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Crítica
"Noite Vazia" desnorteou o cinema novo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Noite Vazia" (Canal Brasil,
0h30) foi, durante muito tempo, a pedra no sapato do cinema novo. Primeiro, porque foi
um grande sucesso. Segundo,
porque Glauber Rocha admirava Walter Hugo Khouri. E, sobretudo, porque estava ali um
filme indiscutivelmente bom,
porém fora dos parâmetros do
cinema novo.
Ora, é muito possível (e pertinente) notar as influências
estrangeiras de Khouri (Bergman e Antonioni). Mas não dá
para imaginar um cinema autóctone, e a turma do cinema
novo era a primeira a entregar
suas dívidas com o neo-realismo ou Eisenstein.
Mas esse não seria o ponto
principal de discordância. O fato de Khouri, embora egresso
do sistema de estúdios, ser um
autor plenamente moderno
era um problema. Podia-se
destituir um Anselmo Duarte,
pelo que tem de classicizante,
mas Khouri, não. O pior, no entanto, me parece que seria a
afirmação de "universalidade"
do filme, o que significa a suposição de que tudo aquilo que
aconteceu é razoavelmente
transportável para qualquer
país do mundo. O específico local escapa a essa trama de dois
rapazes que passam a noite
com garotas de programa.
Khouri não era um mero
imitador. Nem era do cinema
novo, mas também não era seu
antípoda. E aí começa o drama:
o que fazer com esse cinema?
(Já não bastasse esse, agora
aparece Nelson Pereira dos
Santos a dizer que nunca foi do
cinema novo! Que fazer?).
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