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EVENTO
Para curador de "Poesia em Tempo de Guerra e Banalidade", literatura se tornou paródia das artes de entretenimento
Encontro de poetas propõe crítica à apatia nas letras
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem a polarização ideológica
que marcou o mundo até os anos
90, a literatura produzida após a
queda do Muro de Berlim, marco
do fim da Guerra Fria, é apática e
acrítica e tende a ser mera imitação ou paródia das artes de entretenimento, como cinema e televisão. A proposição parte do poeta e
tradutor Régis Bonvicino, curador, ao lado do crítico literário e
professor Alcir Pécora, do Encontro Internacional de Poesia, que
acontece em maio e junho no Espaço Cultural CPFL, em Campinas, com o tema "Poesia em Tempo de Guerra e Banalidade".
Segundo Pécora, a poesia a que
se referem, e que eles querem criticar, é irrelevante, estúpida ou
boçal. "Uma poesia que é acúmulo de vulgaridade, aplicação miúda e sistemática de poéticas bem
reconhecidas e reconhecíveis."
Já Bonvicino defende que, depois da queda do Muro de Berlim,
houve uma erosão da capacidade
crítica da sociedade, refletida nas
artes. E mais: o legado do século
20 não é a produção artística de
escritores como Ezra Pound ou
Maiakóvski, de pintores como Picasso, nem o modernismo, mas
sim uma violência que "entorpece
o mundo e as artes, conformadas
com respostas medianas".
Crítica à Flip
"Há uma busca pelo midiático,
pela "easy literature", e a Flip [Festa Literária Internacional de Paraty] é bom exemplo disso", critica Bonvicino. "Os escritores vêm
para o Brasil e ficam passeando de
barquinho, falando amenidades,
de gênero. Queremos romper
com esse mundo literário."
Pécora vai além e até mesmo
descarta a idéia de um mundo literário "alternativo". O que querem, diz o crítico, é falar de uma
poesia que não se isola do mundo.
"O que se supõe ou espera [do
encontro] é a discussão das possibilidades de uma poesia que se
quer atuante na construção e na
transformação do real, e não na
sua ornamentação "literária" ou
"poética". Numa frase, espera-se
um encontro onde a poesia signifique uma hipótese radical de crítica", arremata Pécora.
Linguagem
Na prática, o rompimento que
propõem os curadores se manifesta já no elenco de convidados.
A Bonvicino, Pécora e Roberto Piva se juntarão escritores de países
cujos idiomas lhes conferem um
caráter periférico, como o próprio
português, no Brasil. Caso do russo Arkaddi Dragomoshenko, do
chinês Yao Jing Ming e do finlandês Leevi Lehto.
"São nomes ligados à idéia de
inovação da linguagem na poesia.
Ninguém virá para passear de
barco", salienta Bonvicino.
Lehto fala no dia 25 de maio sobre "Poesia, Poder e Liberdade".
No dia 1º de junho, Yao Jing Ming
discorre sobre "A Poesia Chinesa
e a Internet". A primeira palestra
acontece no dia 4 de maio, com
Dragomoshenko discorrendo
"Sobre o Supérfluo". O escritor
russo abre o encontro falando
também sobre o caráter performático da guerra:
"A guerra existe além das dimensões do ser humano, além de
passado, futuro e morte. Ela se
transforma em meras imagens de
televisão e nos reduz a figuras unidimensionais. Como a poesia é
revolução sem fim, a resistência
reside na escrita."
Encontro Internacional de Poesia
Quando: de 4 de maio a 29 de junho (às
quintas, sempre às 19h)
Onde: Espaço Cultural CPFL (r. Jorge
Figueiredo Corrêa, 1.632, Chácara
Primavera, Campinas, tel. 0/xx/19/ 3756-8000)
Quanto: entrada franca
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