São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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A CRISE DOS UNIVERSAIS

Filósofo participa de seminário no Rio

Rouanet diz que "especialista" é o principal inimigo do intelectual

DA SUCURSAL DO RIO

Para Sérgio Paulo Rouanet, o maior inimigo do intelectual, hoje, é o "especialista acadêmico". Não por acaso, a afirmação foi feita na palestra "A Crise dos Universais", uma defesa de valores universais como justiça e verdade feita no seminário "O Silêncio dos Intelectuais", anteontem, no Rio.
"Seria uma coisa muito grave que o intelectual, um apaixonado que luta no espaço público por valores universais, seja substituído por profissionais, politólogos, demógrafos, que funcionam com base em um poder positivista, incapazes de fazer a crítica quando ela é necessária", disse, respondendo a uma pergunta da platéia do Maison de France.
Na palestra, ele já tocara no assunto, citando como exemplo da "profissionalização do trabalho intelectual", sem "cultura humanística", os analistas que participam de programas do canal GloboNews. "Nunca vocês os surpreenderão no delito de formular juízos de valor. Cientista não valoriza, cientista descreve", disse.
Segundo ele, o escritor -classificação em que podem estar ficcionistas, pensadores e jornalistas- "está inserido na divisão social do trabalho, é um profissional como os outros. Isso significa que ele tem todo o direito de não ser politicamente ativo".
"Já ultrapassamos o tempo em que se exigia de todo escritor que fosse engajado. De Guimarães Rosa não se pode exigir senão que produza "Grande Sertão", e não é pouco. Tudo o mais é stalinismo."
Acabou da mesma forma, para ele, o tempo do intelectual que se pretendia heróico, mas era "arrogante e freqüentemente antidemocrático, porque tinha a ilusão pubertária de que podia ajudar os homens a alcançar uma verdadeira consciência de si".
"Hoje, [o intelectual] sabe que não há caminho fora da democracia", disse Rouanet, que ainda foi irônico sobre o intelectual: "Ele é mais neurótico do que onipotente. Está mais para Woody Allen do que para Rambo."
Rouanet afirmou que "o intelectual está em baixa", pois "não se vê nem é mais visto como ventríloquo de Deus, funcionário do absoluto, guardião das chaves da história". Mas isso não é motivo para condená-lo ao silêncio, pelo menos não ao "silêncio dos omissos dos pusilânimes", dos que na crise brasileira atual, disse, "deveriam ter denunciado os horrores e não denunciaram; procuraram desculpas para o indesculpável".
Segundo o filósofo, esse silêncio "é a negação mais absoluta do estatuto do intelectual", mas ele parece só ter sido adotado por uma minoria de petistas. Outros podem não estar falando tanto por espanto diante dos escândalos e por um "terrível" desprezo em relação à "camarilha que tomou conta do partido em que os intelectuais e a maioria do povo brasileiro tinham depositado todas as suas esperanças".
Rouanet terminou a palestra com "uma nota de otimismo": "O intelectual não está mudo. A reação à nossa crise política e os debates deste ciclo mostram que sua voz está voltando a ser ouvida. Mas, para que ela readquira todo o seu vigor, é indispensável reagir contra o descrédito das perspectivas universais". (LFV)


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