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Crítica/"Amigo É Casa"
Simone e Zélia Duncan dão prioridade a lado B de carreiras
Cantoras driblam obviedade e escolhem músicas menos conhecidas para disco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
O encontro entre uma
cantora que não conseguiu manter ao longo
da carreira o bom gosto do início e outra que se dilui em projetos demais podia dar numa
soma do pior das duas. Felizmente (e até surpreendentemente), não é o que acontece
em "Amigo É Casa", CD e DVD
gravados em outubro de 2007
no Auditório Ibirapuera.
Há dois motivos para isso. O
primeiro é ser um show de dupla mesmo, com poucos momentos solo, e não dois blocos
independentes com um palco
em comum. O segundo é o repertório, que tem músicas inéditas nas vozes de ambas e outras do lado B das respectivas carreiras, salvando-nos daquelas canções que, se tinham qualidade, a massificação liquidou.
"Seria fácil juntarmos sucessos, ela cantava "Começar de
Novo", eu cantava "Catedral", e o
público ficava feliz. Mas acho
que não há outro caminho que
não seja a contramão. As pessoas não foram convidadas para cantar com a gente, mas para
ouvir a gente cantar", afirma
Duncan, para quem seu público
"está acostumado a ser decepcionado" e o de Simone deve ter
tido "uma surpresa gostosa".
É gratificante ver e/ou ouvir
(há faixas que estão só no DVD)
Simone cantando músicas de
seus melhores discos (do fim
dos anos 70), como "Medo de
Amar n.º 2" (Tite de Lemos/
Sueli Costa), "Vento Nordeste"
(Sueli Costa/Abel Silva), "Petúnia Resedá" (Gonzaguinha) e
"Encontros e Despedidas"
(Milton Nascimento/Fernando Brant) -que ela foi a primeira a gravar, em 1981.
A cafonice que passou a predominar em seus trabalhos a
partir de meados dos anos 80 fica de fora, graças também aos
bons arranjos, sem teclados ou
sopros gosmentos. Já Duncan
deixa para lá hits como "Carne
e Osso" e mostra canções de
paulistas que são, por definição, lado B: "Kitnet" (Alzira E/
Arruda), "Na Próxima Encarnação" (Itamar Assumpção) e
"A Companheira" (Luiz Tatit).
E há momentos em que elas
brilham juntas, como "Alguém
Cantando" (Caetano Veloso)
na abertura, "Gatas Extraordinárias" (idem), "Meu Ego" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) e
"Ralador" (Roque Ferreira/
Paulo César Pinheiro).
"Almas"
Algumas escolhas são um
tanto previsíveis para um encontro entre duas mulheres,
como "Grávida" (Marina Lima/
Arnaldo Antunes) e "Mar e
Lua" (Chico Buarque), e outras
são dispensáveis em qualquer
contexto, como "Cuide-se
Bem" (Guilherme Arantes). E a
fusão da "Alma" (Sueli Costa/
Abel Silva) que foi sucesso de
Simone com a "Alma" (Pepeu
Gomes/Arnaldo Antunes) de
Duncan é previsível e dispensável, mas há o atenuante de que
as vozes estão trocadas.
Não custa torcer para que essa parceria, iniciada em 2005 e
que teve alguns shows desde
então até chegar à gravação do
CD/DVD, aponte bons caminhos para as duas, distanciando-as tanto quanto possível
-em especial no caso de Simone- da banalização.
AMIGO É CASA
Artistas: Simone e Zélia Duncan
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33 (CD) e R$ 36 (DVD),
em média
Avaliação: bom
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