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Lançamento celebra clube de cinema mais antigo do Brasil
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A pesquisadora gaúcha Fatimarlei Lunardelli lança hoje no
28º Festival de Gramado o livro
"Quando Éramos Jovens - História do Clube de Cinema de Porto
Alegre" (Editora da UFRGS/Unidade Editorial da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, 205 págs, R$ 20).
É o quinto volume da coleção
sobre o cinema gaúcho que vem
sendo desenvolvida pela Coordenação de Cinema, Video e Fotografia da Prefeitura de Porto Alegre, sob a direção de Beatriz Barcellos. Foi dela a idéia de encomendar uma pesquisa a Lunardelli sobre o mais antigo clube de cinema em atividade no Brasil, fundado em 1948 em Porto Alegre.
A pesquisadora, autora de "Ô
Psit! O Cinema Popular dos Trapalhões", além de detalhar passo a
passo os 52 anos de atividade do
epicentro da cultura cinematográfica gaúcha do pós-guerra,
mostra como o clube catalisou a
fruição, a reflexão e mesmo a produção de cinema no RS.
O clube teve entre seus fundadores o mais importante crítico
gaúcho, P.F. Gastal, e o poeta Mário Quintana. Erico Verissimo foi
um de seus primeiros palestrantes. Na virada dos anos 50 para os
60, Fernando Peixoto e Paulo José
não perdiam uma sessão.
Entrevistada por e-mail, Lunardelli detalhou descobertas da pesquisa e discutiu a resistência da
crítica gaúcha ao cinema de Glauber Rocha. Leia abaixo uma síntese de suas respostas.
Folha - O Clube de Cinema é o
mais antigo em atividade?
Fatimarlei Lunardelli - Os anteriores não existem mais: Chaplin
Club (1928), Clube de Cinema de
São Paulo (1940/1946), Clube de
Cinema da Faculdade Nacional
de Filosofia do RJ (1946), Clube de
Cinema de Minas Gerais (1947),
Círculo de Estudos Cinematográficos do RJ (1948), Clube de Cinema de Santos (1948) e Clube de
Cinema de Fortaleza (1948).
Folha - Quais as atividades que
ele desenvolve hoje?
Lunardelli - Sessões de cinema
aos sábados e domingos pela manhã, para os associados, como há
50 anos. Hoje o clube não tem a
representatividade intelectual que
teve em outras épocas, porque sua
função (do cineclubismo) é desempenhada pelo circuito alternativo e pelo videocassete.
Folha - A resistência ao cinema
americano persiste até hoje?
Lunardelli - O cinema americano é programado, mas há uma valorização maior, em termos culturais, do cinema não-americano.
Folha - Você destaca a influência
do pioneiro da crítica no RS, Pery
Ribas (1904-1979).
Lunardelli - Os escritos de Pery
integram o acervo de P. F. Gastal,
agora acrescido do acervo do Clube de Cinema. Está tudo junto,
aguardando tratamento técnico.
Folha - A geração de realizadores
que explodiu no super-8 e nos curtas nos anos 80 (Jorge Furtado, Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase)
também passou pelo Clube?
Lunardelli - Só encontrei a ficha
de Carlos Gerbase. A importância
do Clube de Cinema para essa geração está na formação da sua cultura cinematográfica, a partir dos
ciclos de filmes programados por
Romeu Grimaldi no cinema Bristol, inaugurado em 1977.
Folha - A que você atribui a resistência a Glauber Rocha pela crítica
gaúcha dele contemporânea?
Lunardelli - Essa é uma questão
instigante. Para esse livro, eu só
me deparei com o fato e o descrevi. Estou elaborando meu projeto
de pesquisa do doutorado, cujo
tema é o cinema gaúcho, e essa
poderia ser uma questão para investigar. Estou bastante tentada.
Qualquer hipótese é inconclusiva
e uma delas pode referir-se à rejeição da temática nordestina como
uma representação de Brasil na
qual o Rio Grande do Sul não se
reconhece. O aspecto das identidades regionais é forte e pode ser
visto como fator que dificulta a
circulação dos filmes. Mas não
penso que isso explique tudo.
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