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TELEVISÃO
Reportagens do 'Vitrine' dão ar mais pessoal à TV
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Toda segunda-feira, desde fevereiro, o "Metrópolis" exibe três
minutos de um filme inusitado ao
final do primeiro bloco do programa. Cineastas, artistas plásticos,
músicos, comparecem com pequenas observações sobre o urbano no quadro "Matéria Assinada". Algumas contribuições atingem um grau de poesia raro na TV.
"Murilolendo", uma homenagem do cineasta Carlos Reichenbach, familiares e amigos, ao poeta
Murilo Mendes foi um dos primeiros filmes exibidos no "Matéria
Assinada". Trata-se de uma emocionante montagem de leituras da
obra do poeta. A matéria literária
aqui se beneficia do vídeo.
O espaço é pequeno e os recursos
restritos a equipamento e material. As contribuições são diversificadas em estilo e linguagem. Uns
aproveitam a infra-estrutura da
TV Cultura para realizar reportagens inusitadas.
É o caso da atriz, diretora e roteirista Lili Fonseca, com sua hilária
autoinvestigação sobre workahólicos em São Paulo. Ou do artista
plástico Ivald Granato, com a reportagem sobre as artes que gostaria de ver na TV.
Outros aproveitaram trabalhos
anteriores. O diretor Joel Pizzini
produziu uma colagem de alguns
de seus filmes, que resultou em um
bonito clipe poético de Itamar Assumpção sobre São Paulo. Francisco César Filho selecionou trechos sobre a Mooca.
A BBC de Londres produziu pelo
menos duas séries com espírito semelhante ao do "Matéria Assinada". Poemas visuais de um minuto
baseados em clássicos da poesia
inglesa que funcionavam muito
bem como interprogramas. E leituras do noticiário do dia feitas
por artistas não especializados em
televisão, exibidas como matéria
de destaque no jornal da noite.
Mas são iniciativas isoladas.
Poemas visuais ou clipes poéticos são raridade na TV. A programação corriqueira é formatada de
acordo com convenções muito definidas, regras que os profissionais
da reportagem e da ficção dominam bem e que são facilmente reconhecidas pelo público.
O tom impessoal da notícia talvez seja a mais forte dessas convenções. Quando o assunto é cultura, esse tom é quase sempre temperado por uma invariável boa
vontade com o que é apresentado.
Com a criação do "Matéria Assinada", o "Metrópolis" abre espaço para intervenções personalizadas, olhares subjetivos que podem
e devem fugir às regras dessa gramática convencional. A curta duração é adequada e eficaz. Hoje à
noite vai ao ar a contribuição do
artista gráfico Rudi Bhn sobre a
poluição visual na cidade.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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