FLÁVIA CESARINO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O neorrealismo italiano é um tópico obrigatório da história do cinema por ter inaugurado uma maneira de encenar absolutamente original, baseada no uso de atores não profissionais, em locações reais, na Itália destruída do pós-guerra.
Vittorio De Sica (1901-1974) é o realizador mais versátil e reconhecido deste cinema: seu "Ladrões de Bicicleta" tem sido largamente citado, plagiado e reencenado nos últimos 50 anos.
O documentário "Vittorio De Sica - Minha Vida, Meus Amores", de Mario Canale e Annarosa Morri, retrata a versatilidade de um artista plural, capaz de mover-se com desenvoltura tanto na comédia como no drama, como ator ou como diretor.
O filme é baseado em entrevistas com cineastas como Clint Eastwood, Ken Loach, Ettore Scola, Woody Allen, o produtor Dino de Laurentis, o dramaturgo Dario Fo e as atrizes Shirley McLaine e Sophia Loren, que contam passagens engraçadas.
Enzo Stailoa, o garotinho de "Ladrões de Bicicleta" (hoje sexagenário), reclama que era muito difícil fazer as cenas em lugares públicos.
O diretor norte-americano John Landis lembra que hoje a maioria dos diretores não sabe nada de história, mas ainda assim é influenciada pelo filme.
Uma boa parte do documentário é alimentada por trechos de um programa dirigido por Giulio Macchi para a RAI, que o próprio Vittorio De Sica ancora, ao lado de Cesare Zavattini (o cérebro por trás do neorrealismo).
Os três filhos do diretor compartilham momentos curiosos do cotidiano com o pai, mas a tendência geral é de incensar uma figura inevitavelmente carismática.