SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

A importância do funk como fenômeno social e artístico no Rio de Janeiro e seus principais satélites culturais é inegável, mesmo que haja controvérsias sobre sua qualidade musical. Está entranhado no dia-a-dia daquela cidade, sendo um dos grandes contribuintes para o linguajar corrente carioca e fonte de idéias para figurinos por lá.
Ainda faltam trabalhos que explorem bem o que o gênero representa com a envergadura do trabalho de Hermano Vianna no livro "O Mundo Funk Carioca" (1988) ou com mais visibilidade do que a conseguida pelo documentário "Febre de Funk" (2001), realizado por Gustavo Caldas e Pedro Só.
Essa ausência ainda não será suprida pelo programa "Tribos", do Multishow, que, em sua primeira edição, é dedicada ao estilo. OK, a idéia talvez não seja essa. O principal aqui é assistir a seu apresentador, o ator global Paulo Vilhena e uma convidada, a atriz idem Carolina Dieckmann em uma incursão por um baile promovido pelo DJ Marlboro.
Vilhena, após protagonizar uma constrangedora abertura -em que se traveste como hippie, sambista de raiz etc.-, explica que a ambição do programa é "desvendar, descobrir, entender todas as tribos do Brasil".
Mas, a seguir, o que se vê é o apresentador e Dieckmann no banco de uma van, num karaokê improvisado em que interpretam os sucessos mais conhecidos do funk e discutem quais foram os papéis mais marcantes da carreira da atriz. Tudo pontuado pelas breves declarações de artistas como Lobão e Caetano Veloso com impressões sobre o gênero e pelo veredicto de DJ Marlboro se Carolina Dieckmann é ou não uma "tchutchuca".
Sim, há entrevistas que abordam a pornografia nas letras, o vocabulário característico e o preconceito contra o funk, mas tudo muito rápido, superficial e sem sabor. A meta talvez não tenha sido a profundidade, mas o pancadão ao estilo global não chega a ser, para usar um termo do gênero, "chapa quente".