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ERUDITO
Osesp traz ópera de Rachmaninov, hoje e sábado, regida por Neschling
Paolo e Francesca se amam em SP
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Osesp (Orquestra Sinfônica
do Estado) trará hoje e sábado
uma raridade do repertório:
"Francesca da Rimini", uma das
três óperas do compositor russo
Sergei Rachmaninov (1873-1943).
Francesca da Polenta foi uma
princesa do final do século 13,
personagem real e integrado por
Dante Alighieri à "Divina Comédia". Casa-se por conveniência
com Lanciotto Malatesta, repulsivo príncipe de Rimini, mas se
apaixona pelo cunhado, Paolo. O
marido ultrajado pune ambos
com o duplo assassinato, ocorrido em 1283 ou 1284.
Paolo e Francesca povoaram o
imaginário do século 19 por encarnarem uma história de amor
impossível, atropelando o moralismo de Dante, que colocou no
inferno o casal contemporâneo
seu, em razão do adultério e da
suposta luxúria consumada.
A história rendeu um conhecido drama de Gabriele D'Annunzio, estreado em 1901, e também
uma segunda ópera, do italiano
Riccardo Zandonai (1883-1944).
A que Rachmaninov escreveu é
anterior. Estreou em Moscou em
1906 e tem como libretista Modest
Tchaikovski -irmão de Piotr
Iliich, o compositor. Sua carreira
foi errática. Há três gravações dela
no catálogo, a menos desconhecida sob a direção de Neeme Järvi.
Ela será apresentada, na Sala
São Paulo, em versão de concerto,
com solistas vocais e sob a regência de John Neschling. Leia trechos da entrevista do maestro.
Folha - "Francesca" é reconhecível como obra de Rachmaninov ou
é algo musicalmente singular entre
as composições dele?
John Neschling - É perfeitamente
reconhecível. Por momentos ela
se assemelha aos concertos para
piano. A orquestração é do estilo
dele. O melodismo transparece
pelas três árias. No início há um
cromatismo um pouco wagneriano, já que Rachmaninov havia assistido o "Parsifal" e o ciclo do
"Ring" em Bayreuth, que o impressionaram bastante.
Folha - Há então uma mistura de
música russa com germânica?
Neschling - Eu diria que é bem
mais russa. A ária do barítono é
exemplar. O prólogo e o epílogo é
que são mais wagnerianos.
Folha - Como explicar que "Francesca" tenha sido relegada ao segundo plano por tanto tempo?
Neschling - O mesmo aconteceu
com "Aleko", a primeira ópera
que Rachmaninov compôs.
"Francesca" foi escrita logo depois da depressão que ele enfrentou, em razão do fracasso da "Sinfonia nš 1". Creio que as pessoas
"eruditas" torcem o nariz para
Rachmaninov. É uma injustiça
enorme, porque ele é um compositor extraordinário, sobretudo
nas obras menos conhecidas.
Folha - Não seria também uma
questão de inadequação ao mercado dos intérpretes?
Neschling - Muitas óperas deixam de ser encenadas porque não
têm papéis em que os grandes
cantores possam brilhar extraordinariamente. É por isso que apenas os russos põem "Francesca"
no repertório.
Folha - A música dele é sempre
um pouco melancólica. É também
esse o caso?
Neschling - Os russos têm sempre esse lado de melancolia. Era
uma característica também do
Tchaikovski, do Glinka, do Mussorgski. Foram todos ambiguamente melancólicos. Nenhum deles é completamente feliz.
FRANCESCA DA RIMINI. Ópera de
Sergei Rachmaninov. Com a Osesp, dir.
John Neschling; Quando: hoje, às 21h, e
sábado, às 16h30; Onde: na Sala São
Paulo, (pça. Júlio Prestes, s/nš, tel. 3337-5414). Quanto: de R$ 22 a R$ 70.
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