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LANÇAMENTO
Guitarrista norte-americano volta às raízes com o abandono da guitarra pelo violão e canta em todas as faixas
Buddy Guy acústico mergulha no pântano do blues
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
A saída fácil seria repetir a receita do aclamado "Sweet Tea", CD
de 2001. Mas isso é pouco para o
guitarrista norte-americano
Buddy Guy, que, aos 66 anos,
mais uma vez leva seu blues para
passear pelos caminhos da incerteza e lança mundialmente amanhã o álbum "Blues Singer".
No trabalho anterior, Guy resgatava de maneira elétrica o som
cru, sujo e rústico que se ouve até
hoje nos cafundós do Mississippi.
Agora, acústico, ele mergulha ainda mais fundo no pântano blueseiro, a ponto de ver e trazer à tona as raízes do estilo.
De sua casa em Chicago, o guitarrista disse por telefone à Folha
que, em nenhum momento, teve
receio da mudança brusca.
"Quando estive no Brasil pela primeira vez, em 85, estava sem contrato, sem dinheiro, passando dificuldades. Depois de ter enfrentado aquilo, eu não tenho medo
de mais nada."
Não é a primeira vez que Guy
deixa ociosas as tomadas do estúdio. Em álbuns como "Buddy and
the Juniors" (70) e "Alone and
Acoustic" (91), ele só usou violões. E ele diz não sentir falta da
eletricidade que o levou a influenciar Eric Clapton e Jimi Hendrix.
"Aprendi a tocar no violão. Na
minha infância, só tínhamos luz
de vela. Se eu possuísse uma guitarra, não teria onde plugar."
Segundo o guitarrista, a grande
fonte de inspiração do novo trabalho é o disco "Folk Singer", lançado em 64 por Muddy Waters
(1915-83) e no qual um jovem Guy
foi convidado para tocar as bases.
Houve resistência dos executivos da gravadora Chess, que exigiam que Waters fosse até o sul
dos EUA procurar velhos blueseiros. "Vi o pessoal da gravadora
discutindo com Muddy. Só pararam depois de me ouvir tocar."
Esse é um problema que James
"Jimbo" Mathus, guitarrista da
banda de rock Squirrel Nut Zippers, não teve de enfrentar. "Apesar de ele ser jovem, eu o convidei
pois sabia que ele traria a substância de que eu precisava em "Blues
Singer". Acho que ele está mais
bem preparado do que eu quando
participei do disco de Muddy."
Fora do rádio
Para Guy, seu novo trabalho
não tem nada a ver com a febre
dos CDs acústicos e não conseguirá atrair muito mais ouvintes para
o blues. Ele culpa as emissoras de
rádio por isso.
"Tenho um filho de 21 anos que
ouviu a música de Buddy Guy no
rádio só agora. E nem era uma
gravação minha, mas sim um trecho sampleado por um rapper."
Aparentemente, a constatação
não dá margem a desânimo: "Um
dia, a garotada vai ouvir o que é
bom. E aí não voltarão mais atrás.
É como quando você experimenta feijoada e percebe que fast food
não tem a menor graça", diz o
blueseiro, que desperdiçou poucas chances de fazer menções ao
Brasil durante a entrevista.
Além de mostrar o guitarrista
fora de seu habitat natural, "Blues
Singer" traz dois convidados também mais habituados com a eletricidade: Eric Clapton (em duas
faixas) e B.B. King (em uma).
Guy afirma que passou longe de
sua cabeça a idéia de gravar um
CD com uma coleção de duetos,
praga que andou rondando trabalhos do próprio King e de John
Lee Hooker, só para ficar em dois
exemplos vindos do blues.
"No ano passado, falei com
[Carlos] Santana, que vem fazendo sucesso com essa coisa de duetos. Ele disse ter tentado chamar
Tina Turner para participar do
seu último CD ['Shaman']. Mas
ela se mostrou grande demais, velha demais. Não quero passar pelo
mesmo tipo de desilusão."
Violões e carros
"Blues Singer" é produzido por
Dennis Herring, que também assina trabalhos de bandas roqueiras como Counting Crows, Cracker e Jars of Clay. Segundo Guy, o
grande mérito do produtor foi
criar o ambiente perfeito para que
chegasse ao CD o mesmo som
que foi produzido no estúdio.
Essa é primeira vez que o guitarrista passeia seu vozeirão pelas 12
músicas do disco. E ele participou
pouco do processo de seleção do
repertório. "Os produtores e empresários chegavam para mim e
perguntavam: "O que você acha
de gravar isso?"."
Guy afirma que pretende deixar
a sua Fender Stratocaster em casa
por um tempo e partir para a estrada fazendo shows acústicos. E a
guitarra não vai deixar saudade?
"Não vejo muita diferença entre
guitarra e violão. É como o carro.
Hoje você tem ar-condicionado e
ABS, mas ele continua executando do mesmo jeito a tarefa de levar você para lá e para cá."
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