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MÚSICA
Cantoras da vanguarda paulistana lançam CDs "Estátua da Paciência", com canções de Noel, e "Rosa Fervida em Mel"
Denise Assunção e Miriam Maria pedem licença
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A vanguarda paulistana tenta
reacender a chama. Duas de suas
cantoras, Denise Assunção, 46, e
Miriam Maria, 32, pedem licença
e lançam seus discos.
Denise, que prefere sempre se
definir como atriz antes de cantora, canta hoje, na Casa Funarte, o
repertório de "Estátua da Paciência", quase todo dedicado a canções pouquíssimo conhecidas de
Noel Rosa (1910-37).
Miriam, que integrou as Orquídeas do músico Itamar Assumpção e foi uma das pastoras da peça
"Auto da Paixão", de Romero de
Andrade Lima, lançou ontem, no
Sesc Pompéia, seu primeiro CD
solo, "Rosa Fervida em Mel".
Denise, Noel
"Estátua da Paciência", gravado
ao vivo no estúdio do Sesc Vila
Mariana, é o segundo disco de
Denise Assunção, que em 1990
lançou "A Maior Bandeira Brasileira", quase todo de canções do
irmão Itamar Assumpção.
Antes, ela vinha de tradição teatral desde 68, de início no Paraná,
onde viveu desde pequena até os
anos 80. Fez cinema com Mazzaropi, trabalhou com Antunes Filho em "Macunaíma" e ficou 16
anos no Teatro Oficina de José
Celso Martinez Corrêa.
"Sou atriz. Retomo estrada agora fazendo disco, mas na verdade
essa não é a minha praia. Dei uma
parada com teatro porque está
ruim. Tem muita briga, muita
competição. O ator não precisa
dessa mediocridade. Quando comecei não era assim", afirma.
Diz que isso não significa que vá
se tornar cantora ortodoxa.
"Meus shows até agora não me
agradavam, quero ir melhorando.
Pretendo voltar não como uma
atriz que virou cantora, mas como
uma pessoa sem vínculo nenhum,
que está fora da constelação de
cantoras. Peço licença a elas."
Afirma que procurou fugir da
obviedade na escolha por Noel.
"O disco é um passo à frente em
minha carreira, quis fazer algo diferente, que não fosse um disquinho a mais. Pesquisei, vi que havia coisa muito mais interessante
que "Conversa de Botequim", "As
Pastorinhas", essas que todo mundo grava. No show, agradeço a
Noel por me ajudar a atravessar
esse marasmo, essa mediocridade
no teatro e na música."
Miriam, Chico, Zeca
Próxima de autores como Chico
César e Zeca Baleiro ("vi aquelas
maravilhas nascerem na sala de
casa"), Miriam Maria baseou-se
em composições deles e de Lenine
para fechar o repertório de "Rosa
Fervida em Mel".
A proposta, segundo ela, era sobrepor o piano de Nelson Ayres e
temas de extração brasileira a bases eletrônicas. "Queria juntar
duas gerações e duas linguagens
bem diferentes. A pitada eletrônica seria como uma viagem lisérgica, mas no sentido sensorial, sem
falar palavras vãs. Não tenho nada
contra, mas não consigo cantar
música só de entretenimento."
Ela diz que as Orquídeas, oito
mulheres agregadas a Itamar Assumpção entre 93 e 95, pretenderam continuar sem o líder: "Fizemos até um show na Funarte sem
ele. Ia começar a fluir, mas Itamar
não quis. Achávamos que o sentido era fazer com repertório dele,
ficamos revoltadas, mas tivemos
de parar". Miriam, que estudou
canto lírico por oito anos, tem período peculiar em seu currículo:
foi por um ano vocalista de apoio
de Leandro e Leonardo.
"Ganha-se superbem nesse circuito, e eu estava dura. Juntei grana para comprar um piano, um
carro. Eles cantam para multidões. Não me identifico com
aquela linguagem, mas foi importante." O palco, hoje, é delas.
Show: Denise Assunção
Onde: Sala Funarte (al. Nothmann,
1.058, tel. 0/xx/11/3662-5177)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: R$ 15
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