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A CRISE DOS UNIVERSAIS
Filósofo participa de seminário no Rio
Rouanet diz que "especialista" é o principal inimigo do intelectual
DA SUCURSAL DO RIO
Para Sérgio Paulo Rouanet, o
maior inimigo do intelectual, hoje, é o "especialista acadêmico".
Não por acaso, a afirmação foi feita na palestra "A Crise dos Universais", uma defesa de valores
universais como justiça e verdade
feita no seminário "O Silêncio dos
Intelectuais", anteontem, no Rio.
"Seria uma coisa muito grave
que o intelectual, um apaixonado
que luta no espaço público por valores universais, seja substituído
por profissionais, politólogos, demógrafos, que funcionam com
base em um poder positivista, incapazes de fazer a crítica quando
ela é necessária", disse, respondendo a uma pergunta da platéia
do Maison de France.
Na palestra, ele já tocara no assunto, citando como exemplo da
"profissionalização do trabalho
intelectual", sem "cultura humanística", os analistas que participam de programas do canal GloboNews. "Nunca vocês os surpreenderão no delito de formular
juízos de valor. Cientista não valoriza, cientista descreve", disse.
Segundo ele, o escritor -classificação em que podem estar ficcionistas, pensadores e jornalistas- "está inserido na divisão social do trabalho, é um profissional
como os outros. Isso significa que
ele tem todo o direito de não ser
politicamente ativo".
"Já ultrapassamos o tempo em
que se exigia de todo escritor que
fosse engajado. De Guimarães
Rosa não se pode exigir senão que
produza "Grande Sertão", e não é
pouco. Tudo o mais é stalinismo."
Acabou da mesma forma, para
ele, o tempo do intelectual que se
pretendia heróico, mas era "arrogante e freqüentemente antidemocrático, porque tinha a ilusão
pubertária de que podia ajudar os
homens a alcançar uma verdadeira consciência de si".
"Hoje, [o intelectual] sabe que
não há caminho fora da democracia", disse Rouanet, que ainda foi
irônico sobre o intelectual: "Ele é
mais neurótico do que onipotente. Está mais para Woody Allen
do que para Rambo."
Rouanet afirmou que "o intelectual está em baixa", pois "não se
vê nem é mais visto como ventríloquo de Deus, funcionário do absoluto, guardião das chaves da
história". Mas isso não é motivo
para condená-lo ao silêncio, pelo
menos não ao "silêncio dos omissos dos pusilânimes", dos que na
crise brasileira atual, disse, "deveriam ter denunciado os horrores e
não denunciaram; procuraram
desculpas para o indesculpável".
Segundo o filósofo, esse silêncio
"é a negação mais absoluta do estatuto do intelectual", mas ele parece só ter sido adotado por uma
minoria de petistas. Outros podem não estar falando tanto por
espanto diante dos escândalos e
por um "terrível" desprezo em relação à "camarilha que tomou
conta do partido em que os intelectuais e a maioria do povo brasileiro tinham depositado todas as
suas esperanças".
Rouanet terminou a palestra
com "uma nota de otimismo": "O
intelectual não está mudo. A reação à nossa crise política e os debates deste ciclo mostram que sua
voz está voltando a ser ouvida.
Mas, para que ela readquira todo
o seu vigor, é indispensável reagir
contra o descrédito das perspectivas universais".
(LFV)
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