São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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ERUDITO

Osesp traz ópera de Rachmaninov, hoje e sábado, regida por Neschling

Paolo e Francesca se amam em SP

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) trará hoje e sábado uma raridade do repertório: "Francesca da Rimini", uma das três óperas do compositor russo Sergei Rachmaninov (1873-1943).
Francesca da Polenta foi uma princesa do final do século 13, personagem real e integrado por Dante Alighieri à "Divina Comédia". Casa-se por conveniência com Lanciotto Malatesta, repulsivo príncipe de Rimini, mas se apaixona pelo cunhado, Paolo. O marido ultrajado pune ambos com o duplo assassinato, ocorrido em 1283 ou 1284.
Paolo e Francesca povoaram o imaginário do século 19 por encarnarem uma história de amor impossível, atropelando o moralismo de Dante, que colocou no inferno o casal contemporâneo seu, em razão do adultério e da suposta luxúria consumada.
A história rendeu um conhecido drama de Gabriele D'Annunzio, estreado em 1901, e também uma segunda ópera, do italiano Riccardo Zandonai (1883-1944).
A que Rachmaninov escreveu é anterior. Estreou em Moscou em 1906 e tem como libretista Modest Tchaikovski -irmão de Piotr Iliich, o compositor. Sua carreira foi errática. Há três gravações dela no catálogo, a menos desconhecida sob a direção de Neeme Järvi.
Ela será apresentada, na Sala São Paulo, em versão de concerto, com solistas vocais e sob a regência de John Neschling. Leia trechos da entrevista do maestro.
 

Folha - "Francesca" é reconhecível como obra de Rachmaninov ou é algo musicalmente singular entre as composições dele?
John Neschling -
É perfeitamente reconhecível. Por momentos ela se assemelha aos concertos para piano. A orquestração é do estilo dele. O melodismo transparece pelas três árias. No início há um cromatismo um pouco wagneriano, já que Rachmaninov havia assistido o "Parsifal" e o ciclo do "Ring" em Bayreuth, que o impressionaram bastante.

Folha - Há então uma mistura de música russa com germânica?
Neschling -
Eu diria que é bem mais russa. A ária do barítono é exemplar. O prólogo e o epílogo é que são mais wagnerianos.

Folha - Como explicar que "Francesca" tenha sido relegada ao segundo plano por tanto tempo?
Neschling -
O mesmo aconteceu com "Aleko", a primeira ópera que Rachmaninov compôs. "Francesca" foi escrita logo depois da depressão que ele enfrentou, em razão do fracasso da "Sinfonia nš 1". Creio que as pessoas "eruditas" torcem o nariz para Rachmaninov. É uma injustiça enorme, porque ele é um compositor extraordinário, sobretudo nas obras menos conhecidas.

Folha - Não seria também uma questão de inadequação ao mercado dos intérpretes?
Neschling -
Muitas óperas deixam de ser encenadas porque não têm papéis em que os grandes cantores possam brilhar extraordinariamente. É por isso que apenas os russos põem "Francesca" no repertório.

Folha - A música dele é sempre um pouco melancólica. É também esse o caso?
Neschling -
Os russos têm sempre esse lado de melancolia. Era uma característica também do Tchaikovski, do Glinka, do Mussorgski. Foram todos ambiguamente melancólicos. Nenhum deles é completamente feliz.


FRANCESCA DA RIMINI. Ópera de Sergei Rachmaninov. Com a Osesp, dir. John Neschling; Quando: hoje, às 21h, e sábado, às 16h30; Onde: na Sala São Paulo, (pça. Júlio Prestes, s/nš, tel. 3337-5414). Quanto: de R$ 22 a R$ 70.


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