São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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Maria Bonita era "poser'; Dadá, mais tradicional

DA REPORTAGEM LOCAL

No caso específico das mulheres, os registros coletados por Élise Jasmin revelam tanto seu desejo de dignidade, quanto sua vaidade. A historiadora diz que as fotos permitem ver as diferenças profundas de percepção que as cangaceiras tinham de suas próprias imagens, sobretudo Maria Bonita, mulher de Lampião, e Dadá, companheira de Corisco.
"Enquanto Maria Bonita se arrogava muitas vezes o direito de posar à moda da cidade e de se apropriar dos modelos de figuração ditos burgueses, Dadá não posava individualmente, mas sempre ao lado do marido. E não sucumbia à tentação de seguir outros modelos que não os do cangaço, usando sempre roupas tradicionais", conta Jasmin.
"A foto dela com Corisco chama a atenção: percebe-se o engajamento de Dadá, um ato de fé no cangaço. Ela descansa a mão sobre o ombro de Corisco. Este gesto exprime a pertença, a camaradagem, a solidariedade. Dadá e Corisco posam como dois indivíduos iguais, conscientes da força que emana deles. São dois puristas."
Um exemplo contrário seria, para a historiadora, a foto de Lampião e Maria Bonita com cães. Ela aparece sentada, acariciando os animais, e Lampião de pé, lendo uma revista.
"Temos aqui todos os ingredientes de uma foto dita burguesa. Mas, na falta de filhos, são os cães que posam ao lado de Maria Bonita. A vida no cangaço não permitia cuidar de crianças. Lampião segura de modo desajeitado a revista, com seus dedos cheios de anéis. E os cães, a decoração natural com mato e árvores raquíticas, tudo isso coloca estes dois atores de volta ao quadro cruel do cangaço." (ES)


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