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OPINIÃO TELEVISÃO
Reestreia do "Roda Viva" expõe uma TV Cultura fora de forma
Novo formato foi marcado por problemas técnicos, de
cenário e luz, e por trazer Marília Gabriela mais natural
ROBERTO MUYLAERT
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para uma televisão ter audiência é preciso que a sequência dos programas convide o espectador a permanecer no canal. Uma atração leva a outra, confirmando o
surrado adágio de que "uma
andorinha só não faz verão".
Numa TV adormecida, não é
possível criar um programa
de sucesso isolado, entre tantos a que ninguém assiste.
Quem trabalha numa TV
sem audiência não está sujeito a espécie alguma de cobrança, bastando repetir a
sequência de seu trabalho,
sem nenhum risco de que algum espectador, diretor ou
conselheiro venha a fazer reparos ou cobranças a respeito de uma programação a
que não assiste.
A exceção foi "Roda Viva"
(24 anos no ar) da última segunda-feira, cheio de chamadas na TV e nos jornais, alertando para algo fora do comum que iria acontecer na
TV Cultura, mas só naquele
dia e horário.
O abnegado espectador
que chegou até o canal 114 da
Sky encontrou o "Roda Viva"
reformulado, com qualidades e defeitos. Ou melhor,
meia "Roda Viva", uma vez
que, tirando Paulo Caruso,
no hemisfério Sul do cenário,
os demais participantes estão no hemisfério Norte, fora
o entrevistado, no centro do
semicírculo.
Qualidades: Marília Gabriela melhor do que nos outros programas de entrevistas que faz na TV, mais natural, mais suave. Augusto Nunes discreto e oportuno, fazendo valer a sua larga experiência no programa. E Paulo
Moreira Leite vibrante, inteligente e original, rebatendo
com gestos enérgicos até as
próprias palavras.
NUCA EM FOCO
Consequência do que
ocorre numa TV sem audiência, a valorosa equipe técnica
da casa, apanhada no susto,
mostrou estar fora de forma
para um programa com gente assistindo.
A começar pelo cenário
verde metálico plastificado,
de tonalidade indefinida,
que entristece e escurece as
figuras focalizadas, sem contrastar com elas. O que faz
parecer que está sendo usando o "chroma-key", pela indefinição da borda das imagens. A fraca iluminação
("televisão é iluminação", já
disse Boni) faz a fisionomia
do entrevistado parecer filme
desbotado, como o "stock-shot" que se compra para cobrir textos com imagens, na
linguagem televisiva.
Para completar, a posição
das câmeras faz a mágica de
que a imagem mais focalizada da noite ser a nuca do entrevistado, tendo Marília Gabriela no contraplano, quando deveria ser o contrário.
No formato anterior, os entrevistados do programa, ao
entrar no estúdio, reclamavam por estar sendo lançados à cova dos leões. Medo
infundado, já que os entrevistadores, no afã de aparecer, sempre se anulavam, em
benefício de quem estava no
centro da roda.
O menor número de entrevistadores possibilitou o
questionamento em sequência, algo fundamental para
descobrir o que pensa o
entrevistado.
O que não foi suficiente
para saber quem é Eike Batista, figura enigmática. Mas aí
está um defeito que não pode
ser atribuído ao programa.
ROBERTO MUYLAERT , presidente da ANER
(Associação Nacional dos Editores de
Revistas), foi presidente da TV Cultura
(1986-1995) e ministro-chefe da
Secretaria de Comunicação Social
no Governo FHC
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