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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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TV

Série em canal pago simula evolução das espécies que podem habitar a Terra, sem humanos, daqui a 5 milhões de anos

Cientistas constroem animais do futuro

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece brincadeira de criança: o que dá um cruzamento de rato com rinoceronte? Um ratoceronte, oras. Embora não seja o resultado dessa impossível relação, um ratoceronte poderá existir daqui a 5 milhões de anos. Será uma espécie de roedor com escamas que se alimentará de tubérculos.
A brincadeira de criança foi bolada por cientistas e começa hoje, às 23h, no canal de TV paga Discovery Channel. O "documentário" "Futuro Selvagem" é uma fantástica simulação de como seria a vida na Terra sem os seres humanos em 5, 100 e 200 milhões de anos.
Sem os seres humanos e sua capacidade para afetar a vida do planeta, ela poderia evoluir de modo mais natural, de acordo com as clássicas regras anotadas pelo biólogo Charles Darwin (1809-1882).
Os animais mostrados podem parecer absurdos -como uma tartaruga de dezenas de toneladas ou um polvo capaz de viver em terra. Mas todos são baseados em "fatos reais", pois a simulação procura respeitar o que a ciência conhece sobre o mundo natural.
Os ratocerontes terão como companheiros os pícolos -aves incapazes de vôo, descendentes das codornas-, já que ambos os animais serão habitantes dos desertos do futuro.
Nas grandes geleiras haverá um predador temível, o dente-de-sabre-polar, que, apesar de parecer uma mistura do extinto tigre-de-dente-de-sabre e de um urso polar, na verdade tem como ancestral o glutão (nome científico Gulo luscus), um feroz predador das tundras (cujo nome em inglês, "wolverine", virou personagem de quadrinhos em "X-Men").
Primeiro, foi preciso saber como o mapa da Terra vai ser. Esta foi a tarefa dos paleogeógrafos, estudiosos da geografia antiga do planeta, que se basearam nos movimentos da crosta terrestre para imaginar os mundos do futuro.
Depois vieram os simuladores do clima e depois os biólogos, tentando entender que plantas e animais viveriam nos ambientes formados. "Foi preciso usar a imaginação. A interação entre plantas, animais e o ambiente é muito complexa. Há várias possibilidades. O perigo foi o de não ser imaginativo o suficiente", declarou em entrevista um dos cientistas consultados, R. McNeill Alexander, um pesquisador de fama mundial especialista em biomecânica, da Universidade de Leeds, na Inglaterra.
Muitos dos animais são gigantes, algo que já aconteceu no passado, na era dos dinos. A toraton de 120 toneladas seria uma enorme descendente dos cágados do mundo daqui a 100 milhões de anos. E 200 milhões de anos depois haveria também uma lula-arco-íris de 40 metros de comprimento no mar, capaz de usar luzes (o fenômeno da bioluminescência) para se camuflar.
"Escolhemos animais que seriam interessantes para o espectador", diz o produtor da série, John Adams. Como são mostrados animais que não existem, tudo é na base da animação computadorizada, como se fez com os dinos de filmes como "Jurassic Park". "A idéia era explicar como a evolução trabalha, mas fazendo algo diferente dos documentários sobre dinossauros, falar do futuro em vez do passado", diz ele.
Ainda bem que, segundo a série, não existirão seres humanos na Terra. Seria preciso pensar bem antes de ir à praia com os oceanos dominados por ferozes tubalumnis, tubarões inteligentes capazes de se comunicar entre si por sinais luminosos.


FUTURO SELVAGEM - série com seis episódios. Quando: todas as seg., a partir de hoje, às 23h, no Discovery Channel.


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