São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2001

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ANÁLISE

Obra oferece bons textos

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

O que encantou Carlos Drummond de Andrade em "Pluft, o Fantasminha" (1955), de Maria Clara Machado, foi a mensagem do espetáculo. Escreveu o poeta que a autora nos ensina "a amar nossos semelhantes sem deixar de sorrir de suas bobagens, e a amá-los até mesmo em função disso". No livro "Artistas Brasileiros - Maria Clara Machado" (Edusp, 1998), a pesquisadora Cláudia Arruda de Campos reafirma essa idéia e diz que "Pluft" mantém-se atual por discutir o sentimento universal do medo.
A autora é a referência do teatro infantil no Brasil. Seu trabalho é importante em vários aspectos. Um dos valores consiste em ter oferecido à arte dramática para as crianças o que ela mais precisa: bons textos.
Sua obra é extensa e considerada irregular, mas em sua totalidade abrange um universo variado e rico culturalmente. Adaptou "Chapeuzinho Vermelho", inventou "O Rapto das Cebolinhas" e criou úteis "Exercícios de Palco", esquetes teatrais bem-humoradas sobre o dia-a-dia das crianças na escola e em casa.
Há poucas montagens de trabalhos seus nos palcos paulistanos dignas de nota. Nos anos 90, duas chamam a atenção, sobre uma única peça: "A Menina e o Vento", que foi criada porque Maria Clara Machado desejou pôr em cena uma ventania que presenciara em Cabo Frio, no Rio.
Cláudia Arruda Campos conta que a dramaturga preocupava-se em fazer um teatro que fosse "poesia em movimento no espaço". Aqui, o teatro "é uma linguagem concreta que deve satisfazer primeiro os sentidos, há uma poesia para os sentidos como há uma poesia para a linguagem".
As montagens de André Garolli, de 94, e de Cininha de Paula, de 99, enfatizam essa figura grandiosa do vento, metáfora da liberdade e que imprime ao mesmo tempo o tom lúdico ao enredo.
Na comédia de Garolli, o vento ocupa toda a cena, o palco adquire diferentes tons por conta da iluminação. É o pó do pirlimpimpim do vento.
Na montagem de Campos, a ênfase é outra. O vento sopra de raiva nos problemas brasileiros, tomando metaforicamente a situação narrada. Há uma cena em que a polícia é caracterizada paradoxalmente: como pode querer proibir a passagem do vento? O musical-comédia enfatiza uma realidade em que entram em cena tias atrapalhadas, policiais ineficientes, jornalistas ansiosos por notícia. Sua ironia funciona como crítica aos ensinamentos e ao comportamento dos adultos.
Além de tudo, o trunfo pedagógico de Maria Clara Machado está em propor uma interação, tão solicitada à criança, adequada ao meio, o teatro. No caso de "A Menina e o Vento", o espectador infantil é tomado pelas dimensões lúdicas do vento, fica concentrado, diverte-se e aprende com o espetáculo.


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