São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2000


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Tomografia em movimento

Divulgação
Cena do espetáculo "Aquilo de Que Somos Feitos", coreografado por Lia Rodrigues, que estréia hoje em SP



Usando improvisações e slogans, espetáculo coreografado por Lia Rodrigues chega hoje ao Sesc Pompéia, em SP, com ingressos a R$ 1,99


ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O preço do ingresso, a R$ 1,99, integra a simbologia do espetáculo. Por meio deste número associado às coisas de pouco valor e fácil aquisição, a coreógrafa Lia Rodrigues dá início às indagações contidas em seu novo espetáculo: "Aquilo de Que Somos Feitos", que depois de estrear no Rio em julho, chega a São Paulo para três apresentações neste fim-de-semana, no Sesc Pompéia.
"O ingresso barato é uma espécie de denúncia. Entre as questões que conduzem o espetáculo, pergunto quanto vale o trabalho dos sete bailarinos que integram meu grupo num momento em que o corpo está tão banalizado e dessacralizado", diz Lia, paulista que vive no Rio de Janeiro, onde seu elenco é subvencionado pela Secretaria Municipal de Cultura.
O patrocínio oficial que a companhia recebe, no valor de R$ 50 mil por ano, também serve para uma prestação de contas, incluída no programa, que revela as quantias destinadas à dança. Entre salários de R$ 600 a R$ 750, aluguel de sala de trabalho a R$ 500 e imposto mensal de R$ 7.500, o grupo dirigido pela coreógrafa chega a comemorar o fato de, pelo menos, viver em uma cidade onde há política cultural de apoio à dança.
"Vivemos uma "globocolonização". Imagens de gente morrendo se misturam a propagandas de Big Mac. No meio do excesso de informações, os valores ficam misturados, daí a utilização de slogans, falados pelos bailarinos durante o espetáculo."
Proferindo frases como "use camisinha", "give peace a chance", "hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás" ou ainda exibindo gestos simbólicos, o elenco expressa os fragmentos de idéias e apelos, que circulam desordenadamente pelo imaginário contemporâneo.
Como um captador de sinais, o corpo serve de anteparo ou suporte para conceitos que, segundo Lia, grudam na pele e por vezes são absorvidos sem muita consciência. Para encenar tais concepções, a coreógrafa optou pela economia de meios. Sob outro slogan -"less is more"-, fez de "Aquilo de Que Somos Feitos" um espetáculo para pequenos espaços, capazes de reunir no máximo cem espectadores por apresentação.
"A proximidade física permite ao público observar minúcias que escapam no palco convencional", diz. Antes do início do espetáculo, a recepção é feita por um dos bailarinos, que indica melhores posições de observação para os espectadores, que podem ficar sentados ou em pé.
Em seguida, o elenco nu dá início à representação de imagens insólitas do corpo humano, que por vezes perde suas formas habituais. Com movimentos lentos, sem música ou cenários, os bailarinos distribuem-se como esculturas, que podem ser vistas sob ângulos diversos.
"No futuro, é provável que cada uma das duas partes desse espetáculo dê origem a peças distintas", diz Lia, que define "Aquilo de Que Somos Feitos" como um exercício. "Depois de lidar com tantas informações extraídas da obra de Mário de Andrade, que inspirou meu espetáculo anterior, "Folia", eu queria experimentar novas possibilidades."
Pela primeira vez, Lia valeu-se de improvisações para compor a coreografia. "Foi fundamental a participação dos bailarinos, que trouxeram movimentações próprias para serem retrabalhadas."


Espetáculo: Aquilo de Que Somos Feitos Quando: hoje, às 19h e às 21h; amanhã, às 20h Onde: galpão do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700) Quanto: R$ 1,99

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