São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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Magritte ganha museu próprio

Bruxelas inaugura hoje museu dedicado à vida e obra do surrealista belga, expoente do século 20

"É a maior coleção do artista no mundo -disposta de maneira que o visitante faça relação entre obras e a cidade", diz diretor-geral


Dominique Faget/Agence France-Presse
Funcionários revelam grande tela imitando obra famosa de René Magritte, 'O Império das Luzes' (1954), para celebrar o novo museu dedicado ao artista belga

DANIELA ROCHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BRUXELAS

Autor do famoso quadro com um cachimbo e os dizeres: "Ceci n'est pas une pipe" (isto não é um cachimbo, 1929), o surrealista belga René Magritte, tem, a partir de hoje, um museu em Bruxelas inteiramente dedicado às suas obras.
Em paráfrase não intencional, Michel Draguet, diretor-geral dos Museus Reais de Belas Artes da Bélgica, define: "Magritte não é um pintor". Mas explica: "Seu trabalho tem relação com a literatura e com a difusão da imagem poética. Ele mostra um universo imaginário em que linguagem e objeto criam uma nova relação".
Localizado na Place Royale, que reúne os principais museus da capital belga, o Museu Magritte ocupa os cinco andares de um prédio neoclássico de 2.500 m2 que foi sede da Loteria Imperial Real no século 18 e depois tornou-se o Hotel Altenloh, onde se hospedara Alexander Dumas.
Em três dos andares, o visitante percorre a vida e a obra de Magritte (1898-1967). A coleção reúne 149 obras, entre elas 75 pinturas, 58 guaches e desenhos. Além de filmes, cartazes, objetos, fotos, cartas e publicações até então conservados nos arquivos reais da Bélgica. "É a maior coleção do artista no mundo -disposta de forma cronológica e de maneira que o visitante faça uma relação entre as obras e a cidade", diz Draguet, que considera Magritte o revelador da identidade cultural belga. "Magritte é alguém que responde com uma pergunta", explica.

Influências
Os trabalhos do início da carreira de Magritte podem ser vistos no terceiro andar do museu. Ali estão cartazes para teatro e capas de partituras que fez nos anos 20, quando então ganhava a vida como gráfico.
Uma gama de quadros dessa época já mostra a influência do mestre das "paisagens metafísicas", o surrealista italiano Giorgio Di Chirico.
Um andar abaixo estão quadros da fase em que une pintura figurativa e a linguagem escrita, no final dos anos 20, e pinturas do período impressionista de Magritte, a partir de 1943, com pinceladas à Van Gogh e imagens inspiradas em Renoir.
Uma das alas do andar é consagrada ao período "Vache" (vaca) de Magritte (1948). Enquanto o movimento surrealista francês explorava o universo do sonho e do inconsciente, os surrealistas belgas jogavam com a ilusão da realidade.
Em sua obra, Magritte mostra que as palavras e seus significados nos enganam. Após romper laços com André Breton, um dos principais nomes do surrealismo francês, criou em apenas alguns meses, especialmente para uma exposição em Paris, uma série de obras caricaturais em cores vivas para reafirmar sua independência como pintor.
Sua mostra foi um fracasso de público e de crítica e, a pedidos de sua esposa, Georgette, Magritte retoma o antigo estilo.
É no primeiro andar do museu que estão obras expoentes da sua última fase, como "L'Empire des Lumières" (O Império das Luzes, 1954), em que joga com o realismo e a precisão da imagem de uma casa ao anoitecer em contraste com o céu claro.
"Não procure explicações", dizia. "As pessoas que procuram significados simbólicos não conseguem captar a poética e o mistério inerentes à imagem [...] Ao perguntar "o que isso significa", elas expressam o desejo de que tudo seja compreensível." Para René Magritte, a arte serve, antes de tudo, para mudar nossa percepção do mundo.


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