|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Obra oferece bons textos
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA
O que encantou Carlos
Drummond de Andrade em
"Pluft, o Fantasminha" (1955), de
Maria Clara Machado, foi a mensagem do espetáculo. Escreveu o
poeta que a autora nos ensina "a
amar nossos semelhantes sem
deixar de sorrir de suas bobagens,
e a amá-los até mesmo em função
disso". No livro "Artistas Brasileiros - Maria Clara Machado"
(Edusp, 1998), a pesquisadora
Cláudia Arruda de Campos reafirma essa idéia e diz que "Pluft"
mantém-se atual por discutir o
sentimento universal do medo.
A autora é a referência do teatro
infantil no Brasil. Seu trabalho é
importante em vários aspectos.
Um dos valores consiste em ter
oferecido à arte dramática para as
crianças o que ela mais precisa:
bons textos.
Sua obra é extensa e considerada irregular, mas em sua totalidade abrange um universo variado e
rico culturalmente. Adaptou
"Chapeuzinho Vermelho", inventou "O Rapto das Cebolinhas" e
criou úteis "Exercícios de Palco",
esquetes teatrais bem-humoradas
sobre o dia-a-dia das crianças na
escola e em casa.
Há poucas montagens de trabalhos seus nos palcos paulistanos
dignas de nota. Nos anos 90, duas
chamam a atenção, sobre uma
única peça: "A Menina e o Vento", que foi criada porque Maria
Clara Machado desejou pôr em
cena uma ventania que presenciara em Cabo Frio, no Rio.
Cláudia Arruda Campos conta
que a dramaturga preocupava-se
em fazer um teatro que fosse
"poesia em movimento no espaço". Aqui, o teatro "é uma linguagem concreta que deve satisfazer
primeiro os sentidos, há uma poesia para os sentidos como há uma
poesia para a linguagem".
As montagens de André Garolli,
de 94, e de Cininha de Paula, de
99, enfatizam essa figura grandiosa do vento, metáfora da liberdade e que imprime ao mesmo tempo o tom lúdico ao enredo.
Na comédia de Garolli, o vento
ocupa toda a cena, o palco adquire diferentes tons por conta da iluminação. É o pó do pirlimpimpim
do vento.
Na montagem de Campos, a ênfase é outra. O vento sopra de raiva nos problemas brasileiros, tomando metaforicamente a situação narrada. Há uma cena em que
a polícia é caracterizada paradoxalmente: como pode querer
proibir a passagem do vento? O
musical-comédia enfatiza uma
realidade em que entram em cena
tias atrapalhadas, policiais ineficientes, jornalistas ansiosos por
notícia. Sua ironia funciona como
crítica aos ensinamentos e ao
comportamento dos adultos.
Além de tudo, o trunfo pedagógico de Maria Clara Machado está
em propor uma interação, tão solicitada à criança, adequada ao
meio, o teatro. No caso de "A Menina e o Vento", o espectador infantil é tomado pelas dimensões
lúdicas do vento, fica concentrado, diverte-se e aprende com o espetáculo.
Texto Anterior: Autora formou talentos em O Tablado Próximo Texto: Principais obras Índice
|