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CINEMA/ESTRÉIAS
"DUETS - VEM CANTAR COMIGO"
Ataque ao "american way" se dispersa nele mesmo
TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A consagração de "Beleza
Americana" pelo Oscar serviu como um endosso: a insatisfação com o american way of life, tema até então restrito ao cinema
independente, tornou-se um dos
motes preferenciais da indústria
cinematográfica americana. A
prova disso é a sua recorrência em
produções medianas como este
"Duets - Vem Cantar Comigo".
Há, neste filme amigável e cheio
de lições realizado por papai Paltrow com sua filha starlet
Gwyneth, um personagem que é
variação do protagonista de "Beleza Americana": um executivo
que, frustrado com o trabalho e a
falta de amor familiar, se diz "cansado do american way of life".
De certa forma, ele radicaliza o
discurso de "Beleza Americana",
declarando que a vida da classe
média de subúrbio é uma prisão
mental e que é preciso destruir o
imenso shopping center no qual
se transformou o país para que os
americanos recuperem sua humanidade. Ele torna-se então, a
exemplo do personagem de Kevin Spacey, um junkie inconsequente, mas, como os demais fracassados que povoam o filme, reconcilia-se com sua condição ao
encontrar certo consolo numa espécie de "filosofia do karaokê".
A moral de "Duets" é a seguinte:
já que os americanos precisam
mesmo relaxar, o melhor remédio
seria extravasar diante de um microfone, realizando, ao menos
por três minutos, o velho sonho
de fama. Karaokê também é cultura: cada fracassado do filme terá
a oportunidade de aprender alguma coisa ao formar o seu dueto
para o grande circuito de concursos de karaokês do país.
Trata-se sempre de duetos improváveis em que o convívio forçado obriga cada um a aprender
um pouco com o outro: um taxista de coração puro e desprovido
de ambição, que busca apenas estabelecer uma relação mais harmoniosa com os seus semelhantes, forma par com uma jovem
maníaca pela fama, arrivista, que
está sempre se prostituindo.
Um assaltante negro de boa índole e o ex-executivo branco em
busca de fortes emoções, um pilantra velho de guerra no circuito
e a filha que acabou de conhecer
(Gwyneth, perfeitamente à vontade no papel despretensioso de
uma corista vulgar e sem jeito).
O filme equaciona todas as diferenças e frustrações dos personagens em torno do grande consolo
que é a cultura de karaokê, promovendo uma espécie de catarse
controlada dos alijados da "sociedade de espetáculo". É assim que
o potencial crítico do filme vai por
água abaixo. Afinal, o karaokê
não deixa de ser um dos expedientes mais patéticos e desoladores dessa mesma cultura de classe
média que o filme denunciara, a
princípio, como "prisão mental".
Duets - Vem Cantar Comigo
Duets
Direção: Bruce Paltrow
Produção: EUA/Canadá, 2000
Com: Gwyneth Paltrow, Maria Bello,
Paul Giamatti, Huey Lewis
Quando: a partir de hoje nos cines Extra
Anchieta, Jardim Sul e circuito
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