São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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Diário da corte

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Antes que você aperte o send em um e-mail malcriado, vale a explicação: o título da coluna não serve ao colonialismo explícito. É apenas uma homenagem ao saudoso jornalista Paulo Francis, que escrevia uma coluna de Nova York de mesmo nome.
Andar por Manhattan (de onde esta coluna está sendo produzida) é ver três coisas: gente com iPod, campanha anti-Bush e Homem-Aranha. Se Bush não achou as armas de destruição no Iraque, ele as encontrou nos EUA mesmo.
Uma delas foi solta recentemente, nos cinemas: "Fahrenheit 9/ 11", vencedor de Cannes deste ano, do "chato" Michael Moore. Já é o documentário mais bem-sucedido da história do cinema. Da primeira à última cena, não sobra nada do presidente americano. É de chorar de rir e de ficar assustado na mesma medida. A nossa Britney Spears tem uma participação gloriosa no filme.
No último final de semana, Moore apareceu em um cinema do Village para cumprimentar as pessoas na saída do cinema como agradecimento e aproveitar para pedir para elas não votarem em Bush. Adolescentes param os transeuntes para pedir para não votarem em Bush.
No show do The Streets/Dizzee Rascal que eu fui, uma barraquinha pedia assinaturas para o "Rock the Vote", campanha anti-Bush da galera do rock. Você assinava a lista, botava seu e-mail e ganhava um broche, um adesivo e um disquinho do Dizzee Rascal.

Hein?!?
Dizzee Rascal e The Streets, no Irving Plaza. A situação é a seguinte: noite em Nova York dedicada ao som sujo britânico, de rua mesmo, com base na mistureba rock e eletrônica e reggae e punk.
O vocal é puro rap. A engenhoca sonora é feita por moleques trancados no quarto com um computador. Costumava ser chamado de garage inglês, mas já está tudo muito confuso. Para muitos é o futuro da música jovem, hoje.
Os dois dias da dupla inglesa no Irving Plaza estão esgotados. Na platéia, um atento público teen. Alguns jornais e revistas já entregam a apropriação americana do que andam fazendo Streets, Rascal, Audio Bullys, Basement Jaxx e cia.: "underground electronica". Mas não estão certos do rótulo.
Dizzee Rascal foi sujo, inaudível e ininteligível em seu sotaque britânico cockney do bairro mais afastado de Londres. Com uma base de baixo e bateria que não era drum'n'bass, o DJ do menino emplacava um rasta-punk delicioso. Por cima, o que seria as músicas de seu disco, "Boy in tha Corner", que está sendo lançado no Brasil pela Sum.
Aí depois veio o The Streets, o mais celebrado nome inglês do hip hop. E cultuado por parte das pessoas do rock. E adorado por quem faz e ouve música eletrônica. Mike Skinner, o cara por trás do The Streets, é o cara. Faz do rap uma deliciosa literatura cotidiana inglesa e urbana. Problemas amorosos misturados a problema com o joystick. Encrenca familiar e encrenca com o futebol.
No show, suas batidas pulsantes não saíram de DJ: vieram de uma baterista. O baixo estourado que é a espinha do som de Skinner não era som programado. Tinha um baixista mesmo. "A Grand Don't Come for Free" foi tocado de cabo a rabo, mas músicas balas do "Original Pirate Material" não faltaram. Os dois shows, Rascal e Streets, cada um a seu modo, foram espetaculares e deu vontade de ficar na porta do Irving Plaza esperando os caras saírem. Para depois segui-los e perguntar: onde é que vocês estão nos levando?

lucio@uol.com.br


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