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Crítica/"Estrada Real de Villa Rica"
Celso Adolfo visita passado colonial em CD
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os passos dessa estrada
partem do Clube da
Esquina, mas fazem
escala no mundo da modinha e
nas veredas do grande sertão.
Em 57 minutos de música, divididos por 18 canções, Celso
Adolfo realiza uma visita contemporânea, e com sotaque mineiro, ao passado colonial brasileiro, em "Estrada Real de Villa Rica".
Autor de trilhas sonoras para
o Giramundo, grupo de teatro
de bonecos de Álvaro Apocalypse, Celso Adolfo, 55, estreou em 1983 com "Coração
Brasileiro", produzido por Milton Nascimento, que também
gravou a canção-título do álbum no disco "Anima" (a música ainda seria registrada por Elba Ramalho, dando nome a um LP da cantora paraibana).
Trabalhando com elementos
da tradição oral mineira, como
a folia, o catupês e o cateretê,
Celso Adolfo se lança à ambiciosa tarefa de fazer uma descrição poético-musical do Caminho Novo, a via aberta construída entre 1698 e 1707 pelo
bandeirante Garcia Rodrigues
Paes (filho de Fernão Dias) para ligar o Rio de Janeiro a Minas Gerais, substituindo, com
ganhos de segurança e velocidade, o Caminho Velho (que
dava em Paraty).
Para dar conta da empreitada, o músico lança mão de um
vasto arcabouço poético, que
inclui citações a Castro Alves
("O Navio Negreiro"), Guimarães Rosa (um trecho de "Grande Sertão: Veredas") e até a estrofe de um batuque de domínio público.
Violino e viola caipira
A variedade dos versos, coerentemente, encontra eco nas
sonoridades de "Estrada Real
de Villa Rica" -Celso Adolfo
chega a colocar letra em uma
modinha anônima encontrada
em Diamantina, no século 19.
Instrumentos "eruditos", como o cravo, o violino e a flauta
doce, convivem com o dedilhado rasgado da viola caipira e
com efeitos de guitarra e teclados eletrônicos, assim como o
melodismo singelo e a rítmica
pronunciada do sertão caminha ao lado de harmonias "modernas" e urbanas no estilo
Clube da Esquina.
Com participações breves e
pontuais de Renato Braz, Vander Lee e Fernanda Takai, entre outros, o disco, conduzido
pelo vocal sóbrio e sem afetação do próprio Celso Adolfo, se
deixa ouvir de maneira agradável mesmo por quem não tem
especial ligação com a cultura
de Minas Gerais.
ESTRADA REAL DE VILLA RICA
Gravadora: Sonhos & Sons
Quanto: R$ 28,90, em média
Avaliação: bom
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