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3ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI
ALTERNATIVO
Baiano participa sexta de debate em Parati, onde lança "Encarniçado", livro que reflete seu perfil marginal
Ex-balconista espera que encontro o tire do desemprego
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pobre não escolhe, sobrevive",
diz o escritor baiano João Filho,
justificando a lista de ofícios pouco glamourosos que já teve. Ele,
que no dia 8 participa da Flip, foi,
como descreve em seu blog, "balconista, descarregador, office-boy". Ao menos no cartão de visitas, alinha-se a autores na faixa
dos 20 aos 30 anos, cujo perfil
marginal (ou "alternativo"), espelhado na escrita, tem chamado a
atenção do mainstream. Como
pode sugerir o convite para o debate "O Sertão Não É Mais Aquele", na Flip, em que lança "Encarniçado", seu primeiro livro.
Em clave similar à de João Filho
soa o paulista Santiago Nazarian,
cujas experiências como body-artist e barman de clube de sexo têm
ecos de "Olívio", seu primeiro romance, a "Feriado de Mim Mesmo", o mais recente, que será levado ao cinema (e, portanto, a um
público mais amplo) por Eliane
Caffé. E também o americano JT
LeRoy, este já cinebiografado em
"The Heart Is Deceitful Above All
Things", filme lançado no Festival
de Cannes em 2004.
Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, concorda que exista
uma tendência de "emissários do
mundo alternativo" na literatura.
Mas ressalva: "Há uma boa dose
de apelo publicitário, mas nos casos felizes há uma real ampliação
do repertório formal e temático".
Nazarian é um dos autores novos com quem Filho diz se identificar, pela "entrega à literatura
sem meios-termos, mesmo sendo
diferentes as formas de escrita,
condição social, lugar de nascimento e vivência". Porém é com
Antônio Fraga (1916-1993) e João
Antônio (1937-1996), cuja obra
tem "DNA" marginal, que ele assume diálogo. Do segundo, já declarou: "Posso dizer de mim o que
disseram de João Antônio, que tinha autenticidade vivencial".
Vivência conta muito em "Encarniçado". A marginalidade, diz
o autor, vem do contato que ele tinha e tem com as figuras ali retratadas, nos tempos em que era balconista em Bom Jesus da Lapa,
sua cidade natal. Como o Seu Bá,
"o primeiro boqueiro de fumo"
da cidade, a quem Filho dedica
"Encarniçado ou Anotações dum
Comedor de Cânhamo", que abre
o livro. Ou ainda um tio com
transtorno bipolar, personagem
de "Satisfeito como um Velho Nazi", que ele irá ler na Flip.
Agora com 30 anos, Filho começou a escrever poesia aos 13. Publicou textos na internet e em revistas literárias. Aos 27, enveredou pela prosa, com "Encarniçado". E a todo custo afirma que,
apesar de ter tirado suas histórias
de Bom Jesus e ter sua linguagem
comparada à de Guimarães Rosa,
tem pavor à prosa regionalista.
"Há uma certa bajulação com a
marginália de modo geral, e a intelectualidade brasileira só tem
mistificado o Nordeste. "Encarniçado" nada tem a ver com isso.
Tanto que não situo as histórias",
diz Filho, dando uma amostra do
debate na Flip, em que será acompanhado pelo sergipano Antonio
Carlos Viana e pelo cearense Ronaldo Correia de Britto.
Com apenas o ensino médio, há
cinco meses tentando "se estabelecer" em Salvador, Filho teve o
cartão de visitas alternativo atualizado: da Baleia, recém-fechada
editora de "Encarniçado", só resta
o site (www.editorabaleia.com.br), onde se pode encomendar o
livro. Mora com um amigo e procura emprego como balconista.
Ainda falta o mainstream. Mas ele
espera que a vitrine da Flip lhe
renda um emprego. Ou mais: "Eu
quero ganhar o Nobel".
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