São Paulo, Segunda-feira, 02 de Agosto de 1999
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LIVRO LANÇAMENTOS

Quem matou Anita Garibaldi?

Reprodução
Anita e Giuseppe Garibaldi na fonte de Laguna


CYNARA MENEZES
da Reportagem Local

Anita foi assassinada pelo marido, Giuseppe Garibaldi? O livro do jornalista Paulo Markun sobre a vida da heroína catarinense, que será lançado amanhã na Câmara dos Deputados, em Brasília, começa sob as tintas do suspense e do estigma de crime passional.
A suspeita que corria à boca pequena entre a população da região de Ravenna, no nordeste da Itália, parecia fazer sentido: Anita, grávida de seis meses e muito doente, era, nas palavras do próprio Garibaldi em suas memórias, "um caríssimo e bem doloroso estorvo" para um homem em fuga.
Além disso, a primeira autópsia feita no corpo da jovem de cerca de 28 anos, encontrado praticamente insepulto por crianças da região, mostrava marcas circulares em torno do pescoço e a traquéia quebrada, sinais claros de estrangulamento.
Mais tarde, porém, um inquérito instaurado parece demonstrar que, na verdade, Anita morreu em um leito, tendo ao lado o homem que amava e que havia conhecido dez anos antes em Laguna, Santa Catarina.
A fascinante história de Giuseppe e Anita Garibaldi volta à tona no 150º aniversário de morte da brasileira (completados no próximo dia 4) que deixou o marido aos 18 anos para viver uma vida curta e intensa de aventuras bélicas ao lado do guerreiro italiano, lutando "pela liberdade" no Brasil, no Uruguai e na Itália.
O livro de Paulo Markun, "Anita Garibaldi - Uma Heroína Brasileira", chega logo depois de lançada a exaustiva pesquisa de Yvonne Capuano em seu "De Sonhos e Utopias... Anita e Giuseppe Garibaldi", um volume de mais de 900 páginas sobre a dupla e o contexto histórico que a tornou possível.
Ambos acatam a versão da morte de Anita por doença, mas Capuano rejeita até mesmo a hipótese de que tenha pairado sobre Garibaldi a suspeita de ter assassinado a mulher.
O casal chegara a Ravenna depois que o exército de Garibaldi foi derrotado na guerra pela unificação da Itália, então dividida entre estados autônomos e potentados dos Habsburgo (dinastia austríaca) e dos Bourbon (França).
Vinham do Uruguai, onde pela única vez o aventureiro experimentara uma curta vida doméstica em Montevidéu, dando aulas de matemática. Por pouco tempo: logo se alistaria para lutar pelo país que o acolheu na disputa com a Argentina.
Antes, no Brasil, tinha lutado ao lado de Anita na Guerra dos Farrapos, junto aos republicanos que pretendiam libertar o Sul do país do governo monárquico central, no período da regência, anterior à coroação de d. Pedro 2º, em 1840.
Na Itália, se entregaria de vez a seu espírito guerreiro -e ficaria muitas vezes distante da mulher e dos três filhos. Outra filha havia morrido em Montevidéu e Anita esperava o quinto filho.
Era já outra mulher, bem diferente da jovem que Garibaldi teria avistado da proa de seu barco, depois de libertar a então vila de Laguna em nome dos republicanos. E mais ainda da guerreira sempre retratada como uma bela amazona de cabelos negros esvoaçantes.
A gravidez e a doença -não se sabe qual- de que sofria Anita fizeram o marido insistir para que ficasse no refúgio de San Marino e o deixasse seguir viagem. Ele, na verdade, nem mesmo havia desejado que ela tivesse deixado Nice para encontrá-lo, um mês antes.
Também em suas memórias, transformadas mais tarde em outro livro por Alexandre Dumas, pai ("Memórias de José Garibaldi"), o general comenta que Anita ficava "ofendida" e "irritada" quando lhe pedia que não o seguisse.
"Aquele coração viril e generoso se irritava sempre que eu tocava no assunto e me fazia calar com uma frase: "Você quer me deixar'", escreveu Garibaldi.
Seja o que for que tenha acontecido, todos os relatos históricos reconhecem o sacrifício e a bravura de Garibaldi, carregando a mulher nos braços até alcançar pouso seguro.
Depois da morte de Anita, tardaria 12 anos para se casar novamente, apesar do frequente assédio das admiradoras. Escolheu uma mulher bem mais jovem, a marquesa Giuseppina Raimondi, de 18 anos -ele já contava 52-, que o traía e esperava um filho de outro homem. Conseguiu a anulação, se casou novamente, desta vez com sua governanta, e teve outros três filhos.
Depois de muita confusão, o corpo de Anita ganharia dos fascistas um túmulo em Roma e um monumento. Não se uniria novamente ao amado Giuseppe: aos 75 anos, Garibaldi morreu e foi enterrado na ilha de Caprera. Uma das filhas do terceiro casamento não permitiu que os restos de Anita fossem trasladados para lá.


Livro: Anita Garibaldi - Uma Heroína Brasileira
Autor: Paulo Markun
Lançamento: Senac
Quanto: R$ 35 (370 págs.)


Avaliação:     



Livro: De Sonhos e Utopias... Anita e Giuseppe Garibaldi
Autor: Yvonne Capuano
Lançamento: Melhoramentos
Quanto: R$ 80 (903 págs.)


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