São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011

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O iconoclasta

Nelson Leirner comemora 50 anos de carreira com documentário e retrospectiva em São Paulo

Eduardo Knapp/Folhapress
Nelson Leirner na montagem de sua exposição na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Em 1967, Nelson Leirner mandou um porco empalhado para um salão de arte em Brasília, e o bicho foi aceito pelos críticos como uma obra.
Mais de 40 anos depois, o homem que se consagrou como iconoclasta da arte brasileira, com fama de apontar as bizarrices do meio em obras ácidas e irônicas, abre uma retrospectiva em São Paulo sem o malfadado animal.
Enquanto o porco viaja para Bruxelas, onde será destaque no festival Europalia, deixa na Galeria de Arte do Sesi sua ausência sintomática, ressaltando os trabalhos que o próprio Leirner considera mais palatáveis ao mercado. "Minha obra continua crítica, mas a crítica não funciona mais", diz Leirner à Folha. "Ela foi engolida, a sociedade aprendeu a consumir o artista. Não tem como criticar sendo consumido. Todos nós viramos marca registrada."
No caso, ele sabe que será sempre tachado de "irreverente, irônico e bem humorado". "Mas ninguém pensa que posso estar deprimido, que também tomo remédios todos os dias para dormir."
Apesar da derrota do Corinthians no dia anterior à entrevista, Leirner não parecia triste. Ele está consciente e não esconde essa lucidez.
"Tudo ficou pasteurizado, e eu tento alertar para isso no meu trabalho, como se dissesse: olhe, sinta", diz ele. "Só que nem eu mesmo sinto nada. Arte hoje é fabricada, tem que ter galeria, mercado e produzir, gerenciar, ser um pequeno industrial." Em 1966, Leirner fundou com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros uma galeria alternativa, a Rex, que tentava expor a insensatez programada do mercado de arte. Teve prejuízo retumbante e acabou com um "happening" em que as obras foram doadas a quem passasse pelo espaço.
Agora, o artista conta que divide o que faz entre arte e hobby. Grande obra da mostra que abre na semana que vem, "Hobby" é um conjunto de 3.000 pequenos objetos fabricados por ele em momentos de tédio ou distração, noites vazias em quartos de hotel ou longos voos de avião.
É mais uma estocada no seio da arte, meio que ele mesmo aprendeu a moldar a seu favor nos últimos 50 anos. No próximo dia 12, o Instituto Tomie Ohtake destaca essa experiência mostrando obras de Leirner ao lado de trabalhos de seus ex-alunos, como Leda Catunda, Iran do Espírito Santo e Dora Longo Bahia, todos hoje mais do que consagrados no mundinho.

NELSON LEIRNER
QUANDO abre 5/9, às 19h, no Sesi, e 12/9, às 20h, no Tomie Ohtake
ONDE Galeria de Arte do Sesi-SP (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/ 3146-7405) e Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201, tel. 0/xx/11/2245-1900
QUANTO grátis


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