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"JOSÉ RESENDE"
Artista imprime leveza a esculturas
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
Podemos ver os movimentos de abstração geométrica dos anos 50 como a expressão produtiva de um processo de adensamento da arte no Brasil. Nesse período, como nunca antes, a arte moderna se desinibe, desprendendo do provincianismo acadêmico e da procura em ser moderno através da submissão a vogas
internacionais.
A geração posterior, da qual José Resende faz parte, surgida entre os anos 60 e 70, dá o passo seguinte. Lidando diretamente com
a dificuldade da radicalidade no
meio brasileiro, alguns artistas
passaram a encarar essa incipiente produção como uma questão,
testando limites e buscando novas possibilidades criativas.
Aqui se procurou estabelecer
um belo diálogo entre o que havia
de mais significativo na modernidade brasileira e a ousadia das
neovanguardas européias e norte-americanas do pós-guerra.
É desse diálogo que parece surgir uma espécie de destempero
dos materiais característicos de
algumas obras de José Resende.
Pois, partindo de uma certa configuração construtiva, o escultor
colocou pimenta, apresentando
os materiais como se eles ainda
não estivessem prontos.
É curioso que em sua nova exposição não se passe por suas esculturas sem notar sua graça. Por
mais pesadas que as peças sejam,
elas parecem realizar a passagem
de um material a outro sem trancos. O aspecto truncado, de uma
ordem provisória de outros trabalhos, aqui parece ter se convertido
num equilíbrio fluido e delicado.
Na primeira sala de exposição, a
fluidez é tamanha que as esculturas parecem se sustentar umas
nas outras. A maior escultura da
galeria, num movimento harmônico, organiza o desabar das outras peças. Passa-se do cobre para
o chumbo e desse para o ferro. No
final tudo se sustenta na água,
dando a impressão de uma leveza
equivalente ao tom diáfano das
três graças de Botticelli.
Entretanto proximidade maior
é com a pintura de Leonardo da
Vinci. Os artistas têm em comum,
também, uma tentativa de unificar naturezas pouco familiares
enquanto elas agem no mundo. O
artista fiorentino fazia isso como
uma tentativa de apreensão da ordem do universo.
Na escultura de José Resende os
materiais agem diante de nossos
olhos. A parafina que sai do interior de um dos canos sustenta-se
pelo seu peso, sua capacidade de
agregar e também sua fragilidade.
O procedimento parece se diferenciar essencialmente da grafia
dos séculos 15 e 16 em Florença,
não se tenta capturar a dinâmica
divina e imutável da natureza.
Pelo contrário, parece que cada
parte da escultura de Resende
quer ser outra coisa. Como se
aquelas formas circulares, que se
encouraçam configurando uma
forma reverente, se encontrassem
por motivos circunstanciais e fizessem, dessa reunião, possibilidade de potência. Em um meio
que desmente suas intenções frequentemente, elas, de um jeito
transverso, conseguem mostrar
suas qualidades.
José Resende
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Arthur de Azevedo, 401, São Paulo, tel.
0/xx/ 11/3083-6322)
Quando: de seg a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 11h às 14h; até 10/8
Quanto: entrada franca
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