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COMENTÁRIO
Radiohead pega o pop pelas mãos e o guia à sua maneira
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Radiohead é uma banda
a um passo à frente de qualquer ouvido. Isso não é novidade
para quem acompanha o pop pelo menos desde o início dos 90 e
ainda não entendeu direito o que
aconteceu com esta mesma música pop quando o esquisito Thom
Yorke proclamou o lançamento
de "OK Computer" lá em 1997.
A banda começou indie, barulhenta e "guitarreira" ("Pablo Honey"). No segundo CD ("The Bends"), virou o Pixies inglês. No
terceiro, o "OK Computer", era
porta-voz das desventuras de andróides paranóides. O Radiohead
havia se transformado num grupo antipop, cada vez mais longe
da orientação roqueira.
A fórmula estranha, o universo
nebuloso e as estruturas musicais
fragmentadas que faziam da banda um não-rock tinham tudo para
levar o quinteto ao underground.
Ao contrário, o Radiohead virou
supergrupo. E isso quase acabou
com Thom Yorke, que não suportava a badalação sobre o grupo.
Quando o choque de Yorke e de
quem ouviu o disco estava passando, veio "Kid A" (2000), e aí a
coisa complicou. Esperava-se
uma volta às guitarras, mas o que
apareceu foi mais esquisitices,
mais sons etéreos, mais complicação, mais antiqualquer coisa.
No disco seguinte, "Amnesiac"
(2001), este sim seria uma volta ao
pop, "teria" alguma guitarra e tal.
Qual o quê. Lá estava o fenômeno
Radiohead sendo analisado pelo
crítico de jazz da revista de alta
cultura "New Yorker".
Eis que agora chega este "Hail to
the Thief". E o pop mostra que
não aprende. A gigante expectativa para o disco é a de que ia marcar a volta do grupo ao som "mais
palatável", com as indefectíveis
guitarras em profusões.
"Hail..." tem lá suas guitarras,
enfim. Estão lá, embora elas percam em presença aos pianinhos
climáticos, à voz desesperada de
Thom Yorke, que parece cantar
sentado no alto de uma montanha em Marte. Mas é mais pop
que os dois discos anteriores.
Os 15 primeiros segundos que
abrem o álbum e pertencem à boa
"2 + 2 = 5" é indicativo de como a
banda vem "enfrentando" o apelo
dos fãs, que a cada disco pedem
um Radiohead como "The
Bends". E a cada álbum vem algo
completamente diferente.
Pois o começo de "2 + 2 = 5" começa com um duelo de uma guitarra contra um ruído de interferência. O ruído vai levando a melhor até a guitarra encontrar seu
tom e armar a virada da canção,
na segunda parte, para então descambar num rock'n'roll que à
muito não se via no Radiohead.
A partir daí o disco leva essa
mistura de algo que podemos categorizar de barulhos experimentais e rock até o fim. A complexa
"Backdrifts", de pulso robótico e
barulho, hã, intergaláctico, já torna o disco obrigatório na quarta
faixa. "There There", o primeiro
single, é a canção mais simples do
Radiohead em anos e a maior
aproximação do rock a que se
permitiu o grupo. Quando você
pensa que já conhece "Hail to the
Thief", ele vem diferente e mais
completo na audição seguinte.
Dá para dizer que a banda, lá em
1997, não era um grupo diferente
dentro da música pop. O Radiohead estava pegando o pop pelas
mãos e o guiando à sua maneira.
E agora o apresenta como um
produto acabado, pronto.
O Radiohead é a grande banda
deste que antes era conhecido como rock'n'roll. Ou os outros grupos seguem o caminho de Thom Yorke ou serão apenas bandas que lembram outras bandas.
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