São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Centro Universitário, dirigido pelo crítico de arte e professor da ECA-USP Lorenzo Mammì, passa por revitalização
Maria Antônia ganha nova identidade

free-lance para a Folha


Trincheira do movimento estudantil nos anos 60, o edifício da USP na rua Maria Antônia (região central de São Paulo) está de cara nova. Descaracterizado desde que foi devolvido à universidade, em 91, o Centro Universitário Maria Antônia (Ceuma) passa por uma revitalização que culmina na reinauguração do espaço este mês.
O projeto que reinaugura o Ceuma sinaliza seu funcionamento futuro: em parceria com o Instituto Goethe e a Escola de Crítica de Arte e Literatura, o evento "Passagens" (leia texto abaixo) vai articular os espaços do prédio, promovendo exposição de arte e palestras no local.
O nome por trás das mudanças, Lorenzo Mammì, que assumiu a diretoria em setembro de 99, afirma que é por meio de parcerias e dando unidade às atividades que se desenvolvem no Ceuma que o espaço vai recuperar a vitalidade.
Desde 91, vários órgãos ligados à USP instalaram-se lá. Hoje, são oito entidades: Comissão de Direitos Humanos da USP, Edusp, Experimentoteca, Escola do Futuro, Escola de Governo, SBPC, Tusp e Coralusp. "O prédio é uma grande colagem, onde aconteciam atividades culturais, mas sem unidade", afirma Mammì.
Não é intenção do diretor cercear essa polifonia, mas racionalizar o espaço -que tem salas de exposição no segundo andar e área administrativa no térreo, por exemplo- e delinear uma identidade para o local. "É interessante que tenha esse trânsito entre áreas do conhecimento", diz.

Ironia da história
O prédio da rua Maria Antônia abrigou, desde 1949, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Nos anos 60, tornou-se símbolo de luta e resistência ao regime militar, pois ali, além de se realizarem discussões sobre reforma do ensino e política estudantil, era travada uma verdadeira guerra.
Devido à proximidade ao Mackenzie, reduto da direita organizada e forte base de atuação do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), a movimentação nacional de estudantes polarizou-se entre uspianos e mackenzistas.
De bate-boca, passaram a atirar pedras e garrafas uns nos outros, o que gerou uma guerra aberta. Em 2 e 3 de outubro de 68, durante uma ocupação de estudantes, o edifício da USP foi depredado e incendiado pela polícia.
"Essa nova Maria Antônia, por ironia da história, vai ser maciçamente frequentada pelos nossos inimigos do passado, os estudantes do Mackenzie", diz o filósofo José Arthur Giannotti, que foi aluno da antiga faculdade de Filosofia da Maria Antônia.
Vinculado a uma programação cultural e acadêmica, como defesas de teses de artistas plásticos, o novo perfil do espaço agrada ao mundo das artes. Na opinião do curador do MAM, Tadeu Chiarelli, "estava faltando para a USP uma retomada do papel que deve exercer na área de artes visuais".
O crítico Rodrigo Naves considera o espaço muito importante na tradição universitária. "Ele tinha uma destinação ambígua e acredito que o Lorenzo vai ser mais rigoroso com exposições, palestras e outras atividades."

O prédio ao lado
Mas a maior ambição da nova Maria Antônia está, na verdade, no prédio ao lado do 294, que também pertence à USP, mas está atualmente interditado pelo Contru devido às condições precárias.
Mammì estuda a possibilidade de parcerias, até mesmo uma divisão do espaço com o patrocinador da reforma, desde que haja afinidade temática.
(JULIANA MONACHESI)


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