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Um grande garoto
Expoente da geração de quadrinistas autorais do Brasil, Rafa Coutinho prepara livro "Cachalote", com Daniel Galera
Marisa Cauduro/Folha Imagem
![](../images/i0202201001.jpg) |
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Acima, Rafa Coutinho
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Para ser sincero, nem eu sei
direito sobre o que é esse livro."
Rafael dos Santos Coutinho,
ou Rafa Coutinho, 30, fala sobre "Cachalote", um dos mais
ambiciosos projetos de quadrinhos já feitos no Brasil.
Previsto para sair em março,
com cerca de 300 páginas, "Cachalote" será o primeiro de
uma série de livros que reúne
escritores e quadrinistas.
Em "Cachalote", Daniel Galera é responsável pelo texto;
Coutinho, pelas ilustrações.
Mas não só. Coutinho é não
apenas ilustrador, mas roteirista, escultor, pintor e um dos expoentes da geração de quadrinistas autorais brasileiros. Por isso, ele
também colabora com o argumento de "Cachalote".
"Acho que sou artista plástico, mas a definição muda conforme a necessidade. Você precisa ser o que você precisa ser",
ele afirma, em seu estúdio na
Pompeia, em São Paulo.
Filho de Laerte, quadrinista
da Folha, Coutinho convive
com cartuns e HQs desde que
nasceu. "O interesse veio de infância, de ver o meu pai trabalhar, de ouvir as conversas. Mas
me enxergar como artista mesmo veio só depois de terminar
a faculdade."
Coutinho cursou artes plásticas na Unesp, no Ipiranga.
Formou-se com 24 anos. "Na
faculdade, parecia que as pessoas esperavam que eu seguisse aquele caminho [do pai]. Eu
tinha uma visão de que seria fácil fazer HQ. E, por achar que
seria, procurei outras coisas.
Depois percebi que não era nada fácil fazer quadrinhos."
Coutinho procura fazer outras coisas desde os 16 anos,
quando desenhou o storyboard
para o filme "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky. "Ganhei R$ 170. Me considerava o
cara mais rico da escola."
Tomado por "uma culpa
classe média de ter de me sustentar", Coutinho ganhou trocados como garçom, assistente
de barman e atendente de videolocadora. E foi b-boy (dançarino de break) do grupo Etnias. "Treinava no parque da
Aclimação. Gostava de hip hop,
do grafite. Era adolescente, estava na ânsia de me encaixar."
Coutinho é filho de Laerte e
da médica Marli Alves dos Santos, hoje divorciados. "Meus
pais eram militantes, ligados ao
Partidão. Mas meu pai sempre
deixava claro o espaço entre o
que ele fazia e o que a gente deveria fazer", conta o quadrinista, que também teve um irmão
morto em acidente de carro.
Geração
Coutinho trabalhou por dois
anos como animador de web.
Época em que animou charges
de vários cartunistas, como
Adão e o próprio Laerte. "Isso
me deu jogo de cintura." Nesse
período, dirigiu um clipe de Xis
("Chapa Coco"), que ganhou
prêmio no VMB, da MTV.
"Foi quando entendi que nada era fácil, não apenas quadrinhos. Você tem de perceber se é
um cara de qualidade ou de
quantidade", diz. "Eu sou de
quantidade. Pela quantidade,
algumas coisas saem legais. Sei
que tenho de produzir muito."
Em quadrinhos, participou
da equipe que colaborava para
a revista independente Sociedade Radioativa. "Publiquei ali
por quatro anos, foi a minha escolinha. Lá eu conheci Caeto,
Tiago Judas, Daniel Gisé, Ulisses Garcez... Vi que HQ autoral
era o que me ligava. O filé mignon estava na "Heavy Metal",
nos quadrinhos franceses, japoneses, e nos brasileiros."
Participou ainda da "Bang
Bang", entre 2004 e 2005, projeto de histórias de faroeste escritas por brasileiros e americanos, editada pela Devir.
Questionado sobre as diferenças entre a geração de seu
pai e a que pertence, Coutinho
afirma: "Durante anos o quadrinista não se enxergava como
quadrinista. É como poesia: difícil alguém se assumir como
poeta. Hoje existe um orgulho
de se apresentar como quadrinista. As editoras estão passando por um período melhor".
Coutinho tem orgulho de se
apresentar como quadrinista,
mas não quer continuar com o
foco ampliado. No ano passado,
fez uma individual na galeria
Choque Cultural, em São Paulo. E, no cinema, prepara o roteiro de um curta e de um longa. E "Cachalote"? "São seis
histórias amarradas simbolicamente por uma baleia cachalote. É o que eu consigo dizer."
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