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Maria Bonita era "poser'; Dadá, mais tradicional
DA REPORTAGEM LOCAL
No caso específico das
mulheres, os registros coletados por Élise Jasmin
revelam tanto seu desejo
de dignidade, quanto sua
vaidade. A historiadora diz
que as fotos permitem ver
as diferenças profundas de
percepção que as cangaceiras tinham de suas próprias imagens, sobretudo
Maria Bonita, mulher de
Lampião, e Dadá, companheira de Corisco.
"Enquanto Maria Bonita se arrogava muitas vezes o direito de posar à
moda da cidade e de se
apropriar dos modelos de
figuração ditos burgueses,
Dadá não posava individualmente, mas sempre
ao lado do marido. E não
sucumbia à tentação de seguir outros modelos que
não os do cangaço, usando
sempre roupas tradicionais", conta Jasmin.
"A foto dela com Corisco
chama a atenção: percebe-se o engajamento de Dadá,
um ato de fé no cangaço.
Ela descansa a mão sobre
o ombro de Corisco. Este
gesto exprime a pertença,
a camaradagem, a solidariedade. Dadá e Corisco
posam como dois indivíduos iguais, conscientes
da força que emana deles.
São dois puristas."
Um exemplo contrário
seria, para a historiadora,
a foto de Lampião e Maria
Bonita com cães. Ela aparece sentada, acariciando
os animais, e Lampião de
pé, lendo uma revista.
"Temos aqui todos os
ingredientes de uma foto
dita burguesa. Mas, na falta de filhos, são os cães que
posam ao lado de Maria
Bonita. A vida no cangaço
não permitia cuidar de
crianças. Lampião segura
de modo desajeitado a revista, com seus dedos
cheios de anéis. E os cães, a
decoração natural com
mato e árvores raquíticas,
tudo isso coloca estes dois
atores de volta ao quadro
cruel do cangaço."
(ES)
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