São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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JÚPITER MAÇÃ, 68 EM 98
Brasil tem novo gênio da canção de amor

da Reportagem Local

Júpiter Maçã, ente e forma musical, é um elogio à esquizofrenia. Todo engomado para o consumo por jovens hippies de 30 anos atrás -logo, extemporâneo-, é o artista brasileiro jovem que melhor soube, desde o mangue beat, manipular sentimentos e experiências próprios dos anos 90.
É difícil entender como as duas forças em tensão se casam, mas elas se casam à perfeição. O amontoado de referências -Mutantes, Beatles, Kinks, Pink Floyd, Byrds, Who, Love, tantos outros- tende ao pastiche, mas passa longe dele.
Sua pesquisa é de aprofundar as pistas lançadas por aqueles artistas, esforço de adequação de vestimenta nunca plenamente resolvido a novos parâmetros. Como se 68 e 98 fossem um só ano. Passeiam desde farras adolescentes ("Um Lugar do Caralho") e viajação ("As Tortas e as Cucas") até muito sexo e muito romantismo.
"As Outras Que Me Querem" e "Essência Interior" são expressão da incapacidade de decisão entre mono ou poligamia. JM investiga as duas, não opta por nenhuma porque não há opção possível.
Nisso, joga às traças a característica mais odiável do rock brasileiro, a da adolescência debilóide e bravateira. Faz rock como gente grande, não como criança.
Mais: é "baladeiro" raro, romântico elegante como não se ouvia desde Roberto Carlos. "Miss Lexotan 6mg Garota" e "Eu e Minha Ex" são as canções de amor que Roberto faria se não houvesse virado o careta que virou.
JM desafina mais que o necessário, mas emoldura idéias com arranjos de primeira e excelência técnica. O Brasil precisava de alguém assim, e ele veio, quem diria, do rock. País esquisito. (PAS)

Disco: A Sétima Efervescência
Artista: Júpiter Maçã
Lançamento: Antídoto/PolyGram
Quanto: R$ 18, em média



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