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POP BRASILEIRO NO FINAL DOS 90
Duo Tetine faz música de 1998 em 1998
da Reportagem Local
Na ponta oposta ao "rock regressivo" de Júpiter Maçã, a dupla
radicada em São Paulo Tetine persegue a linguagem dos 90 -ou
dos 2000- na trilha da eletrônica.
Lançam, em esquema independente, o segundo CD, "Creme".
Trata-se da trilha sonora do espetáculo de dança homônimo levado pela companhia mineira de
dança Ur=HOr, de Adriana Banana, ex-integrante do grupo Dança
Burra. E não deixa, segundo o guitarrista, baixista, tecladista e vocalista Bruno Verner, 27, e a vocalista e tecladista Eliete Mejorado, 30,
de ser um trabalho autoral.
Bruno é músico profissional
nascido em Belo Horizonte, onde,
nos 80, integrou as bandas Divergência Socialista e R.Mutt. "Vim
para São Paulo estudar linguística
e fiquei. Abandonei a linguística,
mas é o que está mais acoplado no
meu trabalho musical."
Eliete, paulistana, tem formação
de atriz. "Não me enquadrava no
teatro, o que eu via não era o que
queria. Fui para o Rio tentar a Globo, morei com duas modelos que
faziam "Pátria Minha' e me achavam angulosa. Não rolou."
Acabaram se reunindo ao participar -ele fazendo a trilha e ela
como atriz- da peça "Ópera Urbana Zucco". Hoje, são casados.
Daí surgiu a pareceria e o primeiro CD, "Alexander's Grave".
"Ninguém entendeu nada. Só depois que participamos do festival
Babel, em que fizemos do jeito que
tinha que ser, as pessoas começaram a ver que não era uma coisa
doida, que não era qualquer nota.
Era o resultado do vômito, a saída
da clausura", interpreta Eliete.
Como definem Tetine (teta, em
francês)? "Somos um grupo de
música eletrônica que não se encaixa no tecno, como muitos pensam. Não somos clubbers", afirma Bruno. "Somos um grupo de
risco. É tudo por um triz, arriscado, camicase", emenda Eliete.
A questão de linguagem -musical ou textual- é de honra para a
dupla. Não raro, as músicas são
declamadas, autobiográficas
("com uma pitada de ficção, que
ninguém é de ferro") e tratam de
temas como incesto e estupro.
"Tenho uma doença que preciso transmitir, de ter que dizer o
que digo para não ficar louca. É
um trabalho político", diz Eliete.
Paradoxalmente, quase tudo é
dito em inglês. "Não é um problema de medo de exposição, é questão de linguagem mesmo. Estamos
falando da dificuldade de se comunicar", afirma Bruno. Num
círculo de paradoxo, não têm gravadora no Brasil e costumam escoar melhor seus CDs na Europa.
Já preparam o terceiro CD, que
deverá se chamar "Música de
Amor". "Queremos tratar do
amor de todas as formas, até a
mais brega -mas de forma seríssima", finaliza Bruno.
(PAS)
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