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Crítica/perfil
Jornalista retoma a disputa sobre paternidade da aviação
FLÁVIO DE CARVALHO SERPA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 2002 o Congresso
dos EUA cassou de Alexander Graham Bell a
paternidade da invenção do telefone, devolvendo-a ao italiano Antonio Meucci, reparando
uma injustiça que durou 113
anos. Em "Conexão Wright-Santos-Dumont", o jornalista
Salvador Nogueira mostra porque não se deve esperar dos
americanos generosidade semelhante em relação a Alberto
Santos-Dumont, preterido na
paternidade da invenção do
avião em proveito dos irmãos
Orville e Wilbur Wright.
Nogueira, jornalista especializado em tecnologia, tenta
purgar para os leitores brasileiros o chauvinismo que envolve
a questão -o Brasil é o único
país onde Santos-Dumont é
considerado o pai da aviação. A
pista para a decolagem do mais
pesado que o ar, segundo Nogueira, estava pavimentada de
arapucas legais tão complicadas quanto os desafios tecnológicos. Para agravar, uma acesa
batalha de egos e intrigas torna
a obra, escrita na forma romanceada, uma leitura cativante.
A raiz de toda confusão seria
o sistema de patentes, uma profunda paranóia americana que
contaminou todo o mundo. A
verdadeira história da invenção
do avião acaba sendo um capítulo dramático da batalha das
patentes. Os irmãos Wright
mantiveram em segredo as
provas de terem voado bem antes do brasileiro, como ficou
provado posteriormente, para
evitar a espionagem industrial.
A obsessão com o sistema foi
tão longe que eles acabaram infernizando a vida de todos os
inventores posteriores com
suas patentes muito abrangentes. As pendengas só acabaram
com um mal pior: o governo
americano suspendeu-as para
limpar o caminho no esforço de
guerra.
Uma falha do texto é a salada
de sistemas de medidas. Um
vôo de 200 jardas é muita ou
pouca coisa? Uma envergadura
de asas de 18 pés é enorme? O
mesmo para os valores monetários: 1 milhão de francos cobrados pelos irmãos Wright
por um avião ao governo francês era uma exorbitância?
Ao final de "Conexão" emerge um Santos-Dumont quase
patético no seu purismo humanista, ao contrário da maior
parte dos inventores que perseguia o promissor mercado de
máquinas de guerra. Ele distribuía os prêmios que ganhava
entre seus mecânicos e os pobres de Paris e nunca patenteou os planos de seus aeroplanos. A idéia de a invenção do
avião servir ao morticínio das
guerras atormentou Santos-Dumont e apressou o final trágico de sua vida. Talvez seja esse humanismo, afinal, a mais
indelével e incontestável grandeza do brasileiro.
CONEXÃO WRIGHT-SANTOS-DUMONT - A VERDADEIRA HISTÓRIA DA INVENÇÃO DO AVIÃO
Autor: Salvador Nogueira
Editora: Record
Quanto: R$ 42,90 (380 págs.)
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