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CDS
MÚSICA
Em sua estréia na Trama, cantora grava compositores pouco conhecidos
Gal faz garimpo musical e lança álbum com inéditas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de sete anos lançando
discos com repertórios isentos de
novidades, Gal Costa volta ao presente com "Hoje". O título significativo foi retirado de uma canção
de Moreno Veloso, que, não fosse
filho de Caetano, poderia entrar
no largo rol de compositores pouco ou nada conhecidos do CD.
"Achei que "Hoje" se adequava,
porque estou fazendo 60 anos
[em 26 de setembro] com um disco rejuvenescedor, instigante.
Não me lembro, na história da
MPB, de alguém que tenha lançado tanta gente nova para o grande
público", orgulha-se a cantora.
Gal passou os últimos anos trocando de gravadora (BMG, MZA,
Abril, Indie) e sendo cobrada para
lançar um disco de inéditas. Agora na Trama e morando em São
Paulo -depois de sete anos em
Salvador- ela diz ter ficado mais
próxima dos novos autores.
"É preciso ter disponibilidade
para ir aos lugares, procurar. Os
compositores estão escondidos e
têm dificuldade de mostrar seu
trabalho. Na minha geração era
mais fácil, pois havia os festivais e
a mídia estava disponível para registrar tudo o que acontecia nas
ruas, nas faculdades, nas festas."
Com a ajuda da Trama e do letrista Carlos Rennó, Gal recebeu
cerca de 200 músicas inéditas ou
gravadas apenas por seus autores.
A qualidade que afirma ter encontrado é um mote para ela rechaçar que tenha afirmado, em
2001, que não havia bons compositores novos no Brasil.
"Não sou louca de dizer uma
frase dessa. Fui mal interpretada.
O que disse é que, quando fiz
"Aquele Frevo Axé" [1998], um
disco que passou em branco e hoje parte da imprensa reconhece
como bom e de certa forma inovador, não encontrei nada que se
adequasse ao meu universo musical. Existem bons [compositores]
sim", afirma.
Alguns desses, estão em "Hoje":
os baianos Moisés Santana, Péri e
Tito Bahiense; o pernambucano
Junio Barreto; e o paulista Hilton
Raw. Há outros "novos compositores" de outras áreas, como os
artistas plásticos Nuno Ramos,
Eduardo Climachauska e Lenora
Barros, e o jornalista Marcos Augusto Gonçalves, editor de Opinião da Folha.
"Péri, Moisés e Junio, por exemplo, gravaram discos independentes e estão ralando há bastante
tempo, mas ninguém dava trela.
Tive a oportunidade de ter acesso
a esse material e lançá-lo", diz Gal.
Liderando a turma, autora de
três das 14 faixas, está a dupla formada pelo paulista Carlos Rennó
e o músico Lokua Kanza, nome
conhecido na seara world music,
nascido no antigo Zaire, hoje República Democrática do Congo.
"No show que vou começar a
montar, ainda pretendo incluir
um ou dois compositores que eu
queria ter gravado, mas ficaram
de fora", conta ela.
Representando sua geração, estão, com uma inédita cada, Caetano ("Luto") e Chico Buarque
("Embebedado", com letra de José Miguel Wisnik). Eles aparecem
discretos no disco, nas faixas 9 e
13, respectivamente. "A escolha
das faixas foi casual", diz Gal.
"Hoje" foi feito de uma forma
pouco comum nos tempos atuais:
com uma mesma banda tocando
em quase todas as faixas e um
mesmo arranjador, Cesar Camargo Mariano. "Cesar vive um momento bem "cool", e eu sou uma
cantora essencialmente "cool"."
O sonho inicial de Cesar, de fazer com a cantora um disco dedicado ao repertório de Chet Baker,
ficou para 2006.
Foi o pianista quem fez a ponte
entre a Trama, de seu enteado
João Marcello Bôscoli, e Gal. Ela
nega que tenha sofrido pressões
de gravadoras nos discos anteriores ("Eu estava gravando as coisas
que eu queria"), mas se diz feliz
em ter seguido o caminho das independentes, como fizeram os
também "medalhões" Maria Bethânia e Chico Buarque.
"Eles [da Trama] gostam de fazer o que o artista quer, trabalhar
em comunhão. Isso não tem preço. É um clima muito melhor do
que o anterior", comenta.
Ela não deixa vazar nenhum temor por estar lançando um CD de
compositores novos por um selo
menor: "Meu público é fiel".
"Hoje" chega "rejuvenescedor"
em um momento "muito ruim"
no país. "É desolador o PT ter vindo com um discurso de mudança,
e acabar sendo revelado que [o
partido] não era só conivente,
mas fez tudo em dobro. Espero
que esse processo seja um exorcismo, para limpar essa bandalheira. Estou muito entristecida."
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