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CINEMA/ESTRÉIAS
"ELEFANTE"
Diretor afirma buscar autenticidade e desligamento do modelo teatral
"Meu filme é uma subversão das regras", diz Gus van Sant
FLORENCE COLOMBANI
DO "LE MONDE"
Após Michael Moore, também o
diretor de "Drugstore Cowboy" se
debruça sobre o massacre de alunos de um colégio de Columbine,
no Colorado, por dois de seus colegas. Gus van Sant, 51, explica até
que ponto o cinema precisa adotar novos códigos narrativos para
encontrar a "verdade".
Pergunta - Alguns de seus filmes,
especialmente "Gênio Indomável"
e "Encontrando Forrester", abordam os jovens heróis de maneira
muito clássica. Já "Elefante" rejeita a psicologia em bloco.
Gus van Sant - "Gerry" (2002) e
"Elefante" são uma tentativa de
subverter a utilização habitual das
técnicas cinematográficas. Desde
que surgiu, o cinema emprestou
sua forma narrativa do teatro.
Meu desejo é me desligar do modelo teatral com a câmera.
Pergunta - Como nasceu esse desejo de experimentação?
Van Sant - Meus filmes até
"Gerry" são muito tradicionais.
Talvez se possa encontrar traços
de minha pesquisa atual em "Mala Noche" [sua estréia na direção,
em 85]. "Garotos de Programa"
(91) era mais audacioso na forma,
mas se inspirava em Shakespeare,
o que vem de encontro ao que eu
dizia em relação ao teatro. Já "Psicose" (98) foi menos tradicional.
Pergunta - "Elefante" se inspirou
em um filme epônimo do diretor inglês Alan Clark. A maneira como
utilizou esse filme é comparável a
seu trabalho com "Psicose"?
Van Sant - Não, porque o filme
irlandês me serviu só em dois aspectos: o título e o fato de tratar de
um tema tabu. Na Inglaterra e na
Irlanda, era impossível falar da
violência na Irlanda do Norte, do
mesmo modo que, nos EUA, a
violência escolar é algo sobre o
que se guarda silêncio. Os filmes
que me inspiraram são "Satan's
Tango", de Béla Tarr, e "Jeanne
Dielman", de Chantal Akerman.
Pergunta - Por que você se afastou da narrativa tradicional?
Van Sant - Passei a me interessar
pelas coisas como são, e não por
sua representação. Tenho isso em
comum com o Dogma 95. O recurso sistemático do artifício conduz à uniformização. Para mim, o
mistério era aquilo que já estava
presente. É preciso apreender o
mundo em estado bruto.
Pergunta - "Elefante" tem uma
relação com o tempo específico,
alicerçado no presente. Isso é parte
de sua redefinição do cinema?
Van Sant - Totalmente. O momento atual é a unidade temporal
do filme. "Elefante" procura
apreender algo de hoje. Para mim,
a essência do cinema é permitir
fazer do presente a matéria do filme. Quis explorar o que se pode
apreender. Por isso escolhi para
atuar no filme estudantes simples,
com suas roupas e sua maneira de
falar. Isso me pareceu mais preciso do que escrever respostas, procurar figurinos e contratar atores.
Busco uma autenticidade.
Pergunta - Como a dimensão espacial estrutura o filme?
Van Sant - Em qualquer filme, o
tempo de trajeto entre um local e
outro é cortado, por causa de códigos e cortes impostos pelo teatro que o cinema integrou. O cinema ainda obedece a uma lógica
que data da Revolução Industrial,
já defasada em relação à era eletrônica. Quanto mais avançarmos
rumo ao eletrônico, mais os filmes terão de usar a interatividade.
Não será mais possível mostrar
uma história congelada.
Tradução Clara Allain
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