São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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"Figurantes" faz ouvir solidão da metrópole

Peça de Cacá Carvalho mostra a busca pela afirmação de sete tipos comuns

Espetáculo é o terceiro da Casa Laboratório; "ideia é ser um painel vivo de figuras que coexistem, mas não se relacionam", diz diretor


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O denominador comum entre Clarice Lispector, Manoel de Barros, Samuel Beckett e Bernard-Marie Koltès é o silêncio, sugere a peça "Figurantes", da Casa Laboratório para as Artes do Teatro, que estreia hoje, em São Paulo.
A dramaturgia começou a ser elaborada com as citadas referências literárias e dramatúrgicas dos sete atores do elenco. No caldeirão do diretor Cacá Carvalho, sumidas as palavras, restaram os não-ditos, os climas. Responsável pelo texto final, Cláudia Barral restituiu em parte a fala.
"Mas não quer dizer que, por falar, uma pessoa não esteja em silêncio", frisa Carvalho, que pretende, neste terceiro trabalho da Casa Laboratório, fazer um caleidoscópio da relação do homem com a cidade.
"Se você fala a mesma coisa sempre, isso não é outra coisa que não o silêncio. Há diversas formas de mudez além da não-palavra. Quando vejo um garoto que cheira cola e atravessa a rua enlouquecido, é o estouro de um silêncio interior."

Quadro vivo
Em cena, explica o diretor, sete tipos urbanos enunciam pensamentos "que não trazem a profundidade ou a articulação que aqueles que se julgam protagonistas acham que todo texto deve ter" -daí o título. "A ideia não é contar uma história, criar uma narrativa com começo, meio e fim.
É mais um espetáculo emissor de sinais, um quadro vivo composto por figuras que coexistem, mas não se relacionam", diz ele. A moldura de solidão e invisibilidade encerra personagens como uma operadora de telemarketing, uma empregada doméstica e um office boy. Como se o quadro momentaneamente ganhasse relevo, cada um tem seu instante de protagonismo. Surge a chance de questionar e romper. Em vão: as portas (no chão) não abrem, a janela não dá para lugar nenhum.
À frente da cena, pelo vidro de seu aquário, um peixe espia a dor dos colegas de figuração.


FIGURANTES

Quando: estreia hoje, para convidados; qui. a sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 9/8
Onde: Casa Laboratório (r. Conselheiro Brotero, 182, Barra Funda, SP, tel. 0/xx/11/3661-0068)
Quanto: R$ 20
Classificação: não indicado a menores de 12 anos




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