|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiros faturam na carona de hits da Disney
Vídeo Brinquedo faz sucesso com desenhos como "Os Carrinhos" e "Ratatoing"
Surfando em "Carros" e "Ratatouille", DVDs vendem mais de 350 mil unidades; advogados discutem se seria plágio
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Já ouviu falar no desenho sobre carros falantes, entre eles
um de corrida, uma Kombi e
um carro feminino, que vivem
em uma cidade só de automóveis? E sobre a animação que
trata de um rato cozinheiro?
Essas descrições trazem à
mente "Carros" e "Ratatouille",
os dois últimos longas da gigante norte-americana Pixar, parte
da Disney. Mas não serão poucos -mais de 370 mil pessoas,
no mínimo- os que também
identificarão aí as tramas de
"Os Carrinhos" e "Ratatoing",
obras da microprodutora paulista Vídeo Brinquedo.
Os filmes da empresa brasileira, lançados diretamente em
DVD e encontrados nas locadoras e lojas (inclusive as virtuais), têm semelhanças evidentes com as animações da Pixar (veja quadro ao lado) e,
guardadas as proporções, têm
feito sucesso semelhante.
O hit da Vídeo Brinquedo é
"Os Carrinhos", lançado em
2006, quando "Carros" ainda
estava nos cinemas. O filme de
45 minutos (menos da metade
da duração do americano) tornou-se tão popular que vendeu
310 mil cópias, segundo a produtora, e já ganhou duas seqüências -a terceira está a caminho. É vendido até para o exterior, pela Amazon.com, como
"The Little Cars".
""Os Carrinhos" já adquiriu
vida própria", explica à Folha
Marco Botana, gerente de produto da Vídeo Brinquedo.
"Recebemos vários e-mails
de gente querendo saber quando sai o próximo volume. Eles
vendem muito quando são lançados. A intenção é montar
uma série, fazer temporadas.
Montamos aos poucos, vendemos no varejo e, com o lucro,
fazemos mais episódios. É nossa forma de financiar a produção, já que não recebemos nenhum tipo de patrocínio nem
usamos leis de incentivo."
A agilidade é uma das vantagens da produtora: ela lança
seus DVDs antes dos estúdios
oficiais e aproveita a onda criada pelos blockbusters. "Ratatoing", por exemplo, chegou às
prateleiras quase ao mesmo
tempo em que "Ratatouille" estreou nos cinemas, vários meses antes que seu concorrente
chegue às lojas -e, nesse período, já vendeu 60 mil cópias.
A outra vantagem é o preço:
como seu investimento em cada filme é cerca de dez vezes
menor (com influência direta
na qualidade do produto, é claro), o DVD de "Os Carrinhos"
ou de "Ratatoing" pode ser
comprado por R$ 10, cerca de
um quarto do preço das obras
da Disney -mais barato, inclusive, do que muitos cinemas.
Por fim, a Vídeo Brinquedo
também fatura alto com produtos licenciados -"Os Carrinhos" já renderam ovos de Páscoa, brinquedos e cadernos.
Contra a lei?
A pergunta que se impõe sobre as produções da Vídeo
Brinquedo é se elas não seriam
plágios e, portanto, ilegais.
"Acho que, possivelmente,
um juiz decidiria que isso viola
os direitos autorais", afirmou à
Folha o advogado Ronaldo Lemos, professor da FGV e especialista em tecnologia. Ele alegou conhecer o caso, mas não
assistiu às obras brasileiras.
"É uma linha tênue, porque o
direito autoral não protege a
idéia, mas sua manifestação. Se
há uma cópia de personagens e
da estrutura, dá para dizer que
está havendo violação, sim."
Lemos pondera, no entanto,
que, se o roteiro tiver originalidade suficiente -as histórias
dos desenhos brasileiros não
são idênticas às originais-, o
caso não seria considerado infração, já que a Lei de Direitos
Autorais diz que "são livres as
paráfrases e paródias que não
forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe
implicarem descrédito".
"Há um caso semelhante, o
do livro brasileiro "O Código
Aleijadinho". Aquilo não é plágio. Apesar de ser inspirado em
"O Código Da Vinci" e de ter
uma estrutura parecida, é um
livro original, o autor pegou a
idéia e a adaptou."
Botana defende as produções da empresa. "As temáticas
são diferentes, as histórias não
têm nada a ver com os filmes da
Pixar", explica. "As animações
seguem ondas, teve uma de bichos da floresta antes, depois
de bichos do mar, todos os estúdios embarcam, inclusive
nós, à nossa humilde maneira."
Direito do consumidor
Segundo Sérgio Branco Júnior, advogado especialista em
propriedade intelectual e consultor do Ministério da Cultura, as semelhanças visuais e de
nome entre as embalagens dos
produtos tornam o caso contra
a Vídeo Brinquedo mais forte.
"Do ponto de vista da identificação do produto, pela Lei de
Propriedade Industrial, poderia se caracterizar a concorrência desleal", que trata de quem
"emprega meio fraudulento para desviar clientela de outrem".
Para Branco Júnior, há ainda
uma infração ao Código de Defesa do Consumidor. "Tenho 33
anos, vou ao cinema sempre,
não me confundiria vendo esses filmes nas lojas. Mas uma
avó que vá comprar para o neto
pode se confundir. É possível
pensar que a apresentação do
produto leve alguns a comprar
uma coisa por outra."
Texto Anterior: Para Montenegro, autor criou imaginário exclusivo Próximo Texto: Estúdio decide consultar advogados Índice
|