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A quadrilha na mira das câmeras
Comando Vermelho
Origem da facção criminosa servirá para filme de Breno Silveira, com roteiro do escritor Paulo Lins
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
A Conspiração Filmes está preparando um filme que terá como
pano de fundo as origens do Comando Vermelho -a mais antiga e principal facção do crime organizado do Rio. A trama central
vai narrar a vida de um morador
de favela, Dé, da sua infância até o
momento em que vira um dos líderes do comando e inicia um romance com uma jornalista de
classe média.
"A História de Dé" será a estréia
na direção de Breno Silveira, 37,
um dos sócios da Conspiração. A
idéia do longa surgiu durante seu
trabalho como assistente do documentarista Eduardo Coutinho,
no filme "Santa Marta: Duas Semanas no Morro" (1987).
Foi naquela ocasião, ali no morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul da cidade, que Breno Silveira conheceu um menino de 12
anos que ajudava a carregar os
equipamentos da produção do
documentário e depois se transformaria no Marcinho VP, um
dos líderes do Comando Vermelho e que está atualmente preso
em Bangu 1.
"Aquela foi uma experiência
que me marcou muito. Eu me
lembro de um depoimento bonito do Marcinho VP, em que ele
afirmava que gostaria de ser advogado, mas que a vida, com certeza, não iria deixar", conta Breno
Silveira.
Marcinho VP é o traficante que
ganhou notoriedade no ano passado, quando o documentarista
João Moreira Salles revelou que,
durante quatro meses, lhe pagou
uma mesada para que escrevesse
um livro e deixasse o crime.
Para contar sua história ficcional, Silveira já havia encomendado diversos roteiros até que encontrou uma pessoa que "falasse
de dentro": o escritor Paulo Lins,
42, que morou em favelas e é autor do livro "Cidade de Deus",
lançado em 1997.
Paulo Lins entrevistou bandidos e ambientou o roteiro no final
dos anos 70 e início dos 80, quando surge o Comando Vermelho,
no presídio da Ilha Grande. Foi ali
que presos comuns aprenderam
técnicas de guerrilha e organização ao entrar em contato com
presos políticos do regime militar.
Os presos políticos ficavam na
galeria B, isolada do resto do presídio. Para o local eram levados os
assaltantes de bancos, também
enquadrados na LSN (Lei de Segurança Nacional).
"O regime militar não queria
isolar completamente os presos
políticos para não tornar evidente
que existia uma luta armada no
país. Tratava todos como terroristas", diz Paulo Lins. A galeria B,
com sua mistura de presos comuns e políticos, foi o berço da
Falange Vermelha, que depois de
transformaria no Comando Vermelho.
"A Falange Vermelha, quando
surgiu, não era voltada para a obtenção de lucros. Ela queria lutar
contra os estupros, os roubos e os
maus-tratos que ocorriam na cadeia. A falange queria acabar com
o crime no morro e fazer coisas
sérias -não isso que está aí hoje",
afirma Lins. Conforme os líderes
mais politizados foram morrendo, a falange foi ficando cada vez
mais violenta.
Paulo Lins posiciona o personagem Dé como um integrante da
facção original. Ele é um bandido
que tem preocupações sociais e
faz um trabalho comunitário no
morro, chamando a atenção de
uma jornalista da classe média, filha do secretário estadual de Segurança.
O caso lembra muito o romance
ocorrido nos anos 80 entre Maria
de Paula Amaral, filha do ex-vice-governador do Estado do Rio
Francisco Amaral, e o bandido
"Meio-Quilo". Paulo Lins, porém,
conta que o roteiro não se apega a
fatos ou personagens reais. "É
uma história que não aconteceu,
mas poderia ter acontecido", diz.
Personagens sem chance
Breno Silveira afirma que o filme é a história dos personagens
que não tiveram chance. Ele pretende iniciar e terminar o longa-metragem lembrando o episódio
do ônibus 174, quando um sobrevivente da chacina da Candelária,
Sandro do Nascimento, 23, fez várias mulheres de reféns num ônibus que passava pelo Jardim Botânico, zona sul do Rio.
As imagens da tensa negociação
foram transmitidas ao vivo pela
televisão, tendo como desfecho a
morte da professora Geísa Gonçalves, no momento em que o sequestrador já estava se entregando. Sandro, levado num camburão, foi morto por asfixia. Cinco
policiais militares respondem a
um processo sob a acusação de
homicídio.
"Eu gostaria que a sociedade revisse esse caso e, depois de ver a
história de Dé, torcesse para o
bandido sair daquele ônibus.
Queria mostrar o que foi a vida
daquele cara até ele chegar e
apontar a arma para a cabeça daquela menina. É um assunto muito difícil de julgar, e a sociedade
pedia que ele morresse", diz Breno Silveira, que pretende começar
a filmar em um ano e meio.
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