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Segundo documento
norte-americano, obras de arte
confiscadas durante a Segunda
Guerra Mundial pelos alemães
foram comercializadas no país
Pilhagem de nazistas veio para o Brasil
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local
Um relatório elaborado pelo Office of Strategic Services (OSS) dos
EUA em 1945, aponta o Brasil como um dos destinos das obras de
arte pilhadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Preocupada com ao fluxo de
bens para locais que pudessem servir de refúgio para os nazistas após
a guerra, a OSS criou, no final de
44, a Unidade de Investigação de
Saques de Obras de Arte. .
O documento "Looted Art in
Occupied Territories, Neutral
Countries and Latin America"
(Arte Pilhada em Territórios Ocupados, Países Neutros e na América Latina), que manteve a classificação de secreto durante 46 anos,
lista seis pessoas na América Latina como tendo feito negócios com
comerciantes que vendiam arte pilhada pelos nazistas.
Um deles teria morado no Brasil,
o austríaco Thaddeus Grauer, já
morto, que moraria no bairro de
Higienópolis (São Paulo). No prédio que hoje ocupa o local, ninguém ouviu falar do comerciante.
Segundo o documento, Grauer negociava com a galeria Fischer, em
Lucerna (Suíça).
Pertencente a Theodore Fischer,
a galeria era um dos elos principais, segundo o relatório, do esquema da venda de obras pilhadas.
Fischer, inclusive, organizava, na
Suíça, leilões de arte com fundos
revertidos para o Partido Nazista.
Queimadas na fogueira
Inicialmente, as obras de arte
classificadas pelos nazistas como
"degeneradas" (impressionismo,
fauvismo, cubismo etc) eram
queimadas. Em 20 de março de 39,
em Berlim, por exemplo, foram
destruídas 1.004 pinturas e esculturas e 3.825 desenhos e aquarelas.
Logo, o regime nazista percebeu
que poderia usar a "arte degenerada" para arrecadar fundos em
moedas estrangeiras e assim movimentar sua máquina de guerra.
O esquema era supervisionado
pelo marechal Hermann Goering
(o segundo homem do regime)
-que amealhou para si uma coleção de 1.375 pinturas e 868 objetos
de arte de primeira linha.
Um exemplo do funcionamento
do esquema: as obras de arte
-quadros, em geral- eram enviadas para a Suíça, por mala diplomática, para burlar as leis alfandegárias; lá, por preços bem
abaixo do mercado, eram recompradas por marchands, que as passavam adiante; as obras saíam da
Europa, em navios neutros, de
bandeira suíça, de portos como o
de Gênova (Itália).
Um dos principais responsáveis
pelo esquema, segundo o documento, era o advogado alemão
Hans Wendland, que provavelmente era judeu, segundo o livro
"Europa Saqueada - O Destino
dos Tesouros Artísticos Europeus
no Terceiro Reich e na Segunda
Guerra Mundial", da norte-americana Lynn Nycholas.
Como Wendland não possuía cidadania suíça, ele não podia comercializar os quadros no país.
Por isso, eles eram vendidos por
intermédio da galeria Fischer.
Segundo Lynn, baseada em documentos norte-americanos,
"Fischer não só vendera obras
confiscadas em seus leilões, mas
também enviara algumas para o
Rio de Janeiro".
Após a guerra, tanto Fischer
-que, segundo o relatório, estava
na lista negra feita pelo EUA-
quanto Wendland foram presos.
O porto-riquenho Hector Feliciano, autor de "O Museu do Desaparecido - Investigação sobre a
Pilhagem das Obras de Arte na
França pelos Nazistas", estima
que 100 mil obras de arte tenham
sido confiscadas de coleções de judeus, opositores políticos e maçons na França. Segundo Feliciano, 60 mil obras foram recuperadas após a guerra -mil delas estão
nos museus franceses, à espera dos
donos, sob a sigla MNR (Recuperação dos Museus Nacionais).
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