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LITERATURA
MEMÓRIA
Escritor americano ganhador do Nobel tem obra completa reeditada e é alvo de mais de 200 eventos nos EUA
Aos cem anos, Steinbeck ganha reavaliação
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
No centenário de seu nascimento, comemorado esta semana e
pelos próximos 12 meses no mundo todo, o escritor norte-americano John Steinbeck sofre o que pode ser chamado de "paradoxo de
Jorge Amado".
Como ocorre com o escritor
baiano (1912-2001), os livros deste
californiano de Salinas nunca
venderam tanto (são 700 mil
exemplares por ano, em mais de
30 países), mas o respeito da crítica não acompanha o tilintar das
caixas registradoras.
O vento, no entanto, começa a
mudar para o autor de "Homens e
Ratos" ("Of Mice and Men",
1937), "As Vinhas da Ira" ("Grapes of Wrath", 1939), "A Leste do
Éden" ("East of Eden", 1952) e ganhador do Grand Slam do mundo
literário, o Prêmio Nobel de literatura e os americanos Booker Prize
e Pulitzer.
No bojo das comemorações dos
cem anos -mais de 200 eventos
espalhados por 38 dos 50 Estados
norte-americanos, o principal deles sendo a reedição de sua obra
completa pela editora Penguin-,
John Steinbeck começa a ter seu
legado literário reavaliado pelos
estudiosos e acadêmicos.
Pelo menos é o que afirmou à
Folha e reforçou em artigos publicados ao longo da semana seu
principal biógrafo, o escritor e expert Jay Parini, autor de "John
Steinbeck - A Biography" (ed.
Henry Holt, 1995) e professor de
literatura no Middlebury Colllege.
Steinbeck nasceu em 27 de fevereiro de 1902, filho de uma professora e um tesoureiro. Morreu em
1968, em Nova York, aos 66 anos,
desiludido com as críticas que recebeu ao ganhar o Nobel quatro
anos antes ("antiquado" era a
principal). Críticas que o levaram
a abandonar a literatura. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Mais de 50 anos após a publicação do principal de sua obra,
por que os livros de John Steinbeck
continuam sendo subestimados
pela intelligentsia americana?
Jay Parini - Até bem pouco tempo, e principalmente nos meios
acadêmicos, John Steinbeck era
considerado um autor de livros
para estudantes de primeiro e segundo graus, no mau sentido, de
falta de profundidade. Isso felizmente começa a mudar. A saga da
família Joad no apocalíptico cenário rural de Oklahoma e Califórnia dos anos 30, conforme narrado em "As Vinhas da Ira", seu livro mais famoso, é um retrato fiel
e crítico de uma época. É este clássico que vem puxando a mudança
de atitude da academia. Estamos
falando de um escritor muito importante para ser ignorado.
Folha - O sr. descobriu qual a origem desse preconceito?
Parini - Talvez a concorrência na
época em que viveu e atuou lhe tenha sido desfavorável. Steinbeck é
contemporâneo de nomes como
Ernest Hemingway ("Adeus às
Armas"), Scott Fitzgerald ("O
Grande Gatsby") e William
Faulkner ("O Som e a Fúria"), todos grandes romancistas, sem dúvida. O trio sempre foi levado
mais a sério do que ele. Mas a balança começa a pender para o outro lado agora. O que tinha sido
considerado fator negativo em
sua avaliação, a simplicidade da
prosa de Steinbeck, hoje em dia
passa a contar pontos a favor. As
pessoas estão descobrindo que
simples não quer dizer necessariamente simplista.
Folha - Em sua opinião, qual o
principal mérito de sua escrita?
Parini - São dois. O primeiro é
que, assim como os já citados Hemingway e Fitzgerald, quando você lê um livro de Steinbeck, você
sabe que está em boas mãos, nas
mãos de alguém que sabe como
contar uma história. O segundo é
que ele deve ser um dos poucos
escritores norte-americanos que
são realmente lidos pelas pessoas.
Folha - O sr. é partidário de uma
curiosa leitura ecológica da obra
de Steinbeck, não?
Parini - Acho que o californiano
foi o primeiro escritor norte-americano sério a ter uma preocupação com a ecologia. Seus personagens sempre buscam uma integração equilibrada com a natureza e a defendem a todo custo.
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