São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2000


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MÚSICA
Cantoras da vanguarda paulistana lançam CDs "Estátua da Paciência", com canções de Noel, e "Rosa Fervida em Mel"
Denise Assunção e Miriam Maria pedem licença

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

A vanguarda paulistana tenta reacender a chama. Duas de suas cantoras, Denise Assunção, 46, e Miriam Maria, 32, pedem licença e lançam seus discos.
Denise, que prefere sempre se definir como atriz antes de cantora, canta hoje, na Casa Funarte, o repertório de "Estátua da Paciência", quase todo dedicado a canções pouquíssimo conhecidas de Noel Rosa (1910-37).
Miriam, que integrou as Orquídeas do músico Itamar Assumpção e foi uma das pastoras da peça "Auto da Paixão", de Romero de Andrade Lima, lançou ontem, no Sesc Pompéia, seu primeiro CD solo, "Rosa Fervida em Mel".

Denise, Noel
"Estátua da Paciência", gravado ao vivo no estúdio do Sesc Vila Mariana, é o segundo disco de Denise Assunção, que em 1990 lançou "A Maior Bandeira Brasileira", quase todo de canções do irmão Itamar Assumpção.
Antes, ela vinha de tradição teatral desde 68, de início no Paraná, onde viveu desde pequena até os anos 80. Fez cinema com Mazzaropi, trabalhou com Antunes Filho em "Macunaíma" e ficou 16 anos no Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa.
"Sou atriz. Retomo estrada agora fazendo disco, mas na verdade essa não é a minha praia. Dei uma parada com teatro porque está ruim. Tem muita briga, muita competição. O ator não precisa dessa mediocridade. Quando comecei não era assim", afirma.
Diz que isso não significa que vá se tornar cantora ortodoxa. "Meus shows até agora não me agradavam, quero ir melhorando. Pretendo voltar não como uma atriz que virou cantora, mas como uma pessoa sem vínculo nenhum, que está fora da constelação de cantoras. Peço licença a elas."
Afirma que procurou fugir da obviedade na escolha por Noel. "O disco é um passo à frente em minha carreira, quis fazer algo diferente, que não fosse um disquinho a mais. Pesquisei, vi que havia coisa muito mais interessante que "Conversa de Botequim", "As Pastorinhas", essas que todo mundo grava. No show, agradeço a Noel por me ajudar a atravessar esse marasmo, essa mediocridade no teatro e na música."

Miriam, Chico, Zeca
Próxima de autores como Chico César e Zeca Baleiro ("vi aquelas maravilhas nascerem na sala de casa"), Miriam Maria baseou-se em composições deles e de Lenine para fechar o repertório de "Rosa Fervida em Mel".
A proposta, segundo ela, era sobrepor o piano de Nelson Ayres e temas de extração brasileira a bases eletrônicas. "Queria juntar duas gerações e duas linguagens bem diferentes. A pitada eletrônica seria como uma viagem lisérgica, mas no sentido sensorial, sem falar palavras vãs. Não tenho nada contra, mas não consigo cantar música só de entretenimento."
Ela diz que as Orquídeas, oito mulheres agregadas a Itamar Assumpção entre 93 e 95, pretenderam continuar sem o líder: "Fizemos até um show na Funarte sem ele. Ia começar a fluir, mas Itamar não quis. Achávamos que o sentido era fazer com repertório dele, ficamos revoltadas, mas tivemos de parar". Miriam, que estudou canto lírico por oito anos, tem período peculiar em seu currículo: foi por um ano vocalista de apoio de Leandro e Leonardo.
"Ganha-se superbem nesse circuito, e eu estava dura. Juntei grana para comprar um piano, um carro. Eles cantam para multidões. Não me identifico com aquela linguagem, mas foi importante." O palco, hoje, é delas.


Show: Denise Assunção Onde: Sala Funarte (al. Nothmann, 1.058, tel. 0/xx/11/3662-5177) Quando: hoje, às 21h Quanto: R$ 15

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