São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

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Crítica/"Amigo É Casa"

Simone e Zélia Duncan dão prioridade a lado B de carreiras

Cantoras driblam obviedade e escolhem músicas menos conhecidas para disco

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

O encontro entre uma cantora que não conseguiu manter ao longo da carreira o bom gosto do início e outra que se dilui em projetos demais podia dar numa soma do pior das duas. Felizmente (e até surpreendentemente), não é o que acontece em "Amigo É Casa", CD e DVD gravados em outubro de 2007 no Auditório Ibirapuera.
Há dois motivos para isso. O primeiro é ser um show de dupla mesmo, com poucos momentos solo, e não dois blocos independentes com um palco em comum. O segundo é o repertório, que tem músicas inéditas nas vozes de ambas e outras do lado B das respectivas carreiras, salvando-nos daquelas canções que, se tinham qualidade, a massificação liquidou.
"Seria fácil juntarmos sucessos, ela cantava "Começar de Novo", eu cantava "Catedral", e o público ficava feliz. Mas acho que não há outro caminho que não seja a contramão. As pessoas não foram convidadas para cantar com a gente, mas para ouvir a gente cantar", afirma Duncan, para quem seu público "está acostumado a ser decepcionado" e o de Simone deve ter tido "uma surpresa gostosa".
É gratificante ver e/ou ouvir (há faixas que estão só no DVD) Simone cantando músicas de seus melhores discos (do fim dos anos 70), como "Medo de Amar n.º 2" (Tite de Lemos/ Sueli Costa), "Vento Nordeste" (Sueli Costa/Abel Silva), "Petúnia Resedá" (Gonzaguinha) e "Encontros e Despedidas" (Milton Nascimento/Fernando Brant) -que ela foi a primeira a gravar, em 1981.
A cafonice que passou a predominar em seus trabalhos a partir de meados dos anos 80 fica de fora, graças também aos bons arranjos, sem teclados ou sopros gosmentos. Já Duncan deixa para lá hits como "Carne e Osso" e mostra canções de paulistas que são, por definição, lado B: "Kitnet" (Alzira E/ Arruda), "Na Próxima Encarnação" (Itamar Assumpção) e "A Companheira" (Luiz Tatit).
E há momentos em que elas brilham juntas, como "Alguém Cantando" (Caetano Veloso) na abertura, "Gatas Extraordinárias" (idem), "Meu Ego" (Roberto Carlos/Erasmo Carlos) e "Ralador" (Roque Ferreira/ Paulo César Pinheiro).

"Almas"
Algumas escolhas são um tanto previsíveis para um encontro entre duas mulheres, como "Grávida" (Marina Lima/ Arnaldo Antunes) e "Mar e Lua" (Chico Buarque), e outras são dispensáveis em qualquer contexto, como "Cuide-se Bem" (Guilherme Arantes). E a fusão da "Alma" (Sueli Costa/ Abel Silva) que foi sucesso de Simone com a "Alma" (Pepeu Gomes/Arnaldo Antunes) de Duncan é previsível e dispensável, mas há o atenuante de que as vozes estão trocadas.
Não custa torcer para que essa parceria, iniciada em 2005 e que teve alguns shows desde então até chegar à gravação do CD/DVD, aponte bons caminhos para as duas, distanciando-as tanto quanto possível -em especial no caso de Simone- da banalização.


AMIGO É CASA
Artistas:
Simone e Zélia Duncan
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33 (CD) e R$ 36 (DVD), em média
Avaliação: bom


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