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Aos 69, dramaturgo espanhol volta mais radical ao Brasil
José Sanchis Sinisterra, principal nome do teatro da Espanha, refaz montagem da peça "Flechas do Anjo do Esquecimento" com a companhia As Magnólias
CAIO BARRETTO BRISO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
É comum José Sanchis Sinisterra perguntar a si mesmo:
"Onde estou errando? Como
posso melhorar?". Foi procurando respostas que ele, frequentemente apontado como o
maior dramaturgo e diretor espanhol da atualidade, desembarcou em São Paulo, em 30 de
janeiro, para dirigir a companhia As Magnólias na montagem de sua peça "Flechas do
Anjo do Esquecimento", que
estreia hoje, no Sesc Pinheiros.
Quando o espetáculo estreou
na Espanha, em 2004, Sinisterra não ficou satisfeito. "Errei na
escolha de dois atores e fui pouco radical. Desta vez, quero ser
mais radical", diz ele, que vai
completar 70 anos em junho.
"Flechas", primeira montagem de As Magnólias -formada por Eveline Maria, Gabriela
Fontana e Patrícia Gordo, com
atores convidados- conta a
história de X, uma mulher que
perde a memória e recebe, em
uma clínica, a visita de quatro
pessoas. Cada uma delas é uma
voz do passado que tenta dar a
X uma vida e uma identidade.
Para ser mais radical na
montagem brasileira, o espanhol está submetendo o elenco
a um "processo caótico de criação", que começa pelo corpo do
ator e só depois entra no texto
teatral. "Cada personagem tem
movimentos minimalistas que
se repetem. Eles são prisioneiros de condutas cíclicas", diz Sinisterra. "Temos a ilusão de
que a vida humana é linear, mas
ela é repetitiva -fodidamente
repetitiva."
O autor gosta de trabalhar
com atores brasileiros. Sua primeira montagem no país foi
"Ñaque", em 1991, com a atriz
Cristiane Jatahy no elenco. "O
ator brasileiro é mais livre,
mais flexível, tem um corpo
criativo e inteligente", diz ele.
"Ele está sempre inovando e
revendo seu próprio trabalho.
É muito profundo na sua investigação de dramaturgia", diz
Jatahy, que pretende montar,
com Ana Beatriz Nogueira e
Caio Blat, "Deixe o Amor de Lado", texto inédito de Sinisterra.
Presunção proibida
Desde que começou a escrever para teatro, há 50 anos, Sinisterra produziu praticamente um texto por ano, com um
intervalo na década de 1970
que ele define como sua "travessia do deserto", quando se
dedicou mais a dar aulas. "Casei
jovem, tive minha primeira filha e precisava de dinheiro."
Foi com as peças "Ñaque,
Piolhos e Atores" (1980) e "Ai,
Carmela!" (1986) -levada ao
cinema em 1990 pelo cineasta
espanhol Carlos Saura- que Sinisterra nasceu para o mundo.
De lá para cá, venceu os prêmios teatrais mais importantes
da Espanha, como o Federico
García Lorca, o Max e o Prêmio
de Honra do Instituto do Teatro de Barcelona.
A partir de 1985, ele passou a
ministrar oficinas de dramaturgia em diversos países. A
América Latina é um destino
recorrente -daí ele ser tão encenado no Brasil, Argentina e
Chile. Para minar a presunção
dos alunos, ele inicia suas oficinas dizendo: "Aqui é proibido
escrever obras de arte".
FLECHAS DO ANJO DO ESQUECIMENTO
Quando: ter. e qua., às 20h30; até
30/3
Onde: Sesc Pinheiros - teatro Paulo
Autran (r. Paes Leme, 195, tel.
3095-9400)
Quanto: de R$ 3,50 a R$ 15
Classificação indicativa: 10 anos
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