São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011

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Almodóvar destaca o universo feminino em "Volver"

Rodado em 2006, filme do diretor espanhol está no próximo fascículo da Coleção Folha Cine Europeu, que circula neste domingo

DE SÃO PAULO

Mais conhecido cineasta espanhol da atualidade, Pedro Almodóvar é o tema do próximo fascículo da Coleção Folha Cine Europeu, que será lançado nas bancas neste domingo, acompanhado do DVD de "Volver" (2006).
O filme, penúltimo lançado no Brasil, antes de "Abraços Partidos" (2009), traz de volta algumas questões do cinema almodovariano. A principal delas, o universo feminino, com o posicionamento da mulher diante um estado de coisas masculino, está bem representado nas principais personagens.
Raimunda (Penélope Cruz) vive em Madri com filha e marido boçal e volta à sua pequena cidade natal para enterrar, com a irmã Sole (Lola Dueñas), uma tia que supostamente era cuidada pelo fantasma da mãe delas, Irene (Carmen Maura). Tia e mãe não são as únicas defuntas. No porta-malas, está o corpo do marido de Raimunda. Este não surge ao espectador, mas Irene, definitivamente, aparece a todos: personagens e espectador.
É um comentário, jocoso e mordaz, que o diretor faz sobre suas fortes e intensas personagens femininas. Uma homenagem. E um balanço e memorial do cinema que realiza desde os anos 1970.
Não à toa, Almodóvar chama de volta a sua maior musa, Carmen Maura, a grande fêmea do clássico e referencial "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988).
Antes de assinar o estilo que fez sua marca -o de uma dramaturgia "over" que comenta tanto os melodramas televisivos como os grandes clássicos do cinema-, Almodóvar foi um jovem bem atuante na cena rebelde da Espanha da ditadura franquista. Roqueiro, homossexual assumido e cinéfilo apaixonado, defendeu a liberalização sexual e comportamental em curtas em super-8.
Isso fomentou o seu longa de estreia, "Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão" (1980), que já anunciava o estilo que estaria mais firmado e amadurecido ao longo dos anos seguintes, em brilhantes trabalhos como "Matador" (1986), "A Lei do Desejo" (1987) e "Ata-Me" (1990).
Presente nesses três longas, está o galã Antonio Banderas, que volta agora no mais recente filme do cineasta, "A Pele que Habito", homenagem ao diretor francês Georges Franju.
Na virada para os anos 1990, o diretor grifaria seu estilo, com atuações fortes e cenografia de cores idem, declaradamente "kitsch" -mas que não eram em si uma questão, pois a "esquisitice" dos espaços, roupas e personagens eram perfeitamente assimiladas ao universo criado pelo cineasta.
A partir de "Carne Trêmula" (1997), Almodóvar atenua o tom carregado, mas mantém intacta a natureza intensa de seus personagens, cujos sentimentos fortes os levam às últimas consequências. Assim como o amor, a morte é outro tema permanente. Ambos são magnificamente tratados naquele que é considerado o seu filme mais maduro, "Fale com Ela" (2002).
Se a polêmica salta à frente aqui, com Almodóvar diluindo moralismos ao falar de um enfermeiro que (por amor louco e total) violenta e engravida uma paciente em coma, o principal é justamente a celebração da natureza humana.


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