São Paulo, terça, 2 de setembro de 1997.



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Segundo documento norte-americano, obras de arte confiscadas durante a Segunda Guerra Mundial pelos alemães foram comercializadas no país
Pilhagem de nazistas veio para o Brasil

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local

Um relatório elaborado pelo Office of Strategic Services (OSS) dos EUA em 1945, aponta o Brasil como um dos destinos das obras de arte pilhadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Preocupada com ao fluxo de bens para locais que pudessem servir de refúgio para os nazistas após a guerra, a OSS criou, no final de 44, a Unidade de Investigação de Saques de Obras de Arte. .
O documento "Looted Art in Occupied Territories, Neutral Countries and Latin America" (Arte Pilhada em Territórios Ocupados, Países Neutros e na América Latina), que manteve a classificação de secreto durante 46 anos, lista seis pessoas na América Latina como tendo feito negócios com comerciantes que vendiam arte pilhada pelos nazistas.
Um deles teria morado no Brasil, o austríaco Thaddeus Grauer, já morto, que moraria no bairro de Higienópolis (São Paulo). No prédio que hoje ocupa o local, ninguém ouviu falar do comerciante. Segundo o documento, Grauer negociava com a galeria Fischer, em Lucerna (Suíça).
Pertencente a Theodore Fischer, a galeria era um dos elos principais, segundo o relatório, do esquema da venda de obras pilhadas. Fischer, inclusive, organizava, na Suíça, leilões de arte com fundos revertidos para o Partido Nazista.
Queimadas na fogueira
Inicialmente, as obras de arte classificadas pelos nazistas como "degeneradas" (impressionismo, fauvismo, cubismo etc) eram queimadas. Em 20 de março de 39, em Berlim, por exemplo, foram destruídas 1.004 pinturas e esculturas e 3.825 desenhos e aquarelas.
Logo, o regime nazista percebeu que poderia usar a "arte degenerada" para arrecadar fundos em moedas estrangeiras e assim movimentar sua máquina de guerra.
O esquema era supervisionado pelo marechal Hermann Goering (o segundo homem do regime) -que amealhou para si uma coleção de 1.375 pinturas e 868 objetos de arte de primeira linha.
Um exemplo do funcionamento do esquema: as obras de arte -quadros, em geral- eram enviadas para a Suíça, por mala diplomática, para burlar as leis alfandegárias; lá, por preços bem abaixo do mercado, eram recompradas por marchands, que as passavam adiante; as obras saíam da Europa, em navios neutros, de bandeira suíça, de portos como o de Gênova (Itália).
Um dos principais responsáveis pelo esquema, segundo o documento, era o advogado alemão Hans Wendland, que provavelmente era judeu, segundo o livro "Europa Saqueada - O Destino dos Tesouros Artísticos Europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial", da norte-americana Lynn Nycholas.
Como Wendland não possuía cidadania suíça, ele não podia comercializar os quadros no país. Por isso, eles eram vendidos por intermédio da galeria Fischer.
Segundo Lynn, baseada em documentos norte-americanos, "Fischer não só vendera obras confiscadas em seus leilões, mas também enviara algumas para o Rio de Janeiro".
Após a guerra, tanto Fischer -que, segundo o relatório, estava na lista negra feita pelo EUA- quanto Wendland foram presos.
O porto-riquenho Hector Feliciano, autor de "O Museu do Desaparecido - Investigação sobre a Pilhagem das Obras de Arte na França pelos Nazistas", estima que 100 mil obras de arte tenham sido confiscadas de coleções de judeus, opositores políticos e maçons na França. Segundo Feliciano, 60 mil obras foram recuperadas após a guerra -mil delas estão nos museus franceses, à espera dos donos, sob a sigla MNR (Recuperação dos Museus Nacionais).




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