São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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EVENTO

Para curador de "Poesia em Tempo de Guerra e Banalidade", literatura se tornou paródia das artes de entretenimento

Encontro de poetas propõe crítica à apatia nas letras

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem a polarização ideológica que marcou o mundo até os anos 90, a literatura produzida após a queda do Muro de Berlim, marco do fim da Guerra Fria, é apática e acrítica e tende a ser mera imitação ou paródia das artes de entretenimento, como cinema e televisão. A proposição parte do poeta e tradutor Régis Bonvicino, curador, ao lado do crítico literário e professor Alcir Pécora, do Encontro Internacional de Poesia, que acontece em maio e junho no Espaço Cultural CPFL, em Campinas, com o tema "Poesia em Tempo de Guerra e Banalidade".
Segundo Pécora, a poesia a que se referem, e que eles querem criticar, é irrelevante, estúpida ou boçal. "Uma poesia que é acúmulo de vulgaridade, aplicação miúda e sistemática de poéticas bem reconhecidas e reconhecíveis."
Já Bonvicino defende que, depois da queda do Muro de Berlim, houve uma erosão da capacidade crítica da sociedade, refletida nas artes. E mais: o legado do século 20 não é a produção artística de escritores como Ezra Pound ou Maiakóvski, de pintores como Picasso, nem o modernismo, mas sim uma violência que "entorpece o mundo e as artes, conformadas com respostas medianas".

Crítica à Flip
"Há uma busca pelo midiático, pela "easy literature", e a Flip [Festa Literária Internacional de Paraty] é bom exemplo disso", critica Bonvicino. "Os escritores vêm para o Brasil e ficam passeando de barquinho, falando amenidades, de gênero. Queremos romper com esse mundo literário."
Pécora vai além e até mesmo descarta a idéia de um mundo literário "alternativo". O que querem, diz o crítico, é falar de uma poesia que não se isola do mundo.
"O que se supõe ou espera [do encontro] é a discussão das possibilidades de uma poesia que se quer atuante na construção e na transformação do real, e não na sua ornamentação "literária" ou "poética". Numa frase, espera-se um encontro onde a poesia signifique uma hipótese radical de crítica", arremata Pécora.

Linguagem
Na prática, o rompimento que propõem os curadores se manifesta já no elenco de convidados. A Bonvicino, Pécora e Roberto Piva se juntarão escritores de países cujos idiomas lhes conferem um caráter periférico, como o próprio português, no Brasil. Caso do russo Arkaddi Dragomoshenko, do chinês Yao Jing Ming e do finlandês Leevi Lehto.
"São nomes ligados à idéia de inovação da linguagem na poesia. Ninguém virá para passear de barco", salienta Bonvicino.
Lehto fala no dia 25 de maio sobre "Poesia, Poder e Liberdade". No dia 1º de junho, Yao Jing Ming discorre sobre "A Poesia Chinesa e a Internet". A primeira palestra acontece no dia 4 de maio, com Dragomoshenko discorrendo "Sobre o Supérfluo". O escritor russo abre o encontro falando também sobre o caráter performático da guerra:
"A guerra existe além das dimensões do ser humano, além de passado, futuro e morte. Ela se transforma em meras imagens de televisão e nos reduz a figuras unidimensionais. Como a poesia é revolução sem fim, a resistência reside na escrita."


Encontro Internacional de Poesia
Quando:
de 4 de maio a 29 de junho (às quintas, sempre às 19h)
Onde: Espaço Cultural CPFL (r. Jorge Figueiredo Corrêa, 1.632, Chácara Primavera, Campinas, tel. 0/xx/19/ 3756-8000)
Quanto: entrada franca


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