hot list
Conheça as principais tendências da SPFW
1. Ankle boots
2. Calças volumosas,
com punhos e pantalonas
3. Vestidinhos trapézio
4. Tricôs
5. Coletes, ponchos, pelerines
e bolerinhos
6. Maxigolas e mangas-morcego
7. Malhas e moletons
8. Jaquetas esportivas
9. Brilhos e paetês
10. Preto e cinza
11. Nylon, matelassê, vinil e pele sintética
Para compradores estrangeiros, roupas são caras
EVA JOORY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A valorização do real tornou
os preços da moda brasileira
altos demais para os compradores estrangeiros. "As roupas
estão muito caras", disse Hillary Rush, compradora da loja
Rush, de Los Angeles, durante
a São Paulo Fashion Week.
Ela vende grifes famosas,
como Prada e Miu Miu, e algumas marcas brasileiras, como
Cris Barros e Maria Bonita Extra. "Porque estas têm preços
mais acessíveis", afirmou.
"Compro também moda praia
e vestidos com design original." As compras de Rush não
ultrapassaram as 10 peças.
Também para o jornalista
americano Mike Kepp, correspondente do prestigioso
"WWD", publicação sobre o
mercado de moda, o preço das
roupas é principal problema
para a exportação da moda
brasileira. "O alto valor do real
dificulta a compra dos estrangeiros", disse o jornalista.
Para os que pagam em euros
-e não em dólares-, o problema principal é outro: a originalidade. A francesa Biba Folleat, da mutimarca Le Gran
Bazar, em Cannes (França),
disse que não havia encontrado nada muito diferente no
Brasil em termos de moda.
"Até agora só comprei acessórios, como sapatos de Francesca Giobbi e bolsas de Serpui
Marie. Levo umas 20 peças de
cada marca", afirmou.
O empresário Nabil Houssami, dono da loja Al Houssami,
uma multimarca nos moldes
da Daslu, em Beirute, contou
que veio ao Brasil em busca de
"roupas coloridas, feitas a mão
e mais sexies". Ele iria comprar entre 50 e 100 peças.
"Não é muito, mas é o suficiente para manter um bom mix na
loja." Entre as peças que compraria, estavam algumas da estilista Tereza Santos.
Vinte compradores estrangeiros vieram à SPFW, a convite da Abest (Associação Brasileira de Estilistas) e da Apex
(Agência de Promoção de Exportação e Investimentos).
A semana de moda também
trouxe cerca de 70 jornalistas
estrangeiros, incluindo fotógrafos e cinegrafistas.
"A moda brasileira já não é
mais a bola da vez no mercado
mundial. A febre do Brasil já
passou", disse o jornalista canadense Robb Young, correspondente do "International
Herald Tribune".
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