São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO TELEVISÃO

Reestreia do "Roda Viva" expõe uma TV Cultura fora de forma

Novo formato foi marcado por problemas técnicos, de cenário e luz, e por trazer Marília Gabriela mais natural

ROBERTO MUYLAERT
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para uma televisão ter audiência é preciso que a sequência dos programas convide o espectador a permanecer no canal. Uma atração leva a outra, confirmando o surrado adágio de que "uma andorinha só não faz verão".
Numa TV adormecida, não é possível criar um programa de sucesso isolado, entre tantos a que ninguém assiste.
Quem trabalha numa TV sem audiência não está sujeito a espécie alguma de cobrança, bastando repetir a sequência de seu trabalho, sem nenhum risco de que algum espectador, diretor ou conselheiro venha a fazer reparos ou cobranças a respeito de uma programação a que não assiste.
A exceção foi "Roda Viva" (24 anos no ar) da última segunda-feira, cheio de chamadas na TV e nos jornais, alertando para algo fora do comum que iria acontecer na TV Cultura, mas só naquele dia e horário.
O abnegado espectador que chegou até o canal 114 da Sky encontrou o "Roda Viva" reformulado, com qualidades e defeitos. Ou melhor, meia "Roda Viva", uma vez que, tirando Paulo Caruso, no hemisfério Sul do cenário, os demais participantes estão no hemisfério Norte, fora o entrevistado, no centro do semicírculo.
Qualidades: Marília Gabriela melhor do que nos outros programas de entrevistas que faz na TV, mais natural, mais suave. Augusto Nunes discreto e oportuno, fazendo valer a sua larga experiência no programa. E Paulo Moreira Leite vibrante, inteligente e original, rebatendo com gestos enérgicos até as próprias palavras.

NUCA EM FOCO
Consequência do que ocorre numa TV sem audiência, a valorosa equipe técnica da casa, apanhada no susto, mostrou estar fora de forma para um programa com gente assistindo.
A começar pelo cenário verde metálico plastificado, de tonalidade indefinida, que entristece e escurece as figuras focalizadas, sem contrastar com elas. O que faz parecer que está sendo usando o "chroma-key", pela indefinição da borda das imagens. A fraca iluminação ("televisão é iluminação", já disse Boni) faz a fisionomia do entrevistado parecer filme desbotado, como o "stock-shot" que se compra para cobrir textos com imagens, na linguagem televisiva.
Para completar, a posição das câmeras faz a mágica de que a imagem mais focalizada da noite ser a nuca do entrevistado, tendo Marília Gabriela no contraplano, quando deveria ser o contrário.
No formato anterior, os entrevistados do programa, ao entrar no estúdio, reclamavam por estar sendo lançados à cova dos leões. Medo infundado, já que os entrevistadores, no afã de aparecer, sempre se anulavam, em benefício de quem estava no centro da roda.
O menor número de entrevistadores possibilitou o questionamento em sequência, algo fundamental para descobrir o que pensa o entrevistado.
O que não foi suficiente para saber quem é Eike Batista, figura enigmática. Mas aí está um defeito que não pode ser atribuído ao programa.


ROBERTO MUYLAERT , presidente da ANER (Associação Nacional dos Editores de Revistas), foi presidente da TV Cultura (1986-1995) e ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no Governo FHC


Texto Anterior: Bienal tem visão passadista da África, diz angolano
Próximo Texto: 67º Festival De Cinema De Veneza: Festival começa com filmes sangrentos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.