São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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MÚSICA

Antes esnobado e agora com dois singles estourados, projeto do produtor Natan Whitey é disputado por seis gravadoras

Rock e eletrônica voltam como gêmeos

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

A mistura de rock com música eletrônica não é nova, mas parece que ninguém levou isso tão a sério quanto Natan J. Whitey. Com ele, é como se a guitarra do Nirvana fosse substituída por um sintetizador. Ou se os Chemical Brothers tocassem hard rock.
Ex-jornalista e artista gráfico, Natan é o dono do Whitey, projeto que desde o começo do ano tornou-se um dos nomes mais quentes da festejada safra de novos produtores/DJs de música para dançar (gente como Black Strobe, Headman, ou os paulistanos Cansei de Ser Sexy; veja alguns desses artistas no quadro ao lado).
O Whitey é responsável por aquele tipo de excitação que mexe com o mercado/imprensa européia parecido com o que aconteceu com os Strokes em 2001.
No começo do ano, ele lançou o single "Just Another Animal", uma faixa electro que fez certo rebuliço no circuito de clubes ingleses. No mês passado, foi a vez de "Leave Them All Behind" ganhar lançamento oficial. A música já podia ser ouvida exaustivamente nas pistas de dança européias e, num mundo tomado por Soulseek e rádios via net, foi o suficiente para receber comentários superelogiosos em revistas como "I-D", "Jockey Slut", "Sleaze" e em jornais como o "Guardian".
E pessoas como Kylie Minogue, Jarvis Cocker (Pulp), Chromeo, Soulwax e The Killers brigam para ter Natan Whitey remixando suas músicas. O que faz o Whitey tão especial é que essa mistura entre o rock e a eletrônica chega de forma natural e espontânea; não é um roqueiro tentando fazer música para dançar nem um produtor se intrometendo a usar guitarras.
"Passei os anos 90 produzindo house e participei de várias bandas de rock que ninguém ouviu. Tive duas carreiras ao mesmo tempo, e nenhuma deu certo... Mas deu para aprender alguma coisa. Aprendi dois tipos de música ao mesmo tempo, e é por isso que hoje eu faço música dessa forma", disse Natan à Folha, por telefone, de Londres.
Com apenas dois singles lançados, com o disco oficial saindo apenas em setembro, o Whitey já ganhou a escalação em importantes festivais de eletrônica, como o 10 Days Off (na Bélgica, que terá François K, Jeff Mills, Miss Kittin), o Mistery Land (Holanda, com Richie Hawtin, Ladytron, Junkie XL...) e em clubes famosos como The End, Fabric e Bugged Out!.
A movimentação chamou a atenção das gravadoras. Há seis disputando os direitos do disco do Whitey. "Se receber uma proposta boa, farei um acordo. Se não, será independente mesmo. Eu até ganho mais por cada disco vendido se for independente..."
Até há uns dois ou três anos, era difícil encontrar bons clubes ou DJs ou uma banda que se dispusesse a tocar/produzir esse híbrido entre rock e eletrônica. Hoje, pode-se encontrá-lo em grupos como Rapture, Audio Bullys.
"Tenho tentado fazer isso desde 1997. São sete anos. E, nos primeiros cinco anos e meio, ninguém estava interessado. Eu enviava canções a gravadoras e pessoas ligadas à indústria fonográfica, e eles não entendiam...", diz.
"Esperava que isso acontecesse quatro ou cinco anos atrás. Você tinha a house de um lado, tropeçando como um animal ferido, e do outro o rock, ignorando a tecnologia. Era como um casal divorciado. Acho que a geração de agora cresceu ouvindo dance e rock simultaneamente, sem as barreiras que existiam para as gerações anteriores."
Whitey, além de tudo, é excêntrico. Ao vivo, faz questão de se apresentar com uma banda. Quando produzia house nos anos 90, fazia por meio de um pseudônimo, que não revela ("É segredo, e ninguém descobriu"). E não aceita que mexam ou que façam remixes de suas músicas. "Fiz dance music por quase dez anos. Se eu precisar de uma nova versão de alguma música, volto ao estúdio e produzo uma."


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