São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Crítica

"Noite Vazia" desnorteou o cinema novo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Noite Vazia" (Canal Brasil, 0h30) foi, durante muito tempo, a pedra no sapato do cinema novo. Primeiro, porque foi um grande sucesso. Segundo, porque Glauber Rocha admirava Walter Hugo Khouri. E, sobretudo, porque estava ali um filme indiscutivelmente bom, porém fora dos parâmetros do cinema novo.
Ora, é muito possível (e pertinente) notar as influências estrangeiras de Khouri (Bergman e Antonioni). Mas não dá para imaginar um cinema autóctone, e a turma do cinema novo era a primeira a entregar suas dívidas com o neo-realismo ou Eisenstein.
Mas esse não seria o ponto principal de discordância. O fato de Khouri, embora egresso do sistema de estúdios, ser um autor plenamente moderno era um problema. Podia-se destituir um Anselmo Duarte, pelo que tem de classicizante, mas Khouri, não. O pior, no entanto, me parece que seria a afirmação de "universalidade" do filme, o que significa a suposição de que tudo aquilo que aconteceu é razoavelmente transportável para qualquer país do mundo. O específico local escapa a essa trama de dois rapazes que passam a noite com garotas de programa.
Khouri não era um mero imitador. Nem era do cinema novo, mas também não era seu antípoda. E aí começa o drama: o que fazer com esse cinema? (Já não bastasse esse, agora aparece Nelson Pereira dos Santos a dizer que nunca foi do cinema novo! Que fazer?).


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