São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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Um grande garoto

Expoente da geração de quadrinistas autorais do Brasil, Rafa Coutinho prepara livro "Cachalote", com Daniel Galera

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Acima, Rafa Coutinho

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

"Para ser sincero, nem eu sei direito sobre o que é esse livro."
Rafael dos Santos Coutinho, ou Rafa Coutinho, 30, fala sobre "Cachalote", um dos mais ambiciosos projetos de quadrinhos já feitos no Brasil.
Previsto para sair em março, com cerca de 300 páginas, "Cachalote" será o primeiro de uma série de livros que reúne escritores e quadrinistas.
Em "Cachalote", Daniel Galera é responsável pelo texto; Coutinho, pelas ilustrações.
Mas não só. Coutinho é não apenas ilustrador, mas roteirista, escultor, pintor e um dos expoentes da geração de quadrinistas autorais brasileiros. Por isso, ele também colabora com o argumento de "Cachalote".
"Acho que sou artista plástico, mas a definição muda conforme a necessidade. Você precisa ser o que você precisa ser", ele afirma, em seu estúdio na Pompeia, em São Paulo.
Filho de Laerte, quadrinista da Folha, Coutinho convive com cartuns e HQs desde que nasceu. "O interesse veio de infância, de ver o meu pai trabalhar, de ouvir as conversas. Mas me enxergar como artista mesmo veio só depois de terminar a faculdade."
Coutinho cursou artes plásticas na Unesp, no Ipiranga. Formou-se com 24 anos. "Na faculdade, parecia que as pessoas esperavam que eu seguisse aquele caminho [do pai]. Eu tinha uma visão de que seria fácil fazer HQ. E, por achar que seria, procurei outras coisas. Depois percebi que não era nada fácil fazer quadrinhos."
Coutinho procura fazer outras coisas desde os 16 anos, quando desenhou o storyboard para o filme "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky. "Ganhei R$ 170. Me considerava o cara mais rico da escola."
Tomado por "uma culpa classe média de ter de me sustentar", Coutinho ganhou trocados como garçom, assistente de barman e atendente de videolocadora. E foi b-boy (dançarino de break) do grupo Etnias. "Treinava no parque da Aclimação. Gostava de hip hop, do grafite. Era adolescente, estava na ânsia de me encaixar."
Coutinho é filho de Laerte e da médica Marli Alves dos Santos, hoje divorciados. "Meus pais eram militantes, ligados ao Partidão. Mas meu pai sempre deixava claro o espaço entre o que ele fazia e o que a gente deveria fazer", conta o quadrinista, que também teve um irmão morto em acidente de carro.

Geração
Coutinho trabalhou por dois anos como animador de web. Época em que animou charges de vários cartunistas, como Adão e o próprio Laerte. "Isso me deu jogo de cintura." Nesse período, dirigiu um clipe de Xis ("Chapa Coco"), que ganhou prêmio no VMB, da MTV.
"Foi quando entendi que nada era fácil, não apenas quadrinhos. Você tem de perceber se é um cara de qualidade ou de quantidade", diz. "Eu sou de quantidade. Pela quantidade, algumas coisas saem legais. Sei que tenho de produzir muito."
Em quadrinhos, participou da equipe que colaborava para a revista independente Sociedade Radioativa. "Publiquei ali por quatro anos, foi a minha escolinha. Lá eu conheci Caeto, Tiago Judas, Daniel Gisé, Ulisses Garcez... Vi que HQ autoral era o que me ligava. O filé mignon estava na "Heavy Metal", nos quadrinhos franceses, japoneses, e nos brasileiros."
Participou ainda da "Bang Bang", entre 2004 e 2005, projeto de histórias de faroeste escritas por brasileiros e americanos, editada pela Devir.
Questionado sobre as diferenças entre a geração de seu pai e a que pertence, Coutinho afirma: "Durante anos o quadrinista não se enxergava como quadrinista. É como poesia: difícil alguém se assumir como poeta. Hoje existe um orgulho de se apresentar como quadrinista. As editoras estão passando por um período melhor".
Coutinho tem orgulho de se apresentar como quadrinista, mas não quer continuar com o foco ampliado. No ano passado, fez uma individual na galeria Choque Cultural, em São Paulo. E, no cinema, prepara o roteiro de um curta e de um longa. E "Cachalote"? "São seis histórias amarradas simbolicamente por uma baleia cachalote. É o que eu consigo dizer."


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