São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2000


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Lançamento celebra clube de cinema mais antigo do Brasil

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A pesquisadora gaúcha Fatimarlei Lunardelli lança hoje no 28º Festival de Gramado o livro "Quando Éramos Jovens - História do Clube de Cinema de Porto Alegre" (Editora da UFRGS/Unidade Editorial da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, 205 págs, R$ 20).
É o quinto volume da coleção sobre o cinema gaúcho que vem sendo desenvolvida pela Coordenação de Cinema, Video e Fotografia da Prefeitura de Porto Alegre, sob a direção de Beatriz Barcellos. Foi dela a idéia de encomendar uma pesquisa a Lunardelli sobre o mais antigo clube de cinema em atividade no Brasil, fundado em 1948 em Porto Alegre.
A pesquisadora, autora de "Ô Psit! O Cinema Popular dos Trapalhões", além de detalhar passo a passo os 52 anos de atividade do epicentro da cultura cinematográfica gaúcha do pós-guerra, mostra como o clube catalisou a fruição, a reflexão e mesmo a produção de cinema no RS.
O clube teve entre seus fundadores o mais importante crítico gaúcho, P.F. Gastal, e o poeta Mário Quintana. Erico Verissimo foi um de seus primeiros palestrantes. Na virada dos anos 50 para os 60, Fernando Peixoto e Paulo José não perdiam uma sessão.
Entrevistada por e-mail, Lunardelli detalhou descobertas da pesquisa e discutiu a resistência da crítica gaúcha ao cinema de Glauber Rocha. Leia abaixo uma síntese de suas respostas.

Folha - O Clube de Cinema é o mais antigo em atividade?
Fatimarlei Lunardelli -
Os anteriores não existem mais: Chaplin Club (1928), Clube de Cinema de São Paulo (1940/1946), Clube de Cinema da Faculdade Nacional de Filosofia do RJ (1946), Clube de Cinema de Minas Gerais (1947), Círculo de Estudos Cinematográficos do RJ (1948), Clube de Cinema de Santos (1948) e Clube de Cinema de Fortaleza (1948).

Folha - Quais as atividades que ele desenvolve hoje?
Lunardelli -
Sessões de cinema aos sábados e domingos pela manhã, para os associados, como há 50 anos. Hoje o clube não tem a representatividade intelectual que teve em outras épocas, porque sua função (do cineclubismo) é desempenhada pelo circuito alternativo e pelo videocassete.

Folha - A resistência ao cinema americano persiste até hoje?
Lunardelli -
O cinema americano é programado, mas há uma valorização maior, em termos culturais, do cinema não-americano.

Folha - Você destaca a influência do pioneiro da crítica no RS, Pery Ribas (1904-1979).
Lunardelli -
Os escritos de Pery integram o acervo de P. F. Gastal, agora acrescido do acervo do Clube de Cinema. Está tudo junto, aguardando tratamento técnico.

Folha - A geração de realizadores que explodiu no super-8 e nos curtas nos anos 80 (Jorge Furtado, Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase) também passou pelo Clube?
Lunardelli -
Só encontrei a ficha de Carlos Gerbase. A importância do Clube de Cinema para essa geração está na formação da sua cultura cinematográfica, a partir dos ciclos de filmes programados por Romeu Grimaldi no cinema Bristol, inaugurado em 1977.

Folha - A que você atribui a resistência a Glauber Rocha pela crítica gaúcha dele contemporânea?
Lunardelli -
Essa é uma questão instigante. Para esse livro, eu só me deparei com o fato e o descrevi. Estou elaborando meu projeto de pesquisa do doutorado, cujo tema é o cinema gaúcho, e essa poderia ser uma questão para investigar. Estou bastante tentada. Qualquer hipótese é inconclusiva e uma delas pode referir-se à rejeição da temática nordestina como uma representação de Brasil na qual o Rio Grande do Sul não se reconhece. O aspecto das identidades regionais é forte e pode ser visto como fator que dificulta a circulação dos filmes. Mas não penso que isso explique tudo.


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