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COMENTÁRIO
Público rege premiação
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Não adiantou a torcida da
moça do SBT: cada vez ela
proclamava sua esperança de vitória brasileira; cada vez a realidade se encarregava de desiludi-la.
Era muito difícil mesmo um filme da periferia, como "Cidade de
Deus", ganhar um prêmio técnico. Se isso serve de consolo para
quem vestiu a bandeira verde-amarela, quase todo mundo acabou de mãos abanando, diante da
razia de "O Retorno do Rei".
Foi um reconhecimento da fantasia, disse Rubens Ewald Filho.
Em termos. Antes disso, foi um
reconhecimento do sucesso, única baliza inamovível do universo
hollywoodiano. O Oscar não se
move necessariamente por esse
parâmetro. Há anos em que procura apontar um determinado
sentido -humanitário, por
exemplo-, enviar uma mensagem -contra a guerra, contra a
miséria- ou ainda investir no caráter artístico da atividade.
Em outros anos, como que à
procura de um chão, a Academia
vai na direção daquilo que o público consagrou. Após duas passagens discretas pelo Oscar, o terceiro filme da série levou 11 prêmios. O sucesso não se contesta.
Se os eleitores optaram pela
pompa e grandiloqüência de "O
Retorno do Rei", deram uma volta de 180 graus no prêmio de roteiro original, que foi para Sofia
Coppola por "Encontros e Desencontros". Esse, no entanto, parece
um prêmio de consolação concedido à filha de Francis F. Coppola.
Tanto que o prêmio de ator não
foi para a límpida atuação de Bill
Murray no filme, mas para Sean
Penn, de presença grandiloqüente em "Sobre Meninos e Lobos".
Na verdade, a seleção dos indicados foi bem mais interessante
do que os resultados. Havia representantes de todos os continentes
na parada: Brasil, Canadá, África,
Nova Zelândia, Austrália etc.
Por um lado, o Oscar busca se
internacionalizar como prêmio, o
que é uma maneira de preservar
sua importância, e a de Hollywood, nos diversos mercados
mundiais. Por outro, é fato que
anda faltando vitalidade à produção americana, o que justifica, entre outras, a farta presença de "Cidade de Deus", mas também a intrusão de Sofia Coppola.
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